As cidades portuguesas estão, com muito esforço, a começar a mudar a sua face visível, mas muitas são as que não aprendem com os erros e os tentam reverter.

Em Aveiro, corre uma teimosia política – vá-se lá saber porquê – de construir um parque subterrâneo numa zona nobre da cidade. E insiste-se no erro, mesmo tendo a população a participar, ativamente, contra o projeto que prevê a construção de mais um parque subterrâneo. Mesmo com todos os erros que correm neste país, insiste-se num projeto que vai custar caro a todos. E esta teimosia política vê-se ao longo do país.

Podiam aprender com os erros. Ora, vejamos: em Lisboa, as pessoas estão a insurgir-se contra a instalação de contentores no Martim Moniz, privando-as de usufruírem do espaço público. Temos o Túnel do Marquês, inaugurado em 2007 e apontado por muitos como um erro de estratégia de cidade, é hoje identificado como o local mais poluído de Portugal (10 vezes mais poluição do que o legalmente permitido). O custo direto foram 27 milhões para enterrar os carros ao longo de 1725 metros. O custo indireto será muito maior, uma vez que, dentro do túnel, se respira uma mistura de fragmentos altamente perigosos para a saúde pública e que provoca doenças cancerígenas.

Em Braga, temos o Túnel da Avenida, inaugurado em 1997, prolongado em 2008, com três parques de estacionamento subterrâneos concessionados à BragaParques, acoplados ao mesmo, e que esventra o centro da cidade ao longo de 1040 metros. Milhões de euros para enterrar os automóveis, levando a poluição para a zona pedonal por cima do túnel, aquecendo toda aquela zona central da cidade. Se para o coração da cidade é assim, para atravessar a cidade não é diferente. Ruas com seis a oito vias de trânsito, construídas numa altura em que praticamente não havia carros, e que, depois, viram ser acrescentados túneis e viadutos nos cruzamentos e rotundas para que o carro não tivesse de parar.

“Está na hora de não fazer mais parques subterrâneos, de tapar os túneis, deitar abaixo os viadutos, reduzir as velocidades, colocar semáforos, reduzir o volume de carros nas cidades para o mínimo necessário e induzir as pessoas a utilizarem mais a bicicleta e mais os transportes públicos, deixando o carro para as viagens mais longas”.

Há um claro e intenso convite ao uso do automóvel, isto porque os parques de estacionamento estão ali colocados, com 2160 lugares. Para usar o transporte público, é preciso percorrer 1000 metros a pé, só para mudar o sentido; para andar de bicicleta, é preciso coragem e rezar para não apanhar nenhum maluco na estrada.

E, para juntar a isto tudo, a cidade de Braga – com 11 freguesias e cerca de 120 mil residentes – tem para cima de 50 mil lugares de estacionamento automóvel (fora as garagens dos prédios privados)! Só na via pública são cerca de 27 mil! Apenas cerca de 3% são pagos. Espaço público gratuito para estacionar o carro. A que leva isto? Mais carros na cidade. Então e se eu quiser montar uma esplanada, vender alguma coisa no espaço público, ou colocar publicidade, é gratuito também? Não. Se se taxam coisas que beneficiam a cidade (uma esplanada beneficia uma cidade!), porquê que não se taxa um bem privado (carro) que ocupa espaço público, que está parado 90% do seu tempo e que se sabe que prejudica a cidade em 16 cêntimos por km percorrido?!

Ainda assim, também em Braga, se insiste numa ideia antiquada, errada e contrária ao que se defende para a mobilidade, de se prolongar um túnel numa zona inundável e onde um rio corre por baixo. Também se defende a ideia de que construir mais estradas vai reduzir o trânsito – nada mais errado! Mais estradas aumentam o trânsito automóvel! É um factor indutor! Foi assim que fez Santos da Cunha, construiu estradas com muito espaço para o carro apenas para aliciar as pessoas a comprarem e utilizarem mais o carro.

Tudo isto induz as pessoas a utilizarem mais e mais o carro. Está na hora de não fazer mais parques subterrâneos, de tapar os túneis, deitar abaixo os viadutos, reduzir as velocidades, colocar semáforos, reduzir o volume de carros nas cidades para o mínimo necessário e induzir as pessoas a utilizarem mais a bicicleta e mais os transportes públicos, deixando o carro para as viagens mais longas. O maior problema não está no tipo de combustível utilizado no carro, está nos metros e no tempo de ocupação da via pública que este tem.

Está na altura de a democracia ser participativa e de devolver, verdadeiramente, as cidades às pessoas. Está na altura de os políticos se rodearem de pessoas verdadeiramente capazes e que acrescentem valor. Está na altura de darmos um passo em frente e recuperarmos tempo e caminho perdido.

#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.