As zonas verdes urbanas e a promoção da biodiversidade têm-se apresentado como formas de minimizar os efeitos da elevada pressão da urbanização sobre os recursos naturais, contribuindo, ao mesmo tempo, para o bem-estar dos cidadãos.
A pressão das atividades humanas sobre os ecossistemas é crescente e global, tendo tido maior expressão a partir de meados do século XX. A urbanização associada ao rápido crescimento da população, e consequente transformação dos ecossistemas naturais e rurais, representa o impacto mais substancial da intervenção humana. Atualmente, mais de 50% da população mundial vive em zonas urbanas, convertendo habitats naturais e causando a perda de biodiversidade. Esta elevada pressão da urbanização sobre os recursos naturais tem fomentado o interesse pelas zonas verdes urbanas, as quais tendem, de certo modo, a compensar os impactos da urbanização e contribuem para preservar a qualidade de vida e o bem-estar dos residentes.
O maior desafio é conciliar o aumento da população com uma eficiente preparação de políticas que respondam a uma organização mais complexa e socialmente mais exigente.
Quando nos referimos às áreas verdes urbanas, estamos, sobretudo, a falar de jardins, parques, bosques urbanos, coberturas ou revestimentos verdes. Sabemos que os benefícios ecológicos destas áreas se relacionam com a melhoria da qualidade do ar, com a remoção efetiva de poluentes, com o sequestro de carbono, a diminuição do efeito de escoamento superficial das águas da chuva, a mitigação do efeito das ilhas de calor e com a sua importância para preservar a biodiversidade em contexto urbano. Os benefícios económicos resultam da própria valorização da propriedade que se mantém próxima dos espaços verdes, e os benefícios sociais incluem a integração comunitária, a harmonia e a coesão social. Importa ainda ter em conta outros benefícios, tais como o lazer ou as práticas desportivas, que influenciam o bem-estar físico e mental e a qualidade de vida dos cidadãos.
A biodiversidade é essencial para o funcionamento dos ecossistemas. Conservar a biodiversidade é, pois, vital para assegurar os bens e serviços de suporte ao bem-estar humano, mantendo a resiliência dos ecossistemas face à imprevisibilidade das condições ambientais, em permanente mudança, e enquanto garante dos recursos para as gerações presentes e futuras. Reforçando os propósitos da Década da Biodiversidade – uma iniciativa das Nações Unidas –, o Plano Estratégico para a Biodiversidade para o período 2011–2020, incluindo as Metas de Aichi, com a sua concepção de um mundo que vive em harmonia com a natureza, incentivou as cidades a desenvolver parcerias e mecanismos de coordenação para travar a perda de biodiversidade e promover o desenvolvimento sustentável.
Os impactos ambientais são especialmente intensos nos ambientes urbanos, pelo que mitigar os seus efeitos é essencial para assegurar a qualidade de vida das populações residentes. Entre outras ações, importa conter a utilização de recursos naturais não renováveis, promover a reutilização e a reciclagem de resíduos e a redução da poluição a diversos níveis, e aumentar as áreas naturais e a diversidade biológica no interior da cidade. Procura-se, assim, assegurar o bem-estar das pessoas, mantendo a dinâmica funcional dos ecossistemas urbanos. A este objectivo, associa-se a necessidade de compreender de que forma nos ajustamos emocionalmente aos novos modelos de organização social.
O maior desafio é conciliar o aumento da população com uma eficiente preparação de políticas que respondam a uma organização mais complexa e socialmente mais exigente. Desde logo, impõe-se que a própria construção de habitações corresponda às necessidades reais, e que as opções de intervenção no território respeitem um planeamento rigoroso e tecnicamente ajustado. O planeamento estratégico é, talvez, a maior dificuldade que se coloca ao novo ambiente urbano, cuja organização obriga à antecipação de cenários complexos, os quais deveriam contemplar, num horizonte temporal amplo, os transportes e as vias rodoviárias e ferroviárias, a dimensão e adequação de áreas verdes, os serviços de saúde e a oferta escolar, estruturas de desporto e lazer, rede de saneamento básico e abastecimento de água, circuitos de reciclagem dos resíduos sólidos urbanos, monitorização sistemática da qualidade do ar e riscos ambientais, a harmonia estética na pluralidade dos espaços e a instalação de estruturas de participação pública e apoio ao cidadão.
Para que qualquer urbe preserve e promova a sua biodiversidade, tem, primeiramente, de a estimar, valorizando e exigindo práticas e condições de habitat que permitam a sua manutenção. A escolha é dos responsáveis pela gestão da cidade, mas é também dos cidadãos. A preocupação pela biodiversidade, no que diz respeito à intervenção municipal, está normalmente orientada para a gestão dos espaços verdes urbanos, o que significa, basicamente, cuidar das superfícies relvadas dos espaços públicos (ou dos espaços verdes cujos proprietários são negligentes), e assegurar a poda regular das árvores. Mas toda esta atuação é sobretudo reativa, construída na base de um monótono cadernos de encargos que se repete em cada ano. Não há, portanto, grande entusiasmo, e pior do que isso, não se fomentam ações que envolvam os cidadãos nas dinâmicas ambientais.
Mas a conservação da biodiversidade na cidade deve ser um eixo estratégico na sua organização e gestão, apostando numa cultura de valorização da diversidade da vida e dos seus contextos naturais. É muito importante pensar na conservação da biodiversidade de forma programática, inteligente, desenvolvendo iniciativas concertadas em todo o espaço público, preservando os habitats naturais, apostando em zonas de lazer, jardins, escolas, unidades de saúde, zonas ribeirinhas; privilegiando uma criteriosa seleção de espécies vegetais, tendo em conta variáveis de saúde pública ou funções específicas (e.g., sequestro de carbono); e uma agenda ecológica, promovendo a educação ambiental e a biodiversidade. Propõe-se um BIOPOLIS: um programa à escala nacional para a valorização da biodiversidade em contexto urbano.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.