Aproxima-se o dia decisivo para as autarquias portuguesas: a 26 de Setembro, somos chamados a eleger quem, no futuro próximo, irá governar o território onde vivemos.
Os últimos quatro anos foram intensos e, no início deste mandato, ninguém imaginava que estaríamos, agora, nestas circunstâncias – o futuro parecia tão risonho na altura! A meio do caminho, deparámo-nos com uma borrasca. A pandemia foi, sem dúvida, a maior prova de fogo deste período, obrigando as administrações públicas a superarem-se como nunca antes.
Não terá sido tudo perfeito e, entre coisas que correram mais ou menos bem, é justo dizer que esta crise realçou a importância do poder local – os municípios e, em muitos casos, também as freguesias foram determinantes no apoio, nos mais variados sentidos, às suas populações. Muitas das medidas e iniciativas que nos chegaram neste último ano e meio partiram das estruturas locais e isso tem de ser reconhecido, não como propaganda a quem lá esteve, mas enquanto demonstração inequívoca do quão relevante é o poder local nas nossas vidas. E, por isso, estas eleições são importantes.
Mesmo conseguindo controlar o vírus, estes serão quatro anos ainda mais decisivos. Será o tempo da reconstrução e os pilares que vamos erguer têm de ser resilientes o suficiente para enfrentar novas crises. Os danos económicos e sociais da pandemia vão tornar-se cada vez mais evidentes. As alterações climáticas deixaram de ser um cenário e são uma realidade. O medo e a incerteza serão cada vez mais aproveitados para ameaçar as nossas liberdades e democracia.
Nos últimos quatro anos, testemunhámos também um amadurecimento desta nossa interpretação do conceito de cidade inteligente. No discurso político, continuámos a associá-la a uma melhoria da qualidade de vida das pessoas e à sustentabilidade dos territórios – e isso, mesmo caindo na demagogia, é bom, pois não nos afasta dos derradeiros objectivos (já dizia o ditado, ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’). Ao mesmo tempo, fomos vendo menos pilotos e demonstrações e mais ferramentas e soluções efectivas na gestão dos territórios, mesmo que estas não sejam tão disruptivas como aquelas que fantasiamos para uma smart city. Aqui, a crise pandémica voltou a ser impactante e as necessidades surgidas obrigaram à aceleração de novas soluções inteligentes de cariz digital, para agilizar procedimentos e adaptar a gestão autárquica a uma nova realidade, encontrando novas formas de chegar às pessoas quando o contacto não era permitido.
Enquanto isso, assistimos ao (re)surgimento de outras dinâmicas, de base analógica, que reforçaram os laços de proximidade e a parte mais humana das nossas comunidades, e que estão tão ou mais alinhadas com esta nossa visão de inteligência territorial. Haveria ainda tanto por dizer, mas só isto chega para exclamar: que quatro anos estes!…
Agora, estamos prestes a iniciar um novo ciclo e devemos olhá-lo com a devida atenção. Mesmo conseguindo controlar o vírus, estes serão quatro anos ainda mais decisivos. Será o tempo da reconstrução e os pilares que vamos erguer têm de ser resilientes o suficiente para enfrentar novas crises. Os danos económicos e sociais da pandemia vão tornar-se cada vez mais evidentes. As alterações climáticas deixaram de ser um cenário e são uma realidade. O medo e a incerteza serão cada vez mais aproveitados para ameaçar as nossas liberdades e democracia.
Vamos ter de lidar com tudo isto e muito mais e, por isso, o dia 26 de Setembro é tão importante. Nesta escolha que vamos fazer, mais do que olhar para o que foi feito, importa também olhar para o futuro que desejamos e qual o projecto que melhor o reflecte, mas sempre sem esquecer de que o nosso trabalho, enquanto cidadãos, não se fica por aqui: todos fazemos parte desta reconstrução.
Editorial originalmente publicado na edição nº32 da Smart Cities (Julho/Agosto/Setembro 2021) aqui com as devidas adaptações
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.