Portugal está entre os três maiores produtores de bicicletas da Europa, no entanto, estas duas rodas não são a escolha de eleição dos portugueses para se deslocarem. Pelo menos, por enquanto. O Compromisso pela Bicicleta (CPB), lançado publicamente ontem, na Murtosa, quer mudar esta realidade, e, para isso, está a juntar entidades dos diversos sectores na adopção e promoção de um meio de deslocação mais sustentável e saudável.
Até agora, mais de 100 organizações aderiram ao compromisso, entre elas 15 autarquias, uma comunidade intermunicipal, 46 empresas, sete instituições de ensino, 13 organizações do terceiro sector, oito organizações informais e 12 parceiros e apoiantes. E o que se pretende com este compromisso, concretamente? Uma das propostas é a de aumentar em 10% a taxa de utilização de bicicleta em movimentos pendulares, que é actualmente de 0,05%. Simultaneamente, reduzir em 10% o número de deslocações em veículo individual (cuja percentagem está nos 60%). Em resultado, uma maior adopção da bicicleta permitirá reduzir sinistralidade rodoviária, estimular estilos de vida saudáveis e combater a obesidade, reduzir as emissões e a dependência energética dos combustíveis fósseis e qualificar e humanizar o espaço público das cidades. Por último, tudo isto vai incentivar a aquisição de bicicletas e, assim, estimular a produção nacional.
A iniciativa, coordenada pela Universidade de Aveiro, quer aproveitar o actual momento favorável à adopção de meios de mobilidade suave, nos quais a bicicleta se destaca. “O ano de 2016 pode vir a ser um ano decisivo para a bicicleta em Portugal”, lê-se no portal do CPB, “o tema da mobilidade em bicicleta tem vindo a ganhar um crescente destaque na Europa, quer pelo impacto dos investimentos públicos realizados nas grandes cidades, quer pelo reconhecimento pela Comissão Europeia da importância da bicicleta como um modo de transporte e como um contributo para o crescimento económico”. No caso português em particular, o uso bicicleta tem sido também motivo de várias iniciativas, nomeadamente o programa UBike, que disponibiliza 5,5 milhões de euros para estimular o uso deste meio de deslocação nas comunidades do ensino superior, ou as linhas de acção para a mobilidade urbana sustentável prevista nos Programas Estratégicos de Desenvolvimento Urbano (PEDU).
A primazia dada ao uso do automóvel é um dos principais obstáculos ao uso da bicicleta nas cidades, considera a MUBi – Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta. “A maior parte da superfície do espaço público nas nossas cidades está alocada ao automóvel, situação que se agudiza nas áreas periurbanas, onde o espaço pedonal nem chega a ser formalizado. Este desequilíbrio na repartição espacial tem elevadas consequências não só na qualidade ambiental dos espaços urbanos, mas também para a própria qualidade de vida das populações”, argumenta. Para inverter a situação, seriam necessárias “medidas que passem por acalmia de tráfego e que deixem de dar prioridade ao automóvel nas políticas públicas de mobilidade, como, por exemplo, uma repartição do espaço público, são muito mais favoráveis a modos de transporte mais sustentáveis”, defende a MUBi.
A favor do uso da bicicleta os argumentos são vários, desde o “tempo precioso” à saúde e qualidade de vida, enumera José Carlos Mota, especialista da Universidade de Aveiro e um dos responsáveis pelo CPB. Mas porque razão os portugueses ainda hesitam? “Não é prático, temos muitas deslocações e de longa distância. Temos de reorganizar a sociedade e o território”, explica prontamente e, para isso, “o primeiro passo é reduzir o número de automóveis, o número de deslocações e os limites de velocidade de circulação”, defende.
Convencer os portugueses é, por isso, a missão do CPB, dirigindo-se, em particular, às autarquias, comunidades intermunicipais e áreas metropolitanas, universidades, organizações da administração pública, empresas e organizações do terceiro sector . A iniciativa conta com o apoio de instituições como a ABIMOTA, Federação Portuguesa do Ciclismo, Federação Portuguesa do Cicloturismo e Utilizadores da Bicicleta, MUBI e CICLAVEIRO.