Seis artistas plásticos estiveram na aldeia do Sabugueiro, na Serra da Estrela, onde interpretaram a presença da água na paisagem e refletiram sobre este recurso natural. A residência artística “O Estado da Água” começou em 2023 e resultou numa exposição, patente no festival CineEco até final de novembro.
Eunice Artur, Iana Ferreira, Inês Teles, Joana Patrão, Jorge Leal e Thierry Ferreira são os seis artistas que rumaram ao Sabugueiro para refletir sobre os três estados da água:líquido, gasoso e sólido. O resultado foram seis propostas artísticas, totalmente distintas, sobre a presença da água na paisagem.
A residência artística, financiada pela DGArtes, resultou na exposição “O Estado da Água”, que começa com uma abordagem sensorial, tátil e auditiva da artista Joana Patrão.
“O interessante de uma residência artística é quando tens oportunidade de ver várias vozes a falar do mesmo tema, do mesmo território, com as mesmas premissas. O propósito direto da residência é haver este desdobramento de conhecimentos artísticos e é para isso que a investigação artística serve. Existe uma provocação para que o espectador reflita sobre este recurso natural”, começa por explicar Inês Ferreira-Norman, artista que acompanhou o projeto.

Exposição “O Estado da Água”
O Hostel Criativo do Sabugueiro, que acolheu os artistas, já serviu de ponto de encontro para criadores de outros projetos desenvolvidos pelo Conservatório de Seia ou pela Universidade da Covilhã, por exemplo. Desta vez, o propósito foi refletir sobre o uso da água, sobre os recursos hídricos, através de diferentes visões artísticas.
“Comecei a conhecer as metodologias de cada artista e de onde é que eles vinham, porque cada artista traz a sua bagagem e tem a sua abordagem técnica e de investigação. Acho que a exposição está muito bem ritmada. Quando se entra, tem-se um contacto direto com a água, visualmente e auditivamente, mas depois são apresentadas várias abordagens sobre o mesmo tema”, diz Inês Ferreira-Norman, mestre em Artes Plásticas pela University of the Arts London.
Da perspetiva mais sensorial de Joana Patrão, a mostra evolui para novas abordagens estéticas e multissensoriais. A artista visual Eunice Artur apresenta uma abordagem auditiva, com sons captados por geofones, microfones de contacto e hidrofones. Iana Ferreira, fotógrafa e cineasta, reflete visualmente sobre a paisagem e o artista plástico Thierry Ferreira explora a forma como as construções presentes no território se podem traduzir em poesia.
A arte como instrumento de reflexão
O Estado da Água é uma das três mostras expositivas presentes no Festival Internacional de Cinema Ambiental CineEco, que está em exibição nas Galerias da Casa Municipal da Cultura. As propostas fazem parte de um conjunto de trabalhos artísticos que chegaram à organização do festival.
“Sendo este um festival de cinema, pensamos sempre em díptico, em imagem e no ambiente. Estas propostas, igualmente de imagem, tornam-se noutras formas de nos relacionarmos. Existe um trabalho de introspecção que configura outro tipo de pensamento que faz todo o sentido acoplar ao cinema”, explica Cláudia Marques Santos, programadora do festival.
Plastic Bitch, de Cláudia Clemente, aborda o consumismo desenfreado, poluição extrema, esgotamento de recursos naturais e a produção exacerbada de lixo, através de imagens onde é destacado o papel da mulher e da mãe natureza.

“O Copo de Água”, de Cláudia Clemente
Na mesma linha de abordagem, disruptiva e crítica, está patente a exposição Line, de Clo Bougard, que utiliza materiais de desperdício, que são dispensados ou que perdem a sua utilidade original, para uma reflexão sobre a sustentabilidade.
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