A ZERO quer acabar com as incinerações desnecessárias de resíduos urbanos indiferenciados e aumentar a taxa de reciclagem na ilha de São Miguel, nos Açores. Para isso, propõe a instalação de uma unidade de Tratamento Mecânico e Biológico (TMB). Como resultado, a associação prevê a criação de 20 postos de trabalho, a reciclagem de 30 mil toneladas de resíduos (50% do total de resíduos que entra no TMB) e a produção de praticamente a mesma quantidade de energia do que a prevista pelo projecto original de incineração e evitar a emissão anual de 6 mil toneladas de CO2, o que representa, aproximadamente, uma redução para metade das emissões totais decorrentes da incineração de resíduos urbanos indiferenciados.

Com esta proposta, a ZERO apresenta uma alternativa ao actual projecto de incineração previsto para a ilha e, em comunicado, “lamenta profundamente que, até ao momento, não tenha havido visão política e técnica para tomar as medidas adequadas para a gestão dos resíduos”.

O objectivo da proposta apresentada pela associação passa por reduzir “para metade a capacidade de incineração”, enumerando várias vantagens, entre as quais a redução no custo de investimento em 20 milhões de euros em relação à opção menos amiga do ambiente. Enquanto “um incinerador para 70 mil toneladas custa 65 milhões de euros, um sistema com um TMB para 60 mil toneladas seguido de um incinerador para 35 mil toneladas custa apenas 45 milhões de euros”. E, mesmo assim, é possível produzir praticamente a mesma quantidade de energia em relação àquela prevista pelo projecto de incineração original (30 MWh/ano). Através de um processo de digestão anaeróbia dos resíduos do TMB, em conjunto com o processo de incineração dos resíduos rejeitados pela unidade de Tratamento Mecânico e Biológico (30 mil toneladas), seria possível gerar cerca de 29 MWh/ano. Para além disto, a unidade de TMB gera biogás, uma fonte de energia renovável.

Segundo a associação, “não faz sentido enviar para incineração pneus, óleos vegetais ou resíduos de serração”, dado que existem “outros destinos mais económicos e amigos do ambiente”. A iniciativa da ZERO também apresenta como propósito a promoção da reciclagem e a consciencialização para a separação do lixo, através da introdução de um sistema de recolha selectiva porta-a-porta e através do sistema PAYT (Pay As You Throw), em que só seja pago o tratamento dos resíduos não separados. Os casos da Ilha Terceira e da Madeira são ilustrados como exemplos a evitar, já que os seus incineradores “têm uma capacidade superior à necessária e, por isso, são um entrave à prevenção da produção de resíduos e à reciclagem”.

O TMB é uma solução tecnológica, através da qual os resíduos urbanos indiferenciados sofrem inicialmente um tratamento mecânico que os separa em três fracções (orgânicos, recicláveis e rejeitados). Os resíduos recicláveis são encaminhados para reciclagem, os orgânicos para tratamento biológico do qual resulta composto e biogás (fonte de energia renovável), enquanto que os rejeitados podem ser encaminhados para incineração. Esta solução permite reciclar cerca de 50% dos resíduos processados. Em Portugal, existem cerca de 20 unidades de TMB, incluindo algumas nos Açores.

A proposta de tratamento para as 60 mil toneladas anuais de resíduos urbanos indiferenciados, produzidos pela ilha de São Miguel, foi enviada a vários órgãos de soberania e entidades oficiais no passado dia 20 de Dezembro.