A estratégia está definida e por todo o país há projetos em curso, que vão das energias renováveis offshore à criação de novos produtos recorrendo à biotecnologia. Mas é preciso aprofundar o conhecimento sobre o oceano, protegê-lo das ameaças e assegurar que as boas ideias vão dar lugar a negócios e criar riqueza.
A Ínclita Seaweed Solutions (ISS), que se dedica à extração de ingredientes funcionais de algas para incorporar na indústria de cosmética, nutracêutica humana e animal e indústria alimentar, nasceu do sonho de investigadores e deu os primeiros passos no CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental. A empresa cresceu, está a conquistar clientes no estrangeiro e prepara-se para criar a primeira unidade produtiva.
Ana Catarina Guedes, a atual CEO, foi investigadora durante duas décadas na área das micro e macroalgas e foi desse trabalho que surgiu a ideia de cofundar a empresa de biotecnologia marinha com outros parceiros. Os primeiros passos foram dados em 2018 e, durante os primeiros anos, a equipa dedicou-se a desenvolver ingredientes e patentes, assim como a conhecer o mercado para definir um rumo. Conseguiram fundos públicos, nomeadamente no PRR, e investidores privados e deram o salto.
A sede é no CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, Matosinhos, e já têm um segundo polo na UPTEC Mar, o parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto situado em Leça da Palmeira. Aos escritórios e laboratórios, querem somar ainda este ano uma unidade piloto de produção, com escala pré-industrial, que ficará num concelho do Grande Porto. Ao mesmo tempo, os empreendedores procuram aumentar o catálogo e desenvolver novos ingredientes, para “dar resposta às necessidades do mercado”, e buscam novos clientes, nomeadamente no mercado europeu.
A ISS, explica Ana Catarina Guedes, trabalha num setor “emergente”. Dedica-se a “extrair ingredientes funcionais à base de extratos de algas”, que seguem depois para outras empresas, na área da cosmética, suplementos, alimentares, que os usam nos seus produtos e os colocam no mercado. Esses ingredientes que extraem têm “bioatividade”, o que quer dizer que “podem ser antirrugas, antimanchas, antioxidantes, anti-inflamatória”.
A biotecnológica começou no território nacional, mas este ano já está a dar cartas além-fronteiras. “Estamos focados no mercado europeu, nomeadamente em países como Espanha, França, Alemanha, Suíça, Inglaterra”, conta Ana Catarina Guedes. “Nós não conseguiríamos viver com o mercado português”, acrescenta, sublinhando que é muito pequeno. A ideia é começar pela Europa devido à proximidade e semelhanças a nível regulamentar e de certificações, mas já estão a ser feitos contactos “com potenciais interessados na África do sul, América do Sul, nos Estados Unidos”.
A empresa conta com 10 funcionários, mas a intenção é “duplicar rapidamente”. A mão-de-obra é bastante qualificada. Sinal disso é o facto de a pessoa que tem menos formação ser alguém com licenciatura que está atualmente a fazer mestrado. Com a unidade piloto de produção que estão a montar, “a qualificação poderá baixar para algumas funções, mas seremos sempre uma empresa com necessidades de qualificação elevada. Temos um rácio de doutorados e mestrados elevado e em áreas muito específicas”, sublinha Ana Catarina Guedes.
Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 43 da Smart Cities – abril/maio/junho 2024, aqui com as devidas adaptações.