Como criar cidades mais verdes, justas e prósperas? A pergunta foi debatida esta quarta-feira por autarcas e representantes governamentais de vários países ibero-americanos durante o seminário “Cidades resilientes, regeneradas e revitalizadas”, que teve lugar na Casa da América Latina, em Lisboa.
Durante o encontro, todos os participantes concordaram que os desafios ambientais e sociais das cidades passaram a ser globais e que a biodiversidade e a cultura surgem como uma oportunidade de ouro para a transformação urbana. Um desafio comum aos dois lados do Atlântico, tanto em Portugal e Espanha, onde a pressão turística se tem acentuado nas grandes cidades, como na América Latina e no Caribe, onde “mais de 80% da população já vive em cidades”, lembrou Sergio Díaz-Granados, presidente executivo do banco de desenvolvimento desta região (CAF), que organizou o evento.
Para Almudena Maíllo, Secretária-Geral da União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI) é fundamental que “as cidades se preparem, evoluam e intensifiquem o seu desenvolvimento, sem esquecerem a importância da sustentabilidade”. A responsável deu vários exemplos de municípios em busca da transformação positiva, como Madrid “que vai converter 43 quilómetros de autoestrada em espaços verdes e zonas pedonais, unindo bairros até agora separados”, mas também São Paulo, apostada “em comprar áreas verdes para englobar na própria cidade” ou Lisboa, “cujo novo plano de desenvolvimento estratégico até 2040 visa alcançar uma cidade de proximidade”.
Presente na cerimónia de encerramento, o Ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, defendeu que o “desígnio de tornar as nossas cidades mais habitáveis e sustentáveis também cabe aos governos centrais”. Nesse sentido, deu conta de várias medidas recentes nas áreas do crescimento verde e da mobilidade, como o aumento da capacidade dos transportes fluviais e terrestres, a expansão das redes de metropolitano de Lisboa e Porto ou o lançamento do passe ferroviário verde. “Iremos também melhorar as condições para o lançamento de projetos estruturantes em matéria de ação climática e transição energética, designadamente ao nível da desburocratização dos sistemas de licenciamento, da disponibilização de incentivos e de concursos públicos para o aumento da capacidade de armazenamento de energia”, acrescentou.
Turismo, cultura e soluções naturais
Qual a melhor forma de promover a revitalização das cidades, integrando os espaços verdes, a cultura e o turismo, foi um dos tópicos em discussão durante a manhã. Entre os intervenientes esteve Leonor Picão, diretora coordenadora da Direção de Recursos e Oferta do Turismo de Portugal, que sublinhou a dualidade que este setor traz às cidades: “Sabemos que o turismo contribui para a regeneração e recuperação dos espaços verdes e do património, mas também não podemos querer cidades recuperadas pelo turismo mas … sem turistas. Afinal, não deixa de ser uma atividade económica como as outras”, frisou. A oradora lembrou também a necessidade de se criarem cidades mais inteligentes e sustentáveis, com uma “gestão inteligente do território, por exemplo, em termos de bilhética ou de fruição [do espaço público], até porque a digitalização é um desafio brutal e incontornável”.
Já o presidente da Câmara Municipal da Vidigueira, Rui Raposo, relatou a experiência de um município de baixa densidade demográfica, com uma população cada vez mais envelhecida e “num território muito esquecido”. Mas que, ainda assim, garantiu o autarca, conseguiu “fixar pessoas no concelho e inverter toda aquela pirâmide geracional associada ao Alentejo, alcançando mesmo um crescimento da população, graças aos jovens que estão a criar negócios”. Rui Raposo deu o exemplo da revitalização de várias adegas ligadas ao vinho de talha, um dos símbolos da vila, agora candidato a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Outra sessão discutiu a importância da integração de soluções baseadas na natureza (SbN) e das infraestruturas azuis e verdes nas cidades. Neste contexto, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, apresentou o trabalho da autarquia na recuperação e renaturalização das ribeiras do concelho, com destaque para as duas maiores, a Ribeira das Vinhas e a Ribeira de Sassoeiros. “Este projeto permite-nos mitigar os riscos de cheias e, ao mesmo tempo, criar zonas de fruição natural para a população. Em alguns casos também possibilita a criação de corredores de mobilidade sustentável, seja de bicicleta ou a pé, que valorizam muito o combate às alterações climáticas”, explicou. “imagine-se o privilégio que é ter um autêntico parque natural a entrar por toda a zona urbana da vila de Cascais”, concluiu o autarca.