Um estudo realizado por investigadores portugueses e espanhóis destaca a importância da proteção e preservação dos canhões submarinos e identificou os canhões de Lisboa e de Setúbal como potenciais berçários do tubarão-azul.

O trabalho, realizado por cientistas do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente procurou analisar os padrões comportamentais dos tubarões-azuis que vivem ao largo do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha (Parque Natural da Arrábida), bem como os fatores ambientais que influenciam a espécie. Para isso, colocaram sistemas de câmaras remotas com isco, que ajudaram a analisar os hábitos dos tubarões e os efeitos do ruído provocado pelos barcos que navegam nesta zona.

No final, o estudo revelou que “na presença de ruído de embarcações, os tubarões-azuis alteraram alguns padrões comportamentais, sugerindo que pode existir um efeito oculto do ruído sobre a eficiência na procura e captura de alimento”, diz um comunicado do MARE. Os investigadores defendem, por isso, a necessidade de se realizarem mais estudos dedicados até porque, como já é sabido, o som subaquático pode levar a alterações significativas no comportamento dos peixes, aumentando, por exemplo, os níveis de stress.

Ao mesmo tempo, as observações permitiram também demonstrar que estes desfiladeiros submarinos são escolhidos pelos tubarões como zona de reprodução e de habitat nos primeiros meses de vida. “A investigação revelou que tubarões juvenis foram avistados mais frequentemente em águas menos profundas e durante a primavera, o que coincide com a época de reprodução da espécie, reforçando, assim, a enorme importância da área ao largo do Parque Natural da Arrábida, na zona do canhão de Lisboa, como potencial zona de berçário para o tubarão-azul”, explica o MARE.

Depois de analisadas 28 horas de filmagens, foram identificados 79 tubarões -azuis, mas poderão existir muitos mais na zona, até porque esta é uma espécie bastante sensível e esquiva, o que dificulta o seu estudo e observação.

O tubarão-azul é uma das espécies de tubarão mais capturadas em todo o mundo e desde 2019 que está classificado como “Quase Ameaçado” pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Em Portugal, é mesmo a espécie de tubarão mais capturada pela frota do palangre de superfície, uma pesca realizada com linhas e anzóis, destinada a grandes peixes como o atum e o espadarte, mas que frequentemente captura tubarões, atraídos pelo isco.

É por isso que os investigadores defendem a possibilidade de se delimitar a pesca à linha nestes locais, sobretudo durante a primavera, bem como o alargamento das áreas de proteção do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha.

O estudo foi publicado no final de janeiro na revista científica Marine Ecology Progress Series.

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