Convido-vos a refletir sobre o conceito de interdependência. Através da sua origem etimológica – inter + dependência –, chegamos facilmente ao seu significado lato: relação de dependência entre sujeitos ou entre coisas.
Analisando os significados de cidade – meio geográfico caracterizado por uma forte concentração populacional – e de comunidade – conjunto de pessoas que vive num determinado território –, torna-se natural a aplicação do conceito de interdependência entre estas duas realidades. Por este prisma, arriscar-nos-íamos a afirmar que onde há comunidade haverá cidade (abstraindo-nos obviamente do valor de densidade populacional, necessário para a classificação de cidade) e onde há cidade terá de existir comunidade.
Contudo, a “forte concentração populacional” a que nos referimos não se traduz necessariamente em comunidade. Uma comunidade é, por um lado, caracterizada pela intimidade e pela criação de laços, determinando o tipo de relações com valor singular e que não dependente de fatores externos, sendo, por isso, duráveis e persistentes no tempo. Por outro, numa sociedade (também ela uma “forte concentração populacional”), predominam relações motivadas por interesses exteriores, que se dão de forma racional, mutáveis e não duráveis.
“As pessoas são a chave para a definição da “cidade”, influenciando profundamente a sua condição: construída ou vivida”.
“E em que é que isto influencia a cidade?”. Mais importante do que a interação entre o cidadão e o espaço público, a forma como os cidadãos se relacionam é fundamental para a dinâmica de uma cidade. Quando predominam relações individuais, tão características das sociedades contemporâneas, deparamo-nos com cidades feitas de “não-lugares”, ou seja, espaços construídos (como praças, ruas e parques) meramente utilitários. Já quando predominam relações de sociabilidade, resultado da existência de comunidades, presenciamos uma cidade constituída por lugares de valor antropológico, espaços vividos e atrativos. As pessoas são a chave para a definição da “cidade”, influenciando profundamente a sua condição: construída ou vivida.
Neste sentido, torna-se essencial repensar as cidades de hoje – que, desencorajam relações de proximidade, afastando-nos e individualizando-nos – idealizando as cidades de amanhã – mais vivas, mais comuns, atraentes e inspiradoras.
É neste domínio que surge a expressão e o significado da “revitalização urbana”. Revitalizar os tecidos urbanos passa por estimular a sua vivência, criando-se o contexto, mais do que ideal, real e operativo para a recriação dos valores da vida em comunidade. Não desvalorizando a influência óbvia do projeto/desenho do urbano nos nossos comportamentos (afinal de contas, somos seres vivos e, como tal, reagimos e respondemos aos estímulos e aos níveis de conforto resultantes), é possível inverter a situação, recriando novas energias e estímulos, a NOSSA energia e os NOSSOS estímulos.
Somos nós, como moradores, agentes económicos e cidadãos, que podemos tornar-nos os impulsionadores e os criadores de novas cidades e realidades urbanas, mais vibrantes, mais atrativas e mais inspiradoras dos seus utilizadores.
Se os conceitos de cidade e comunidade são interdependentes devemos deixar de esperar que as cidades criem comunidades. Devemos sim, CRIAR COMUNIDADES PARA (inevitavelmente) CRIAR CIDADES!
#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.