A partir de 2018, a câmara municipal de Almada espera ter um orçamento anual disponível de um milhão de euros para investir e promover a mobilidade sustentável. O montante representa o encargo anual que a autarquia tem, neste momento, com a amortização do metro de superfície e que deverá findar nesse altura.

A intenção foi manifestada na última sexta-feira, por Joaquim Judas, presidente do município da margem Sul do Tejo, durante o Fórum Global Ecomobilidade, evento que marcou o arranque da Semana Europeia da Mobilidade em Almada.

“Neste momento, temos um encargo anual significativo de amortização da obra do metro de superfície, de cerca de 1 milhão de euros anuais, e aquilo que podemos considerar é a possibilidade de manter, para além de 2018, essa verba como forma de promover e facilitar e incentivar o uso do transporte público”, admitiu o autarca à Smart Cities. Até lá, haverá medidas de carácter pontual, nomeadamente no reforço da rede e do acesso à rede de transportes públicos, dando especial atenção a alguns pontos mais críticos, garantiu. “Temos um deficit no acesso ao transporte público nas freguesias da Sobreda e da Charneca da Caparica, assim como no acesso à Costa da Caparica. Portanto, estas são áreas que iremos privilegiar no sentido de incentivar o uso do transporte público e, naturalmente, de criar e manter as condições de acessibilidade”, declarou.

Ainda no que toca à mobilidade interna, a autarquia sublinha a vontade de valorizar o acesso das crianças e famílias à rede escolar. “Há uma parte muito significativa da mobilidade interna que é feita por automóvel e que está correlacionada com o transporte de crianças de e para a escola, em várias fases do dia. Facilitar o acesso das crianças e das famílias às escolas é uma primeira grande preocupação, seja por via pedonal, seja por modos suaves, seja pela oferta de transportes específicos e dirigidos. Pensamos que isso poderá ter uma efeito muito significativo, em termos da necessidade de redução do uso de transporte próprio automóvel, com as mesmas condições de conforto e segurança”, declarou.

O Fórum Global da Ecomobilidade foi também palco da adesão de 25 entidades, incluindo a câmara municipal de Almada, ao Manifesto Menos Um Carro. A iniciativa promove, desde 2009, uma mobilidade urbana mais sustentável, apelando aos cidadãos que repensem o uso do transporte público e da bicicleta em detrimento do veículo privado. Com a assinatura do Manifesto em Almada, o movimento cívico ultrapassa as fronteiras da capital portuguesa, dando um passo no seu objectivo de ganhar dimensão nacional.

Em prol de uma mobilidade sustentável, Lisboa e Almada assumiram a disponibilidade para colaborar na busca de soluções para os seus cidadãos. “Os nossos munícipes não ficam só nos nossos concelhos, eles movem-se. A mobilidade é crucial para a sustentabilidade das cidades”, disse Carlos Manuel Castro, vereador da Segurança e Protecção Civil, Relações Internacionais e Mobilidade de Proximidade da CM Lisboa, também presente no Fórum.

“As duas margens unem-se”, referiu, por seu turno, Joaquim Judas, “somos um caso paradigmático, Almada tem, por via da ponte, um enorme atravessamento e Lisboa tem uma estratégia que está em fase de definição muito avançada, no sentido de conter o acesso e o uso do automóvel dentro da cidade e, naturalmente, vamos ter de falar muito sobre isso”. Para o autarca, a solução não passa por “reduzir o acesso do automóvel, ficando os carros parados em Almada”, mas por “fazer com que  se melhore significativamente o acesso ferroviário, por barco e transporte público no processo de atravessamento. “É nessa linha que vamos, com certeza, trabalhar”, assegurou.

Também em Almada, estiveram, na última sexta-feira, dois especialistas internacionais em mobilidade sustentável e urbanismo: Gil Peñalosa, fundador e presidente da associação 8 80 Cities, e Konrad Otto-Zimmermann, director criativo da The Urban Idea. Este último apresentou o Festival Mundial da EcoMobilidade, lançando o desafio a Almada para acolher o evento no futuro. Já Gil Peñalosa deixou oito ideias e recomendações para reinventar o espaço urbano, com vista a uma mobilidade mais sustentável e a uma cidade que sirva as necessidades quer de uma criança de oito anos, quer de um idoso de 80.