Para criar as cidades do futuro, as tecnologias de resposta às alterações climáticas e a digitalização vão ser fundamentais – a opinião é de Jürgen Häpp, especialista em planeamento urbano do gabinete internacional de arquitectura AS+P, que falou, esta manhã, numa apresentação sobre “A cidade do futuro”, durante o evento dedicado à mobilidade urbana Hypermotion. O certame internacional acontece entre os dias 26 e 28 de Novembro, em Frankfurt, na Alemanha, e reúne especialistas internacionais na área da mobilidade, com especial destaque para as tendências do mercado germânico.

“As tecnologias para as alterações climáticas e a digitalização vão mudar a forma de ver as coisas. As alterações climáticas são um tema central e já estão a acontecer, e a digitalização vai dar-nos muitas oportunidades para lidar com esta realidade”, disse. Tendo como pano de fundo o futuro da mobilidade, o especialista internacional destacou a necessidade de apostar nos transportes públicos colectivos e nos modos suaves, como o andar a pé ou de bicicleta, e ainda na partilha, a par de inovações como os veículos eléctricos e autónomos.

“Não são apenas a automação e a electromobilidade que vão resolver este desafio, os sistemas de car sharing vão permitir substituir os carros particulares”, referiu Häpp, ilustrando a declaração com números, “um carro partilhado substitui 17 carros particulares”. Apesar deste potencial, o especialista é assertivo na necessidade de reduzir o uso do automóvel na cidade – “não queremos mais carros”. Deste modo, alerta, é preciso encontrar mecanismos que evitem que “os veículos autónomos e a partilha de carros canibalizem o transporte público”, agindo, por exemplo, nas tarifas de mobilidade ou na gestão do estacionamento.

Ainda assim, enquanto se procura o enquadramento mais adequado para a automação nas cidades, nas áreas rurais de baixa densidade, Jürgen Häpp está convicto da “grande oportunidade” que existe para os veículos autónomos. A possibilidade de agregar a procura com soluções on-demand e custos de operação mais reduzidos é, para este especialista, “muito promissora”.

Uma nova cidade às portas do Cairo

No contexto urbano, a mobilidade não fica isolada e, por isso, outros elementos requerem a atenção de quem planeia cidades. “A cidade do futuro é centrada nas pessoas e o espaço público é onde isto acontece. A mobilidade liga estes elementos”, explicou Häpp, introduzindo o plano de desenvolvimento urbano para a cidade de Badya, perto do Cairo, no Egipto, elaborado pelo AS+P. Vencedor do German Design Award 2020, atribuído pelo German Design Council, e do Iconic Awards 2019, o projecto vai criar uma nova cidade com 150 mil habitantes, numa área de aproximadamente 1260 hectares na periferia da cidade do Cairo, seguindo o modelo de desenvolvimento policêntrico usado no estado alemão Hesse, onde fica Frankfurt.

Aplicando princípios de urbanismo sustentável, o projecto de Badya inclui a mistura de usos, inúmeras áreas verdes que criam uma infra-estrutura verde conectada, que permite a regulação dos microclimas e a optimização dos sistemas de drenagem e de armazenamento de água, espaços públicos variados e uma rede ciclável e pedonal por toda a cidade. Com a previsão de uma densidade populacional elevada, de cerca de 125 habitantes por hectare, e planos ambiciosos, a dúvida sobre se Badya será uma cidade acessível a todos os bolsos é uma das questões que se levanta. Para responder a isto, foi incluída uma quota de 20% de habitação acessível no projecto, no entanto, segundo Häpp, o gabinete de arquitectura “gostava que esta fosse superior, mas as regras do mercado em questão não o permitiram”.

O Hypermotion vai decorrer até à próxima quinta-feira e é realizado com o apoio do ministério federal alemão do Transporte e Infra-estrutura Digital, do estado alemão de Hesse, do município de Frankfurt e de várias associações alemãs de mobilidade.