Cascais prepara-se para revolucionar a mobilidade urbana nacional. MobiCascais é o novo projecto do município que vai integrar soluções de estacionamento, transportes públicos (comboios e autocarros) e bicicletas inteligentes. A iniciativa foi apresentada esta manhã, no Estoril, e pretende, acima de tudo, “democratizar e massificar a mobilidade suave”. A partir de Agosto já vai ser possível experimentar a novidade.

Numa parceria com o Ceiia – Centro de Engenharia e Investigação da Indústria Automóvel, Cascais vai disponibilizar aos seus munícipes uma solução de mobilidade integrada, cuja informação estará acessível através de uma aplicação para smartphone, a um preço acessível. Através de um cartão ID e da aquisição de um passe multimodal que custará 20 euros mensais, os cascalenses poderão utilizar os autocarros e as bicicletas partilhadas do concelho e ainda os espaços de estacionamento fora das zonas vermelhas.

1200 novas bicicletas, algumas das quais eléctricas, com tecnologia e fabrico nacional, vão juntar-se à frota das já famosas Bicas, esperando-se que, em Setembro, as primeiras 217 comecem a rodar em Cascais. A implementação do sistema de bike sharing deverá estar concluída em Dezembro de 2017, altura em que serão 2000 os lugares disponíveis nas docas. E porquê mais lugares do que bicicletas? Porque os munícipes poderão optar por usar as suas próprias bicicletas e “estacioná-las” nas docas universais do MobiCascais, usando os cadeados disponíveis nesses equipamentos. Segurança não será um problema, promete a autarquia, já que os munícipes receberão alarmes em caso de vandalismo, através da aplicação. Esta incluirá várias informações, tais como os horários de transportes, localização das estações, das docas das bicicletas e dos parques de estacionamento, do número de bicas disponíveis em cada doca.

As bicicletas disponíveis terão ainda mais particularidades. São inteligentes e isto quer dizer que, para além de um sistema de georreferenciação e dos avisos de vandalismo e maus tratos, vão poder também recolher informação sobre o estado do piso por onde circulam, permitindo à autarquia estar a par das necessidades de intervenção.

Com vista à democratização da mobilidade, a iniciativa tem também como objectivo acabar com as diferenças entre a “costa do sol” e a “costa da sombra”, ou, como quem diz, entre o interior e o litoral do concelho. Nesse sentido, a câmara municipal vai levar estas infra-estruturas também às freguesias de Alcabideche e de São Domingos de Rana e promete ligar o interior ao litoral. Para isso, 12 novos autocarros eléctricos estão na lista de aquisições do município.

Para assegurar a ligação entre os vários modos disponíveis – parques de estacionamento, docas para as bicicletas, terminais de autocarros e as estações de comboio –, tiveram de ser criadas novas rotas para os transportes públicos, que complementam as já existentes. Até 2017, o concelho vai contar com 70 quilómetros de ciclovias (actualmente, são 20 quilómetros).

Também os surfistas vão ter direito a novidades. A CM Cascais vai lançar o SURF Bus, um autocarro que faz toda a linha da costa, de Carcavelos ao Guincho, e que está equipado para receber e transportar todo o material destes desportistas.

Para pagar tudo isto, a CM Cascais encontrou duas soluções, explicou o vice-presidente, Miguel Pinto Luz. “No caso das bicicletas, o investimento está a ser feito através do contrato que temos com a JCDecaux, o que já aconteceu noutras cidades europeias, e da penalização positiva de quem traz mais tráfego para o concelho. Ou seja, estamos a pedir aos promotores imobiliários que querem construir mais em Cascais que sejam eles contribuintes líquidos para o sistema das bicicletas. Estes têm de partilhar o risco connosco. O investimento próprio da CMC nas bicicletas é nulo. É com os operadores e parceiros que estamos a investir no sistema. Nos autocarros já não é assim, esse investimento é feito única e exclusivamente com as receitas que estamos a obter do estacionamento”, explicou.

Dados os primeiros passos para a implementação do MobiCascais, é preciso agora mobilizar os utilizadores. “Esse é o desafio”, exclamou Miguel Pinto Luz, “nós criámos o processo, agora é preciso mudar mentalidades para que as pessoas adiram de facto”. Para conseguir isso, a aposta da autarquia vai centrar-se nas escolas e nas universidades, facilitando a aquisição de bicicletas aos mais jovens. Entre as intenções da câmara municipal está também juntar os diversos operadores na área dos transportes na mesma plataforma e integrar iniciativas com os restantes municípios. “É legítimo que cada um escolha o seu sistema, mas não é legitimo que não falem entre si. Temos falado com os municípios de Oeiras e de Lisboa, a integração é absolutamente fundamental”, revelou o governante.

Para Carlos Carreiras, presidente da CM Cascais, há, neste processo, um outro aspecto que não pode ser deixado de lado: “É urgente olhar-se para a linha de Cascais [comboio]. Temos soluções e estamos em sintonia com a CM Lisboa, mas precisamos de definição e acção do Governo”, apelou. Sobre o tema, José Mendes, secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, também presente, adiantou aos jornalistas que o assunto é “reconhecido” e que esta é uma intervenção que está prevista no Plano Nacional de Reformas.

“Este é um trabalho conjunto, entre o Ceiia e a CM Cascais, no sentido de mudar o paradigma da mobilidade”, referiu Vladimiro Feliz. Para o CIO do Ceiia, a escolha do centro enquanto parceiro da vila é uma “prova de reconhecimento e de responsabilidade” do trabalho que tem vindo a fazer e que tem o seu maior expoente no MOBI-ME, “um sistema integrador e de produção de inteligência para a mobilidade urbana que junta todos os verticais de mobilidade de um território, para criar um ambiente transparente e fácil, para que cidadão com um único meio de autenticação possa interagir com esse sistema”.