Há vários anos que Cascais promove a agricultura urbana biológica, ao mesmo tempo que procura dar nova vida aos espaços naturais do concelho. No centro desta aposta está o projeto Terras de Cascais, que envolve 700 horticultores, distribuídos por 32 hortas, pomares e vinhas comunitárias.

Em entrevista à Smart Cities, o vice-presidente da câmara municipal, Nuno Piteira Lopes, diz que o sistema agroalimentar desenvolvido pelo município tem “uma importância capital” e lembra que, graças a esta iniciativa, parte significativa da população passou a ter “acesso a uma alimentação saudável, sazonal e saborosa”.

O que é o projeto Terras de Cascais e quais os principais objetivos?

Em Cascais encaramos a sustentabilidade como um pilar fundamental na construção da nossa sociedade. Por isso, temos apostado em projetos como o Terras de Cascais. Esta é uma iniciativa que promove práticas sustentáveis de agricultura e biodiversidade, envolvendo a comunidade em atividades de produção local e valorização do território. Tem como objetivo dar uma nova vida a espaços que estão sem uso no meio da malha urbana e promover a agricultura urbana biológica, potenciando a oferta de alimentação saudável, sazonal e saborosa, a um número cada vez mais alargado de pessoas. E além da paisagem alimentar melhorada, as nossas hortas comunitárias têm um papel fundamental na criação de comunidades locais ativas, felizes e saudáveis.

O projeto desenvolve-se em vários espaços, abarcando diferentes tipos de hortas, pomares e vinhas. Pode falar-nos um pouco de cada um deles?

Cascais começou em 2009 a promoção da agricultura urbana, com a criação das primeiras Hortas Comunitárias. Desde então, a ideia de cultivar a terra ganhou cada vez mais adeptos e o projeto expandiu-se. Hoje, para além das hortas comunitárias, existem hortas associativas, hortas de produção e de integração social, hortas nas escolas, pomares comunitários, vinhas comunitárias e uma vinha de grande escala para a produção de Vinho de Carcavelos – a Vinha do Mosteiro de Santa Maria do Mar. 

Em conjunto, quantos espaços são no total, quantas famílias envolvem e qual a quantidade de produção?

Somando as hortas, pomares e vinhas, Cascais já conta com mais 700 horticultores e suas famílias que estão distribuídas por 32 hortas, pomares e vinhas comunitárias, reforçando o compromisso coletivo com a sustentabilidade e a produção local.
Em 2024, o município de Cascais produziu 40 toneladas de alimentos vegetais biológicos, nas hortas comunitárias e nos terrenos de produção agrícola da Câmara Municipal. As hortas de produção registaram resultados expressivos, com a Horta do Pisão a alcançar uma produção de 10,5 toneladas, e a Horta do Brejo a somar 15,8 toneladas de vegetais. A produção de cereais, especificamente de Trigo Barbela, uma variedade tradicional, adaptada ao clima nacional e de elevado valor cultural, registou mais de 2,5 toneladas. No campo da viticultura, os resultados também foram notáveis. A vinha do Mosteiro de Santa Maria do Mar teve uma colheita de mais de 8,7 toneladas de uvas, e as vinhas comunitárias de Cascais, mais de 2 toneladas.

Transição alimentar está em marcha no município de Cascais. Foto: CM Cascais

Que feedback têm recebido dos participantes?

As motivações pessoais para integrar estes espaços são tão variadas quanto os benefícios trazidos pela atividade. Alguns encontram nas hortas uma forma de regressar às suas raízes, outros procuram um maior contacto com a natureza, levados pelo prazer de ver os seus alimentos crescer. A horta, a vinha ou o pomar é um local de lazer, de descontração e de alegria. Um local onde se cultivam amizades, onde se celebra a natureza, as tradições e a alimentação saudável. Por tudo isso, a Cascais Ambiente tem trabalhado para criar um concelho mais verde e mais saudável, onde as pessoas se aproximam umas das outras através de algo que nos liga a todos – a alimentação.

Muita gente desconhece que no concelho, mais propriamente em Carcavelos, também há vinhas. Que projetos e ambições tem o município em matéria de produção de vinho?

A nossa maior ambição é valorizar o produto local e as tradições que o envolvem. Quando em 2017 a Câmara Municipal de Cascais comprou o Mosteiro de Santa Maria – de onde se vê o mar – quis recuperar o espaço para os cascalenses. A vinha de 2,7 hectares foi replantada em 2019 com as castas tradicionais deste vinho generoso num terreno com as condições ótimas para o crescimento das uvas. Cultivada em modo biológico e regenerativo, com práticas que promovem o sequestro de carbono no solo e aumentam a biodiversidade, a vinha está aberta ao público durante todo ano para que os nossos munícipes possam desfrutar do espaço ao ar livre. O nosso objetivo enquanto autarquia não é tanto a quantidade de produção, mas a qualidade do vinho, para demonstrar que Cascais tem todos o potencial para ter produtos agrícolas de excelência, sustentáveis, e com isso atrair mais produtores que respeitem os ciclos da natureza e queiram, como nós, estimular a biodiversidade. Temos prevista a abertura de uma adega no Mosteiro, para envelhecer o vinho e usar esse espaço também como centro de conhecimento do Vinho de Carcavelos, a sua história, a cultura que o envolve e as práticas de agricultura regenerativa. Para reforçar este conhecimento, temos previstas ao longo do ano uma série de visitas guiadas que dão a conhecer à população os vários aspetos do nosso Vinho de Carcavelos.

Qual a importância da transição alimentar e dos sistemas alimentares locais para o município de Cascais?

Por razões ambientais e de saúde física e mental, sabemos hoje que a melhor opção é ter nas cidades ciclos curtos de produção da terra até ao prato. O sistema agroalimentar que estamos a desenvolver em Cascais tem uma importância capital para o nosso concelho. Através do programa Terras de Cascais conseguimos que uma parte muito significativa da nossa população tenha acesso a alimentação saudável, sazonal e saborosa o que tem reflexos na saúde e no bem-estar da população. E com esta forma de produzir alimentos, estamos a ajudar a natureza a fazer o seu trabalho de recuperação da qualidade do solo e do ar. É por isso que este programa que se iniciou em 2009 não abranda. Prevemos este ano aumentar muito a área de terreno cultivado para dar acesso aos bons alimentos a cada vez mais pessoas, ao mesmo tempo que estimulamos a economia local e preservamos o ambiente.

Foto de destaque: © CM Cascais