Como será o clima nas nossas cidades daqui a seis décadas? Um trabalho desenvolvido na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, deu origem a um mapa interativo com a previsão da temperatura média e de outros parâmetros em milhares de cidades e povoações mundiais, incluindo três dezenas em Portugal.

Depois de fazer uma previsão climática para o ano 2080, esta nova ferramenta compara os resultados das cidades e prevê o clima análogo entre elas, ou seja, procura uma correspondência entre o clima futuro num determinado local e o clima atual noutro ponto. Isto mediante dois cenários: um com emissões elevadas e outro tendo em conta um nível mais reduzido de emissões, alinhado com as metas do Acordo de Paris, que apontam para um aquecimento do Planeta de 1.5°C.

Ferramenta prevê que, daqui a 60 anos, Lisboa terá um clima semelhante ao atual de Tarifa.
Fonte: https://fitzlab.shinyapps.io/cityapp/

No caso de Lisboa, por exemplo, o pior cenário prevê que o clima da cidade daqui a 60 anos seja semelhante ao que hoje existe em Tarifa, no sul de Espanha. A ferramenta estima que as temperaturas de verão na capital portuguesa subam 3.4°C e que o tempo se torne 20.2% mais seco. Já num cenário de maior controlo dos impactos das mudanças climáticas, Lisboa poderá ficar 1.3°C mais quente e 8.6% mais seca (valores de verão). Curiosamente, nessa possibilidade, a correspondência climática é feita com a aldeia de Paio Pires, no distrito de Setúbal.

Para o Porto, a aplicação prevê que, durante o verão, a cidade fique 5°C mais quente e 28.6% mais seca. Isso significaria que, em 2080, teria um clima semelhante ao atual de Praia a Mare, na Calábria italiana. Num cenário mais otimista, os números são inferiores, mais 1.5°C e mais 8.9%, respetivamente, o que coincide com os valores atuais de Valbom, no concelho de Gondomar.

Olhando para outras cidades portuguesas também se verificam analogias curiosas e, ao mesmo tempo, reveladoras dos efeitos das alterações climáticas. No Algarve, por exemplo, Faro teria um clima semelhante ao de Melilha, cidade espanhola já no continente africano, enquanto Tavira faz correspondência com Jericó, na Palestina. Mais para norte, também tendo em conta o pior cenário, Coimbra “cruza” com Puerto Serrano, na Andaluzia espanhola, Braga com Marcellina, na Calábria (Itália) e Chaves com Córdoba, em Espanha.

Esta aplicação, desenvolvida no Center for Environmental Science da Universidade de Maryland (EUA) teve origem num estudo publicado em 2019 na revista Nature Communications. Na altura, considerava apenas o território dos Estados Unidos, mas agora os investigadores alargaram o âmbito da análise. A atual ferramenta, que recorre a dados recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tem utilização gratuita e está disponível neste link.

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