Nos últimos anos, as cidades têm liderado o esforço na transição para um futuro sustentável. Têm surgido estudos e planos de combate às alterações climáticas; temos visto mais cidades a reportar o seu impacto, positivo e negativo, no ambiente e estas têm tido um papel crucial no trabalho que tem sido desenvolvido para alcançarmos as metas definidas pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Hoje sabemos que uma das estratégias mais eficazes de influenciar o setor empresarial para uma transição para um futuro sustentável refere-se às compras públicas. Numa cidade, as câmaras municipais são dos principais compradores de bens e serviços, e, se estas definirem critérios alinhados com os princípios da sustentabilidade nos seus cadernos de encargos, o impacto pode ser muito positivo, principalmente no médio e longo prazo.

No entanto, gostava de chamar a atenção para um tema. Todos nós temos diferentes definições de sustentabilidade. Para uns, falamos apenas da sustentabilidade ambiental; para outros, também da económica; e, para muito poucos, os fatores sociais também estão incluídos.

Quando, em 2015, as Nações Unidas criaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o foco estava numa tripla sustentabilidade: ambiental, social e económica.

Assim, as compras sustentáveis podem ter um papel crucial na questão social, tornando, por exemplo, estes processos mais diversos e inclusivos.

Recentemente, vi uma estatística das Nações Unidas que me surpreendeu muito: apenas 1% do valor total gasto por grandes empresas e instituições na aquisição de produtos e serviços é direcionado para negócios detidos por mulheres, isto apesar de, segundo o Banco Mundial, 35% de todas as pequenas e médias empresas do mundo serem detidas por mulheres.

Em Portugal, estou convencida de que os números não devem ser muito diferentes e, portanto, as compras públicas podem, também aqui, ter um impacto positivo. Sem baixar os padrões de qualidade e exigência, é importante remover barreiras, ter mais transparência nestes processos de contratação pública e ativamente procurar negócios detidos por mulheres que possam concorrer nos concursos em aberto. Com o tempo, estes negócios vão tornar-se maiores, mais competitivos, mais capazes de captar investimento e recursos e o fosso económico entre homens e mulheres diminuirá.

Não estamos a falar de criar situações de excepção ou mesmo de discriminação positiva. Estamos apenas a fazer um pequeno esforço para sermos mais diversos e inclusivos.

O ODS 5 – Igualdade de Género é um dos 17 ODS definidos pelas Nações Unidas. Através de compras públicas mais diversas e inclusivas, podemos contribuir diretamente para alcançar as metas definidas pelo ODS 5, garantindo a máxima qualidade e exigência nos produtos e serviços adquiridos.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.