Os esforços das áreas urbanas para enfrentar as alterações climáticas estão a ficar aquém do que é necessário, revela o Relatório Mundial das Cidades 2024, apresentado pelas Nações Unidas durante o Fórum Urbano Mundial que decorre até amanhã no Egito. O documento, elaborado pela UN-Habitat defende um maior foco das cidades nas estratégias climáticas, sublinhando a necessidade de alinhar a ação climática com objetivos de desenvolvimento mais amplos, incluindo a melhoria dos serviços, a redução da pobreza e a saúde pública.
“As cidades precisam urgentemente de progredir na concretização dos objetivos de emissões líquidas nulas, reforçando simultaneamente a sua capacidade de resistência contra fenómenos meteorológicos extremos e choques associados às alterações climáticas”, refere uma das mensagens principais do relatório, alertando que “as cidades estão sob ameaça critica”.
O trabalho revela ainda que algumas intervenções climáticas pioraram inadvertidamente as condições das comunidades vulneráveis e dá como exemplo alguns casos de “gentrificação verde”. “É necessário ter cuidado ao acelerar os esforços de adaptação e atenuação das alterações climáticas nas cidades para evitar consequências involuntárias e de exclusão. Quando se constroem infraestruturas de proteção contra catástrofes nas cidades, as famílias pobres podem acabar por ser expulsas ou ficar mais expostas”, escrevem os autores.
De acordo com o relatório, mais de 2 mil milhões de habitantes de cidades poderão ter de enfrentar um aumento adicional da temperatura de, pelo menos, 0,5 graus Celsius até 2040. Perante este cenário, a UN-Habitat alerta para o défice de financiamento que se verifica neste momento e que coloca em risco a criação de infraestruturas urbanas resilientes. “As cidades precisam de cerca de 4,5 a 5,4 biliões de dólares por ano para desenvolver e manter sistemas resistentes ao clima, mas o financiamento atual é de apenas 831 mil milhões de dólares, uma fração do montante necessário. Este défice deixa as cidades, e especialmente as suas populações mais vulneráveis, cada vez mais expostas ao risco”, pode ler-se no documento.
Para sustentar estes alertas, a UN-Habitat lembra vários factos e perspetivas preocupantes. Por exemplo, estima que em 2040 mais de duas mil cidades estejam localizadas em zonas costeiras pouco elevadas, ou seja, à mercê de cheias. E lembra que, desde 1975, a exposição às inundações aumentou 3,5 vezes mais nas cidades do que nas zonas rurais. Outros dados dizem que, em média, a percentagem de espaços verdes nas zonas urbanas diminuiu globalmente de 19,5% em 1990 para 13,9% em 2020.
Para Anacláudia Rossbach, Subsecretária-Geral das Nações Unidas e Diretora Executiva da UN-Habitat, “o recém-publicado relatório é um testemunho da importância de integrar as realidades urbanas nos debates sobre o clima”. “Enquanto nos preparamos para a COP29, estamos empenhados em alavancar o conhecimento para informar estratégias que ressoem com os esforços locais e globais”, afirmou a responsável durante a conferência de imprensa sobre lançamento do Relatório Mundial das Cidades.
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