Lisboa está entre as áreas urbanas mundiais com melhores condições para aplicar o conceito de Cidade dos 15 Minutos, revela um estudo internacional publicado na revista Nature Cities. O trabalho, realizado pelos Laboratórios de Ciências Computacionais da Sony, em Roma, comparou 10 mil cidades em todo o mundo – 50 com mais detalhe -, avaliando, por exemplo, a percentagem de moradores que demora até 15 minutos para alcançar a pé ou de bicicleta uma série de serviços, como escolas, cuidados de saúde, restaurantes, cultura ou atividades ao ar livre.
De acordo com os investigadores, 88,34% dos moradores da capital portuguesa consegue fazê-lo a caminhar, o que torna a cidade a 13.ª melhor classificada neste ranking. Lisboa fica à frente de cidades como Londres (86,41%), Barcelona (85,34%) ou Atenas (85,29%), enquanto o top-3 é ocupado por Zurique (99,23%), Milão (97,32%) e Copenhaga (97,18%). O município português surge também entre os 15 melhores no caso de o percurso ser feito de bicicleta, com uma percentagem de 99,09%. Neste ponto, a cidade suíça continua em primeiro (99,59%), seguida de Turim (59.55%) e Copenhaga (59,54%).
O trabalho calculou ainda o tempo médio para aceder a estes serviços e, mais uma vez, Lisboa está bem classificada em ambos os critérios, ao ser 10.ª nas deslocações de bicicleta, com 4:27 minutos (Copenhaga é a melhor, com apenas 3:13 minutos) e 12.ª no caminho a pé, estimado em 9:44 minutos (Zurique lidera, com 5:42).
Perante estes dados, o estudo aponta Lisboa como “uma das cidades que já mostram uma distribuição de serviços homogénea e bem otimizada”, a par de Milão, Copenhaga e Paris. “Aqui, a necessidade de deslocação é mínima, o que reforça a eficácia do atual desenho urbano para tornar a cidade mais fácil de percorrer e acessível”, acrescenta o documento.
Este trabalho, que utiliza um conjunto de dados abertos (por exemplo do OpenStreetMap ou do Google Maps) revela uma grande discrepância entre as cidades europeias e dos outros continentes. Por exemplo, na cidade norte-americana de San Antonio, apenas 2,55% da população consegue chegar a pé aos mesmos serviços em 15 minutos. Já em Atlanta, o tempo médio da caminhada ultrapassa os 50 minutos, ou seja, cinco vezes mais que em Lisboa.
“Quando olhamos os resultados, ficamos surpreendidos com o quão desiguais eles são”, disse Matteo Bruno, físico dos Laboratórios de Ciência da Computação da Sony em Roma e principal autor do estudo.
10 cidades portuguesas ao detalhe
O mesmo grupo de investigadores criou uma ferramenta online que permite analisar o grau de acessibilidade a pé ou de bicicleta em cada uma das 10 mil cidades consideradas. Desta forma, tona-se possível descobrir ao detalhe quais as áreas ou bairros melhor servidos. Em Lisboa, por exemplo, constata-se que as zonas de Monsanto e do Terminal de Contentores de Xabregas estão entre as que apresentam maiores dificuldades de acesso aos diferentes serviços no espaço de 15 minutos.
Além da capital, a plataforma considera ainda mais nove cidades portuguesas e em cada uma também se pode verificar o tempo que se demora a chegar aos serviços básicos diários. Entre elas, Braga é a que revela melhores resultados, com um tempo médio de 15 minutos (min.) a pé e sete de bicicleta. Seguem-se o Porto (17 min. a pé e 9 min. de bicicleta), Faro (19 min.; 8 min.), Aveiro (23 min.; 9 min) e logo depois duas cidades – Coimbra e Póvoa de Varzim – com os mesmos resultados (26 min; 10 min). Por fim, Guimarães (29 min; 11 min.), Viana do Castelo (30 min.; 13 min.) e Viseu (30 min.; 13 min.) são as que apresentam tempos médios mais prolongados.
Recorde-se que o conceito da Cidade dos 15 Minutos foi criado e desenvolvido pelo professor de urbanismo franco-colombiano Carlos Moreno, segundo o qual os moradores de uma cidade devem ter a uma curta distância todos os serviços essenciais, como escolas, hospitais, comércio, espaços verdes, de lazer e cultura. Para isso, preconiza-se que seja possível chegar até eles (e também ao trabalho) em 15 minutos, seja a pé, de transportes públicos ou através de meios de mobilidade suave, como a bicicleta.
No estudo da Sony, os investigadores sugerem que este paradigma evolua, de forma a incluir fatores que vão além do tempo, como por exemplo, o valor criado pela oferta socioeconómica e cultural de uma cidade.
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