Pouparei os detalhes de uma conversa que se repete demasiadas vezes. Afinal, dizer que as cidades estão saturadas de carros privados, grandes donos do espaço público, barulhentos e intrusivos, não é novidade para ninguém. Também é certo, porém, que a rede de transportes públicos tem as suas fragilidades e que muitos não têm outra opção senão optar pela viatura própria. A bem dizer, o problema não são os carros, mas sim o seu excesso.
Conhecemos também a urgência de repensar as nossas escolhas de mobilidade para reduzir as emissões de CO2, o trânsito, e melhorar a economia do espaço urbano e a saúde pública. E que alternativas temos? Ora, além dos transportes públicos, há as trotinetes, as bicicletas e ainda os TVDE. Opções não faltam, mas teimamos em resistir-lhes, mesmo quando as vantagens são claras.
Vamos, assim, às verdades inconvenientes. A poluição atmosférica é causada, em grande parte, pelo excesso de veículos particulares. Por outro lado, a escolha da mobilidade partilhada pode reduzir significativamente as emissões de gases associados ao consumo de gasóleo e gasolina. Ainda que a adoção de veículos elétricos e híbridos plug-in a nível particular em Portugal esteja a subir e represente já 3% da frota total, de acordo com dados do Eurostat, a verdade é que o investimento por parte de plataformas de mobilidade para eletrificar as frotas tem sido bastante superior, rondando, em alguns casos, mais de 10% do total de carros em operação.
Além dos desafios para o ambiente – os mais iminentes -, é importante referir ainda que os carros próprios ocupam muito espaço, enquanto bicicletas, trotinetes e TVDE promovem uma gestão urbana mais eficiente, libertando estas áreas para outras infraestruturas. Menos carros nas ruas são também sinónimo de menos engarrafamentos, o que contribui para melhorar a qualidade de vida das populações, que tardam em chegar aos seus empregos e às suas casas.
Então, porque é que aceitamos com facilidade a circulação de centenas de milhares de automóveis, mas torcemos o nariz a tudo o resto? E se a lei não impõe limites ao número de carros, por que motivo estão os municípios a querer fazê-lo com as plataformas de mobilidade partilhada? Não parece fazer, numa primeira instância, muito sentido, a menos que nos guiemos pela velha máxima de desconfiar de tudo o que é novo.
A questão é que águas passadas não movem moinhos. Cidades modernas, muito menos. A mobilidade partilhada é um passo significativo para a evolução das cidades e limitá-la será um retrocesso, especialmente num momento em que precisamos de encontrar soluções para os problemas ambientais e de organização urbana. Ao invés de restringirem estas alternativas, os municípios deveriam incentivá-las, sejam elas de iniciativa pública ou privada. Até porque nós – as plataformas – estamos do lado das autarquias e dispostos a trabalhar com elas. Tudo em prol de um futuro melhor.
O texto acima é da responsabilidade da entidade em questão, com as devidas adaptações.