Conectividade automóvel e condução inteligente foram alguns dos assuntos que deram forma à 4ª edição do Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente, que teve lugar esta quarta-feira, em Lisboa. Numa antevisão do que são os carros do futuro, os especialistas concluíram que, ao equipá-los com câmaras e sensores, estes produzirão dados que podem servir para melhorar a circulação na cidade. Para além disso, ao integrar estes dados num “ecossistema mais conectado”, numa relação de troca de informações entre os sistemas de controlo de tráfego das cidades e os automóveis, pode conseguir-se “um benefício real para a cidade”.

“Num centro de uma cidade, a quantidade de tempo desperdiçado a conduzir à procura de estacionamento é enorme. Todos esses carros também estão a causar trânsito e a causar disrupção na circulação”, afirmou Gareth Dunsmore, vice-presidente de comunicação de marketing, experiência do cliente e serviços de automóveis conectados da construtora de automóveis japonesa, numa conversa exclusiva com a Smart Cities. É na conectividade automóvel e na partilha dos dados recolhidos pelos veículos de quatro rodas a motor que Dunsmore vê a resposta para vários desafios da mobilidade urbana.

Na mudança para o carro eléctrico, o especialista aponta a possibilidade de “não só reduzir, mas quase anular” os efeitos da presença automóvel nas cidades ao nível da poluição atmosférica, mas encontra também outras vantagens na conectividade entre automóveis e as próprias cidades. “Se pudermos acrescentar valor aos clientes através da conectividade, um dia, podemos começar a utilizar os dados do carro para os ligar a sistemas de controlo de tráfego, para termos uma melhor circulação geral dentro na cidade”, afirma.

A partilha de informação entre carros e sistemas de controlo de tráfego das cidades representa, para o responsável da Nissan, o potencial de diminuir o congestionamento automóvel, podendo ajudar os condutores a “encontrar estacionamento de maneira mais fácil e simples”, informando “onde há lugares livres”. O problema do congestionamento associado à procura de estacionamento é uma realidade das cidades, constata.

Questionado sobre a implementação de medidas de restrição à circulação automóvel dentro das cidades, como a Zona de Emissões Reduzidas anunciada para Lisboa, que visa a retirada do centro histórico da cidade de 40 mil automóveis por dia e a devolução ao usufruto público de uma área de 4,6 hectares, Gareth Dunsmore considera que não se trata de uma questão de “proibir toda a gente de ir até aos centros das cidades”, mas de “fazer tudo funcionar de uma forma melhor”. Para os utilizadores de automóvel, vê na conectividade e na utilização de dados o potencial de auxiliar na escolha da melhor opção de mobilidade. Um automóvel inteligente e conectado pode ajudar a “compreender se será mais fácil e rápido levar o carro até uma estação de autocarros, ou até uma estação de comboios e, a partir daí, apanhar um transporte colectivo, ou se será mais fácil simplesmente conduzir e estacionar”.

Segundo Gareth Dunsmore, é necessária “uma mistura de soluções para criar um sistema de transporte e mobilidade homogéneo nos centros das cidades”. O porta-voz acredita que, apesar do crescimento dos sistemas de car sharing, “a propriedade automóvel vai continuar”. Nessa matéria, sabe que não existe uma solução “tamanho único” e que a posse de um automóvel não é “o que era há 20 anos”. Hoje, tem filhos e diz “precisar” do seu próprio carro – “É o meu carro agora, preciso que seja o meu carro, tenho todos os livros para os meus filhos poderem ler a caminho da escola, faz parte da minha vida e devia poder ter isso” –, mas reconhece que “é uma escolha” e que, se fosse “há dez anos”, optaria por um utilizar um carro em regime de partilha. “Adoraria ter acesso a um carro uma ou duas vezes por semana, ir de bicicleta para o trabalho na maioria das vezes, utilizar o comboio as restantes, mas, de vez em quando, ir para o campo ou para a costa no meu carro”, conta.

Sobre a condução autónoma, o caminho é feito “passo a passo”, refere. Primeiro, com a introdução de “funcionalidades para melhorar a segurança e o conforto dos nossos clientes”. E exemplifica: “o carro a parar automaticamente se encontrar algum obstáculo à sua frente, o carro a acelerar para entrar no trânsito quando está parado, ter o controlo na via”. De seguida, vêm outras funcionalidades, permitindo, por exemplo, “ultrapassagens num ambiente de auto-estrada, controlo em cruzamentos, e vão adicionando-se outras. Mas, em dado momento, o nível de interacção chega a um tal ponto que não precisa de inteligência humana por detrás, certamente num horizonte em que ainda estaremos a conduzir veículos, nos próximos dez anos ou assim. Isso para mim é muito entusiasmante, ter o melhor dos dois mundos”. Todavia,  Dunsmore esclarece a posição da marca: “não acreditamos em tirar ao condutor o controlo”.

Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente

Depois de, em 2019, se ter focado na mobilidade eléctrica e nas suas potencialidades para a auto-produção de energia eléctrica e o respectivo armazenamento, a 4ª edição do Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente teve lugar, esta quarta-feira, no Capitólio, em Lisboa, e versou sobre os desafios da condução autónoma, a inteligência energética e a conectividade e integração inteligentes.

O evento, patrocinado pela construtora de automóveis nipónica, contou com abertura de Antonio Melica, director-geral da Nissan Portugal, e com a presença do director de tecnologia da Nissan e responsável pelo laboratório de inovação da marca, em Silicon Valley, nos Estados Unidos da América, Maarten Sierhuis. Na apresentação deste último, sobre condução autónoma, o discurso incidiu sobre a “autonomia socialmente aceitável”, num contexto de circulação urbana marcado pelas interacções humanas. O director da fabricante automóvel revelou a importância da “percepção humana” no apoio à condução autónoma, tendo mostrado à plateia que esta tecnologia ainda não dá resposta a “situações de excepção”, que caracterizaram, num teste de três horas realizado em condições reais na cidade norte-americana de São Francisco, 10% do tempo de circulação.

Na discussão sobre condução inteligente, participaram Antonio Melica, da Nissan, o administrador da ADENE, Manuel Bóia, o responsável pela eCooltra em Portugal, Paulo Martins, a surfista profissional Michelle des Bouilons e Nuno Brito, consultor para a mobilidade eléctrica da LeasePlan. Participaram, também, no fórum, representantes da Galp Energia, da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), da Associação Portuguesa de Empresas do Sector Fotovoltaico (APESF), da rede nacional de carregamentos eléctricos Mobi.e da empresa de crédito Cetelem.

Por parte da Nissan, intervieram ainda Yannick Raffin, responsável pela estratégia de zero emissões e infra-estruturas da marca, e Marco Fioravanti, vice-presidente de planeamento de produto. Na sua intervenção, este sublinhou o posicionamento da marca japonesa como uma empresa de mobilidade, tendo afirmado que a marca investirá noutros modos de transporte “se o cliente quiser abandonar o automóvel”.