Cerca de dois terços dos portugueses (66%) consideram que a adaptação às alterações climáticas deve ser uma prioridade, o que faz de Portugal um dos países da União Europeia que mais o defende, diz um inquérito realizado pelo Banco Europeu de Investimento (BEI). De acordo com o estudo, apenas os dinamarqueses (68%) e os italianos (67%) revelam uma percentagem maior, enquanto a média da União Europeia (UE) não ultrapassa os 50%.
Esta 7.ª edição do inquérito anual do BEI mostra ainda que quase todos os portugueses, 99%, apoiam medidas para combater as alterações climáticas, de novo um valor superior à média europeia, 94%. Embora os portugueses afirmem ter maiores preocupações, este tema não deixa de estar entre os principais desafios que identificam, “a par da instabilidade política e a seguir ao aumento do custo de vida, ao acesso aos cuidados de saúde, à migração em grande escala e ao desemprego”, indica um comunicado da instituição europeia.
Para uma grande maioria, 95%, a aposta na adaptação às alterações climáticas também pode ajudar a criar emprego e a estimular a economia local, exatamente a mesma percentagem que considera que tal deve ser feito de imediato “para evitar custos mais elevados no futuro”. Já a média europeia é de 85% no primeiro caso e de 86% no segundo.
“As pessoas sabem que temos de agir agora para nos adaptarmos e atenuarmos os efeitos das alterações climáticas, mas uma transição bem planeada é também a que faz mais sentido do ponto de vista económico. Cada euro investido na prevenção e na resiliência permite poupar entre cinco e sete euros na reparação dos danos”, disse a presidente do BEI, Nadia Calviño.
E quem deve financiar os custos da adaptação climática? A pergunta promete dividir opiniões na COP29 que está a decorrer em Baku, no Azerbaijão, e o mesmo parece acontecer com os portugueses. Para 49%, os custos devem ser suportados pelas empresas e indústrias que contribuem para o atual cenário, enquanto um terço diz que que “todos devem pagar o mesmo”. Apenas 8% concordam que as pessoas mais ricas devem contribuir com uma parte significativa, através de mais impostos.
O comunicado do BEI destaca ainda o facto de 86% dos portugueses afirmaram que, nos últimos cinco anos, foram afetados por, pelo menos, um fenómeno climático extremo. Já 71% relatam ter sofrido pelo menos uma consequência direta desse tipo de evento. “Mais especificamente, 63% (oito pontos acima da média da UE) foram atingidos por calor extremo e ondas de calor, 48% (27 pontos acima da média da UE) enfrentaram incêndios florestais e 43% (oito pontos acima da média da UE) foram afetados por secas”, refere ainda o comunicado.
Por sua vez, 77% dos portugueses (72% na UE) admitem que terão de mudar e adaptar o seu estilo de vida devido às alterações climáticas, enquanto 37% acreditam que terão de mudar-se para um local menos vulnerável ao clima. Cerca de 30% consideram que essa mudança deverá ser para uma região ou um país com temperaturas menos elevadas.
Por fim, 52% entendem que a adaptação deve passar, sobretudo, por uma maior educação dos cidadãos. Já 38% consideram prioritário apostar no arrefecimento das cidades e 37% enumeram a melhoria das infraestruturas.
O inquérito anual do Banco Europeu de Investimento reuniu opiniões de mais de 24 mil cidadãos da União Europeia e dos Estados Unidos. Em Portugal, foram questionadas 1.009 pessoas.
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