A iniciativa surge depois da criação de um grupo de trabalho para desenvolver um plano de emergência de aterros que, segundo os ambientalistas, corre o risco de resultar na “possibilidade de as autarquias terem de fazer um investimento de mil milhões de euros em unidades de incineração de resíduos urbanos”. Este grupo terá de elaborar um relatório de avaliação com propostas até ao dia 31 de janeiro, mas a Zero decidiu antecipar-se e já apresentou possíveis soluções, expressas num comunicado.
A primeira grande proposta consiste no desvio de um milhão de toneladas de resíduos urbanos (RU) de aterro, através do reforço das unidades de tratamento mecânico e biológico (TMB), que permitem separar o lixo orgânico (caso dos restos de comida) dos outros resíduos, como o plástico, o metal, o cartão e o vidro, passiveis de ser reciclados.
“Através destas medidas será possível reduzir anualmente a colocação de um milhão de toneladas de RU em aterro no curto-prazo (máximo três anos), constituídas por 700 mil toneladas de resíduos urbanos que atualmente estão a ser descarregados diretamente nos aterros e cerca de 300 mil dos atuais rejeitados dos TMB que apresentam baixa eficiência”, concretiza a associação. Além disso, acrescentam os ambientalistas, estas unidades também apresentam diversas vantagens em relação à incineração, como um tempo de resposta mais rápido, menores custos de investimento e operação e uma maior eficiência energética.
Ao mesmo tempo, a Zero propõe ainda o aumento da reciclagem do lixo, no mínimo para o dobro num prazo de cinco anos, com o alargamento da recolha seletiva porta-a-porta e com contentores de proximidade, soluções que considera serem “de desempenho elevado e alta eficiência técnica e financeira”. A comprová-lo, acrescenta, estão vários exemplos de boas práticas na Europa, mas também alguns em Portugal, nomeadamente em Fornos de Algodres, Silves, Guimarães, Maia e São João da Madeira.
“Uma recolha de alta eficiência, com um modelo porta-a-porta ou com contentores na via pública com acesso condicionado, e com um contributo residual, mas complementar do tratamento na origem dos biorresíduos, pode levar em pouco mais de um ano à captura de no mínimo 50% dos biorresíduos presentes no sistema”. Na prática, diz a Zero, “se os biorresíduos (alimentares e verdes, excluindo a componente biorresíduos categorizada como finos) representam aproximadamente 40% do total dos resíduos urbanos, será possível capturar, num curto espaço de tempo (até dois anos), as toneladas equivalentes a 20% dos resíduos urbanos”, explica o comunicado.
Recorde-se que, durante o ano de 2022, Portugal colocou em aterro cerca de 2,9 milhões de toneladas de lixo urbano. Um número bastante superior à meta imposta ao país pela União Europeia para 2035, que estima uma deposição a rondar as 500 mil toneladas.
Fotografia de destaque: © Shutterstock