Estamos a viver sob um ataque feroz de um vírus que, a cada dia que passa, é mais conhecido pela comunidade científica. Um ataque que, perante a ausência de defesas capazes de o travar (vacina), nos leva a ter de lutar com as armas que temos: o distanciamento social.

Não basta “achar que não temos nada” ou que “isto não me ataca a mim porque eu nunca tive nada”, especialmente num vírus que pode estar dentro do nosso corpo vários dias, a infetar outras pessoas, sem termos qualquer sintoma ou com sintomas muito leves que nos levem a acreditar que seja outra coisa.

“E porque não tomam as cidades portuguesas medidas semelhantes e criam, no imediato, ciclovias temporárias que estimulem o uso da bicicleta nas deslocações essenciais, e evitem as concentrações de pessoas e que possam, posteriormente, ser transformadas em ciclovias definitivas?”.

A única solução que temos é ficar por casa. Mas, ao mesmo tempo, o país não pode parar. É preciso encontrar um equilíbrio. Não nos podemos dar ao luxo de fechar tudo e parar a 100%, porque não temos a capacidade financeira da China. Seria o ideal, mas e depois de passarmos esta crise? Tendo sobrevivido à doença, sobreviveríamos à crise seguinte, que será mundial? Talvez sim, talvez não. Temos de nos ir mantendo à tona.

Estamos neste momento em estado de emergência, e não levem esta medida de ânimo leve. Suspender liberdades não é algo que se decida da noite para o dia, pelo menos, não por alguém que defenda a Democracia. Sim, precisamos de tudo fazer para salvar todas as vidas possíveis e evitar uma rutura do Serviço Nacional de Saúde, mas não precisamos de entrar em demagogias e populismos extremos. Quando o estado de emergência e a pandemia passarem, todos vamos querer a nossa vida normal e habitual, mas isso não será assim tão simples.

Não estando, nem podendo, Portugal estar em “lockdown”, decretou o Governo o dever geral de recolhimento domiciliário e ainda o teletrabalho, tornando o trabalho a partir de casa obrigatório sempre que as funções em causa o permitirem. Mas nem todas as funções o permitem: polícias, médicos, enfermeiros, pessoal das limpezas, trabalhadores dos supermercados, trabalhadores de empresas de transportes de mercadorias, agricultores (sim, porque a comida não vem da prateleira do supermercado), trabalhadores das recolhas de lixo e, consequentemente, trabalhadores dos transportes públicos. Entre outros essenciais. E estas pessoas precisam de se deslocar de casa para o trabalho. Certo é que locais onde existam muitas pessoas a tocar em coisas ao longo do tempo são locais de potencial contágio. Por muitas desinfeções que se faça, por muito que limpemos todos os dias, quando estamos num local onde esteja uma pessoa infetada – que, como já o disse, pode nem saber que está infetada –, então, estamos a aumentar o risco de contágio. Infelizmente, o transporte público é um desses locais e, por isso, deve ser evitada a sua utilização nesta fase de emergência e, quando tiver mesmo, mesmo, mesmo de sair, deve procurar-se um outro modo de transporte.

A bicicleta é (mais uma vez) uma boa solução para as deslocações essenciais. Há já cidades que implementaram medidas de incentivo à sua utilização nesta fase. Se Bogotá responde à pandemia com 76 km de ciclovias temporárias para reduzir aglomerações nos transportes públicos, a Cidade do México responde ao pedido do seu Bicycle Mayor de implementar uma rede temporária de ciclovias que leve ao distanciamento social e, consequentemente, à redução do risco de contágio do COVID-19, e Nova Iorque implementou também uma rede ciclável para potenciar o uso da bicicleta nas deslocações essenciais.

Já pela Europa, o ministro da Saúde alemão recomendou que a população que tivesse de se deslocar o fizesse, no período de necessário distanciamento social, através do uso da bicicleta, em detrimento dos transportes públicos ou de qualquer outro veículo, vincando que não só a pessoa que utiliza a bicicleta está automaticamente com as distâncias necessárias de outras pessoas, como também vê ser muito reduzido o risco de ser contaminado por contacto com superfícies ou objetos diversos”. A par de tudo isto, a produção de bicicletas na região de Aveiro aumentou, fruto do aumento de procura por bicicletas nesta fase. E porque não tomam as cidades portuguesas medidas semelhantes e criam, no imediato, ciclovias temporárias que estimulem o uso da bicicleta nas deslocações essenciais, e evitem as concentrações de pessoas e que possam, posteriormente, ser transformadas em ciclovias definitivas?

Numa altura em que o diretor do Copernicus – Programa Europeu de observação da Terra, adianta que está a ser investigada a hipótese de o novo coronavírus ser transportado por partículas em suspensão (poluição), uma tese sustentada por investigação italiana, todas as medidas que promovam o uso de modos de transporte não poluentes são cada vez mais as acertadas.

É nosso dever estar em casa. Se o trabalho que fazem for considerado essencial, desloquem-se sozinhos e, de preferência, de bicicleta.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.