A biodiversidade tem sofrido um declínio um pouco por toda a Europa devido a múltiplas pressões, tais como a intensificação agrícola, a inadequada gestão florestal, e a artificialização do solo, ligada à urbanização e à implantação de infra-estruturas, situação que tem um impacto negativo nas contas de países que se estima ser de 3% do PIB – o que equivale a cerca de 450 biliões de euros anuais.

Com cada vez mais cidadãos a viver em cidades, o que na Europa representa já cerca de 80% da população, os espaços verdes das áreas urbanas e periurbanas são vitais para assegurar uma boa qualidade de vida às comunidades locais e, por muito paradoxal que possa parecer, proporcionar refúgio para algumas espécies pressionadas por uma agricultura intensiva, uma floresta cada vez mais substituída por plantações industriais e um território cada vez mais fragmentado por linhas de transporte de energia e vias de comunicação.

Neste contexto, os cidadãos devem incentivar os decisores políticos a nível local a promoverem uma gestão dos espaços verdes urbanos que favoreça a interligação com áreas periurbanas e o incremento da diversidade biológica, disponibilizando habitats para a vida selvagem, e para tal fica aqui a sugestão de um conjunto de ferramentas:

  • Abandonar o uso de pesticidas e dos fertilizantes artificiais – são conhecidos os efeitos perturbadores que a sua utilização tem nos ecossistemas, designadamente na perda de fertilidade do solo e no incremento dos riscos para o ambiente e para a saúde;
  • Reciclar os resíduos da gestão dos espaços verdes – o encaminhamento para aterro de resíduos é dispendioso e energeticamente ineficiente, pelo que existem soluções mais adequadas como o destroçamento, a sua utilização como mulch e a compostagem no local;
  • Manter o solo vivo – o solo é mesmo um ecossistema vivo, pois está cheio de bactérias, fungos, algas e de muitas outras criaturas, algumas que já conhecemos, como as minhocas. Para além disso, 99% da nossa alimentação tem origem no solo e este ecossistema é decisivo para vir a armazenar uma parte significativa do carbono que estamos diariamente a enviar para a atmosfera;
  • Utilizar espécies autóctones em detrimento de exóticas – se queremos favorecer a biodiversidade e os corredores ecológicos no interior das cidades a opção será instalar herbáceas, arbustos e árvores autóctones, que são também as espécies que estão mais adaptadas ao nosso clima, são as favorecem o controle biológico e atraem os polinizadores, e também as exigem menor atenção e menores necessidades de rega no períodos mais críticos;
  • Incentivar iniciativas dos cidadãos – actividades como a criação de charcos, o reaproveitamento das águas pluviais, a plantação de sebes que favoreçam as aves e os polinizadores, a instalação ‘hotéis’ para polinizadores, a colocação de caixas-ninho para aves e morcegos, a criação de espirais de ervas aromáticas, a criação de hortas comunitárias sem uso de pesticidas e fertilizantes artificiais, ou a promoção da compostagem e da vermicompostagem domésticas para promover o retorno dos nutrientes aos solos carenciados, são exemplos de algumas coisas simples que podem ser realizadas por cada um de nós para partilharmos melhor o espaço com as outras espécies.

 

A publicação deste artigo faz parte de uma colaboração entre a revista Smart Cities e a Associação ZERO.