“A revolução digital não pode ser limitada às grandes áreas urbanas e as zonas rurais e comunidades de baixa densidade também têm de fazer parte desta transformação”. Após três dias de evento, a 10.ª edição do Portugal Smart Cities Summit (PSCS), realizada na FIL, em Lisboa, terminou ontem com o apelo do secretário de Estado da Modernização e Digitalização, Alberto Rodrigues da Silva, para quem esta oportunidade “deve chegar a todos”.

Durante a cerimónia de encerramento do certame, o governante defendeu que “a tecnologia deve servir para unir as comunidades e não para as dividir”, acrescentando que é fundamental “garantir que todas as vozes são ouvidas nas decisões que vão moldar o futuro dos nossos territórios e que as políticas públicas respeitam a realidade de cada município”.

Uma mensagem em prol da coesão territorial, mas que também foi, ao mesmo tempo, uma alusão às alterações que o atual executivo fez à Estratégia Nacional dos Territórios Inteligentes (ENTI). Isto porque tem “como objetivo permitir que estas zonas menos ativas na adoção das tecnologias de smart cities também possam tirar partido e ver a estratégia enquanto oportunidade para desenvolver os seus territórios”, disse Alberto Rodrigues da Silva à Smart Cities durante a visita ao PSCS.

O secretário de Estado participou numa conferência sobre “A Revolução da IA nas Smart Cities”, onde fez questão de lembrar que esta tecnologia tem um potencial enorme, por exemplo “na forma como governamos e gerimos os recursos e os territórios”, mas não deixou de alertar para os riscos e desafios que também encerra. “É essencial que a utilização da inteligência artificial seja guiada por princípios éticos, para que, além de não agravar as desigualdades – que existem -, ainda as possa reduzir”, comentou.

Como tal, defendeu a importância de estarmos “vigilantes e ativos” na implementação de soluções tecnológicas até porque, concluiu, a “forma como escolhemos abordar estes desafios vai determinar o futuro das nossas cidades e dos nossos territórios”.

Municípios e academia mostram dinamismo

O Portugal Smart Cities Summit voltou a ser uma montra privilegiada para os mais de 100 expositores nacionais e internacionais que marcaram presença na feira. Logo à entrada do Pavilhão 1, os municípios fizeram as honras da casa, com destaque para Guimarães, a cidade convidada desta 10.ª edição, que deu a conhecer a jornada climática do concelho, o envolvimento no programa NetZeroCities e a candidatura a Capital Verde Europeia, da qual é finalista.

Ali ao lado, o Seixal fez da “Inovação ao Serviço da Sustentabilidade” o tema do stand deste ano, onde apresentou as principais iniciativas da autarquia nesta área, como um sistema inteligente de gestão de resíduos. Já Lisboa mostrou projetos como a Plataforma de Gestão Inteligente de Lisboa (PGIL) ou o Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa (LxDataLab), enquanto Mafra deu visibilidade ao ecossistema “Mafra +Inteligente”. Por sua vez, a Amadora destacou o alargamento do sistema de vídeo proteção da cidade e o Fundão trouxe ao PSCS um programa recheado de apresentações e demonstrações sobre temas como a mobilidade em territórios de baixa densidade ou a tecnologia blockchain e a neutralidade climática.

NOVA Cidade organizou o Pavilhão Smart Portugal. (Foografia: © NOVA Cidade)

Este ano, a academia também assumiu um protagonismo especial graças ao NOVA Cidade Urban Analytics Lab, da Nova IMS, que reuniu mais de uma dezena de entidades num grande expositor, denominado Smart Portugal. Entre elas estiveram várias comunidades intermunicipais do país e projetos como o Portugal Blue Digital Hub, a Smart Healthy Region ou o Blockchain.pt. Junto a este, destacou-se também o espaço da Agência para a Modernização Administrativa (AMA), encarregue de divulgar a Estratégia Nacional de Territórios Inteligentes (ENTI), tema incontornável desta edição do evento.

Um impulso para as empresas

Pelas oportunidades de financiamento que traz na área da digitalização do território, a ENTI acabou por oferecer um dinamismo acrescido ao setor, sendo realçada por muitas empresas que marcaram presença no PSCS. Foi o caso da Focus BC, empresa responsável pela plataforma de inteligência urbana City as a Platform. Como disse à Smart Cities o sócio fundador Vasco Pinheiro, “este programa da ENTI trouxe, de facto, um impulso muito interessante para modernizar as autarquias e os territórios”. “Conseguimos constatar que está a ser aproveitado, como se vê pelos inúmeros contactos de clientes e entidades que estão a apostar nestas soluções”, acrescentou o responsável.

No mesmo sentido, a Ubiwhere voltou a marcou presença no evento para divulgar a sua Plataforma Urbana, “um produto que pode agregar a informação dos vários domínios de uma cidade e, acima de tudo, ser quase o cérebro do município numa ótica de agregação dos dados, não só para decisão em tempo real mas também para questões de planeamento urbano”, como explicou Nuno Ribeiro, co-CEO da tecnológica de Aveiro.

Também a NOS, através do Pedro Machado, Head of B2B New Business da empresa, teve oportunidade de considerar a Estratégia Nacional dos Territórios Inteligentes “uma oportunidade muito feliz, porque se trata de um grande incentivo às cidades e às comunidades intermunicipais”. “E nós até fomos dos primeiros, há uns anos atrás, a defender esta visão agregadora. À data de hoje, da dezena de plataformas agregadoras que existem de gestão urbana, provavelmente seis ou sete foram implementadas e desenhadas por nós”, realçou.

Soluções à vista de todos

Do ambiente à mobilidade, passando pelos resíduos, iluminação ou energia, foram muitas as áreas que apresentaram novas soluções e apostas de mercado. Grande parte das empresas já tinha estado presente em anteriores edições, mas para outras foi uma estreia, caso da Ambergo, que apresentou um sistema de monitorização de qualidade do ar, ou da EasyPark, responsável por uma plataforma de estacionamento inteligente já utilizada em vários municípios nacionais.

As tecnologias e equipamentos “Made In Portugal” também estiveram em destaque, caso de um sistema de videovigilância para proteção de incêndios desenvolvido pela AiTecSer, ou dos postes de iluminação e informação da Lightenjin que permitem o carregamento simultâneo de bicicletas ou carros elétricos. Já a Gaspar deu a conhecer um novo totem digital que ajuda a gestão do estacionamento temporário, útil, por exemplo, para cidades que necessitam de limitar a duração das cargas e descargas.

Entre os stands que geraram mais curiosidade destacou-se o da HEN, empresa de serviços energéticos e tecnológicos que está a construir em Seia uma central de produção de hidrogénio verde. Isto porque levou até à FIL um eletrolisador (dispositivo em que a água é dividida em hidrogénio e oxigénio) como forma de explicar a tecnologia e, ao mesmo tempo, revelar as vantagens que traz. De acordo com os responsáveis, além da energia capaz de gerar, só esta central em Seia irá significar uma redução direta de 7011 toneladas de CO2 equivalente por ano.

Fotografia de destaque: © Portugal Smart Cities Summit / Fundação AIP