No âmbito da conferência anual promovida pela Smart Waste Portugal e pela Fundação de Serralves, vários especialistas apontaram os caminhos da transição para uma economia circular. A partir do exemplo de Amesterdão, a inovação foi abordada como um dos fatores fundamentais para a criação de cidades mais sustentáveis, em linha com os objetivos para a circularidade. 

A conferência reuniu agentes políticos, especialistas e vários agentes de mudança com o objetivo comum de debater a importância da regeneração, “princípio fundamental” para a economia circular. Para além dos desafios, foram apontados vários exemplos, entre eles o caso de Amesterdão, que quer ser a primeira cidade 100% circular em 2050. 

A Circle Economy, organização internacional que quer duplicar a circularidade global até 2032, define uma cidade circular como “um sistema onde o valor e a utilidade das infraestruturas, produtos, compunentes e materiais são mantidos por um período o mais longo possível” e aponta um fator chave. “Amesterdão tem a sorte de contar com muitos recursos, mas também há muita inovação. As pessoas, indústrias, universidades, empresas e o setor privado estão dispostos a colocar essa inovação na agenda da circularidade”, explica Tanya Jiménez, da Circle Economy.

A especialista em estratégia das cidades vai mais longe e aponta os três caminhos para a criação de cidades circulares e mais sustentáveis. Para além da reutilização dos resíduos e da importância da energia e mobilidade sustentável, refere a importância do ambiente construído. “O ambiente construído tem provado ser um dos setores mais impactantes devido à quantidade de recursos que consome. As nossas casas, escritórios, lugares de lazer vão permanecer durante mais de 70 anos.Temos que ser muito cuidadosos com essas decisões”, afirma Tanya Jiménez.

Durante a conferência, que decorreu no Museu de Serralves, no Porto, foram lançados vários alertas vermelhos pelos especialistas. Se por um lado a população duplicou a nível mundial, nos últimos 50 anos, também se sabe que 68% dessa população global vive em cidades. O problema é complexo e, segundo a Smart Waste Portugal, deve ser acolhido pelos vários agentes de mudança. 

“Este é um trabalho muito difícil de ser feito porque se traduz numa mudança de hábitos, traduz-se numa mudança de processos industriais, de produção, e só com os agentes é que conseguimos mudar. Já percebemos todos, ao fim destes anos, que não vai lá pela via de aumentar taxas, não vai lá pela via da proibição, vai lá se os operadores que estão no terreno perceberem que esta é uma forma de melhor a sua atividade e serem competitivos”, afirma Aires Pereira, Presidente da Direção da Smart Waste Portugal. 

A associação, no âmbito do seminário que decorreu esta terça-feira, anunciou o lançamento de uma nova plataforma online, um marketplace de resíduos, que promete valorizar os recursos e dar-lhes uma nova vida. “Estamos agora a promover uma nova plataforma online, a plataforma MyWaste, para digitalizar o nosso trabalho e promover a valorização dos recursos e dar-lhes uma nova vida”, afirma Luísa Magalhães, engenheira da Smart Waste Portugal. 

A plataforma já está disponível para o público em geral e vai permitir, de forma gratuita, que os operadores de gestão de resíduos possam dar uma nova vida aos resíduos que podem ser reutilizados por outras indústrias.

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