As alterações climáticas são responsáveis por 38% das perdas de seguros relacionadas com as condições meteorológicas nas últimas duas décadas, diz um relatório da Insure Our Future. Este grupo ativista, que representa dezenas de organizações sem fins lucrativos, estima que os prejuízos tenham ascendido a cerca de 567 milhões de euros, o que representa uma subida de 7% em 10 anos.

De acordo com o relatório, que analisou os dados de 28 grandes seguradoras mundiais, só no último ano as perdas foram de 10 mil milhões de euros. Ainda assim, um valor inferior aos 11,3 mil milhões de dólares de prémios diretos que subscreveram para clientes comerciais de combustíveis fósseis em 2023. “As provas são inegáveis”, pode ler-se no prefácio do relatório, segundo o qual “as alterações climáticas representam um risco existencial para o sector dos seguros”. Na opinião dos autores do estudo, as seguradoras estão mesmo “a escolher um caminho de destruição climática que prejudica os seus próprios resultados e a sociedade em geral”.

A Insure Our Future alerta ainda que as seguradoras têm vindo a transferir este “preço climático enorme” para os segurados, desde logo ao nível dos valores a pagar, e acrescenta que isso acabará por sobrecarregar também as economias nacionais. “As seguradoras estão a tirar partido de um clima instável para gerar lucros recorde, em detrimento dos seus clientes e em benefício dos seus acionistas”, refere Ariel Le Bourdonnec, um dos responsáveis pelo trabalho. Além disso, “algumas parecem estar a enganar o sistema, recusando-se a fornecer cobertura contra os riscos climáticos crescentes, ao mesmo tempo que alimentam o problema segurando a expansão dos combustíveis fósseis”, acrescenta o ativista.

Segundo o relatório, este crescimento da percentagem das perdas climáticas globais mostra que a descarbonização é crucial para fazer face ao aumento dos custos dos seguros. “Historicamente, o sector dos seguros tem ajudado a tornar as sociedades mais resistentes. Agora, tem de abraçar o seu poder e acelerar a transição para as energias limpas, deixar de subscrever novos projetos de combustíveis fósseis e alinhar-se rapidamente com vias de transição credíveis de 1,5°C”, escreveram os especialistas Dave Jones e Louise Pryor num prefácio conjunto.

Perante o atual cenário, “os legisladores e os reguladores têm de agir de forma decisiva”, defende a Insure Our Future, que deixa várias recomendações para o futuro. Exigir que as seguradoras desenvolvam, implementem e divulguem planos de transição alinhados com a subida de 1,5°C é a primeira delas. Segue-se a urgência de “uma análise robusta dos cenários” para ter em conta a complexidade dos eventos relacionados com o clima. A estas junta-se também, por exemplo, a necessidade de supervisionar a gestão dos riscos climáticos pelas seguradoras, “incluindo a forma como a subscrição e o investimento em combustíveis fósseis exacerbam esses riscos”, de modo a garantir a sua estabilidade e capacidade de cobertura.

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