Um jantar, quatro projectos, um vencedor e a vontade de mudar a cidade para melhor. Começou em 2010, com a ambição de reverter o processo de decadência da antiga capital da produção automóvel, Detroit, e hoje espalha-se por comunidades um pouco por todo o mundo. A Detroit Soup é um movimento de cidadãos locais com vontade de tomar as rédeas e semear a mudança e é a inspiração original para a Aveiro Soup, a primeira iniciativa do género em Portugal, que já tem data de nascimento: 4 de Fevereiro de 2017.

Na cidade norte-americana, também conhecida por Motor City, a iniciativa grassroots já angariou dezenas de milhares de dólares com o objectivo de dar nova vida à cidade e aos seus habitantes. Amy Kaherl, fundadora da Detroit Soup e parte integrante da comunidade de pioneiros urbanos que a iniciativa representa, revela que “não é preciso muito para fazer muito”. O propósito fundador destes jantares tem sentido único: contribuir para a concretização de ideias com impacto real na comunidade. E em Aveiro, a ideia “surgiu no seguimento de um conjunto de iniciativas de promoção do envolvimento da comunidade na construção e planeamento da cidade” e partiu de uma colectividade de cidadãos provenientes de campos distintos da sociedade, como são as “áreas científicas, empresariais, sociais e culturais”. O objectivo é dotar os “proponentes de iniciativas benéficas localmente com meios financeiros e apoio de mentoria qualificada”.

Em Detroit, a entrada são cinco dólares. Por cá será o mesmo valor, em euros. Ganha-se, assim, direito a jantar e direito a votar. E, nesta sopa, o número quatro adquire especial importância. São apresentadas quatro ideias e cada proponente dispõe de quatro minutos para convencer a plateia, que pode colocar até quatro questões por apresentação. Miúdos e graúdos, todos são bem-vindos e todos são convidados a discutir e eleger o projecto vencedor, que depois recebe, como contributo para a sua implementação, a totalidade do valor angariado na aquisição de entradas e o acompanhamento por parte da equipa do Aveiro Soup. Segundo a própria, este acompanhamento vai realizar-se através de “reuniões periódicas” que vão “monitorizar o estado de maturação do projecto até ao início da sua implementação”. Para já, não há envolvimento da câmara municipal de Aveiro, mas é algo que o colectivo acredita que venha a mudar “em breve”.

A The Empowerment Plan é uma organização sem fins lucrativos e é um dos casos de sucesso da Detroit Soup. Está permanentemente focada em retirar pessoas sem-abrigo das ruas e dá emprego a vinte e cinco pessoas que anteriormente não tinham tecto. Manufactura e distribui gratuitamente casacos que se transformam em sacos-cama e recebe um milhão de dólares anuais em donativos. No futuro próximo, pretende alcançar a auto-suficiência financeira, através da venda dos seus produtos.

A Soup, onde quer que se realize, “constitui mais uma oportunidade para os cidadãos contribuírem para a solução dos problemas que afectam o seu quotidiano, participando assim na construção daquilo que consideram o seu bem-estar e o bem-estar da comunidade de que fazem parte”. É assim que o colectivo de Aveiro caracteriza o projecto que agora nasce na cidade e que, sendo um movimento de cidadãos para cidadãos, apresenta uma abordagem inovadora. Não é top-down, nem bottom-up, mas sim, e como os próprios a descrevem, “bottom-bottom”. São as propostas dos cidadãos, implementadas pelos cidadãos. Procuram-se ideias e soluções em campos tão diversos quanto o empreendedorismo social, a agricultura urbana, a educação e a arte.

O programa do Aveiro Soup envolve mais de 40 pessoas, divididas por seis grupos de trabalho: Facilitadores, Secretariado, Propostas, Alimentação, Artes e Inclusão. O início dos trabalhos deu-se no final do mês de Setembro, para que tudo esteja a postos no momento do arranque oficial. O primeiro jantar está marcado para o dia 4 de Fevereiro de 2017 e, embora o futuro ainda não esteja totalmente definido, a colectividade pretende que a iniciativa se repita regularmente, “com uma periodicidade de três meses”.

O período de recepção de propostas para o primeiro jantar prolonga-se até ao final do mês de Dezembro, devendo proceder-se ao envio destas através do formulário que se encontra no sítio web da iniciativa aveirense.