Por: Hugo Menicha, Partner, Government & Public Services – Business Process Solutions Leader, da Deloitte.

O mar é uma parte crucial da economia portuguesa, seja através do emprego ou dos recursos que oferece. E embora o investimento e parcerias tenham vindo a crescer no setor, ainda existem muitas oportunidades que podemos alavancar, com destaque para a aposta na sustentabilidade e na tecnologia.
.

A Economia Azul é um conceito introduzido pela ONU, em 2012, que destaca o potencial dos oceanos e dos recursos costeiros, mantidos saudáveis ​​e geridos de forma sustentável. A importância da Economia Azul é reforçada pela UE, que a considera como um elemento fulcral para a implementação do Pacto Ecológico Europeu (“Green Deal”). Segundo a Comissão Europeia, a Economia Azul emprega aproximadamente 4,5 milhões de pessoas e gera 184 biliões de euros na UE.

E como estão as cidades e os territórios costeiros portugueses a aproveitar a sua localização estratégica no contexto da Economia Azul? São vários os exemplos do investimento em Portugal nesta temática. Aos setores mais tradicionais, como a pesca e a aquicultura, historicamente geradores de emprego, juntam-se projetos inovadores, por exemplo, em energias renováveis oceânicas (aproveitamento da energia das ondas e das marés) e em biotecnologia marinha (exploração de recursos biológicos do oceano para desenvolver produtos inovadores, cosméticos e medicamentos). A Economia Azul oferece um caminho promissor para impulsionar a sustentabilidade nas zonas costeiras ao aproveitar os recursos marinhos de forma responsável e inovadora, enquanto estimula cidades mais inteligentes, resilientes, prósperas e em harmonia com o meio ambiente.

Mas são também vários os desafios na exploração sustentável dos recursos da Economia Azul: a sobrepesca, a poluição marinha e as alterações climáticas representam exemplos de ameaças ao ecossistema marinho e à viabilidade económica das atividades costeiras.

É neste contexto desafiante e disperso que, alinhada com a Estratégia Portugal 2030, surge a Estratégia Nacional para o Mar (ENM 2021 -2030): um documento que incorpora os contributos e interesses dos diversos setores diretamente ligados ao mar. Mas, é com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que se inicia a concretização de uma parte crucial das medidas da ENM 2021-2030, através da criação de uma plataforma física e virtual em rede para dinamizar a Economia Azul: o Hub Azul. Enquanto rede de infraestruturas, o Hub Azul integra 7 Polos de Inovação (Hub do Mar Lisboa, Leixões I e II, Aveiro, Peniche, Oeiras Mar e Olhão) e um Hub Azul School, com zonas de interação entre empresas (PME e start-ups) e universidades/polos formativos, e ainda entre estes e o mar. O objetivo é explorar complementaridades e sinergias e incentivar a transferência de conhecimento, estimulando uma inovação aberta e conjunta.

Existem muitas mais iniciativas relevantes, entre eles, o Cluster do Mar dos Açores; o esforço de articulação e coordenação de iniciativas e/ou entidades (públicas e privadas) relacionadas com o mar é e será determinante para o sucesso da Economia Azul em Portugal.

Portugal tem ainda um caminho a percorrer para modernizar o setor do mar, tornando-o verdadeiramente sustentável. É preciso mais literacia do oceano, mais transformação digital e tecnológica nesta economia. Estamos num bom caminho, mas devemos continuar a navegar “a todo o vapor”.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.

ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA DELOITTE E FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO DE ABRIL/MAIO/JUNHO DE 2024 DA SMART CITIES.