Há um provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança“. Diria que precisamos da cidade inteira para educar as nossas crianças e a nossa sociedade.

Segundo o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors, a educação deverá organizar-se em torno de quatro pilares fundamentais, que, ao longo da vida humana, serão os pilares base para o conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

“É no dia-a-dia, nas relações que criamos com os espaços e com os outros que se dá a verdadeira aprendizagem, e que acontece na maioria das vezes nos espaços públicos das cidades”.

A aquisição de competências que se organizam em torno destes pilares não se obtém em tempo limitado ou em espaços exclusivos dentro de muros. O conceito de escola, enquanto espaço de aprendizagem, não deverá ter muros nem horários.

É no dia-a-dia, nas relações que criamos com os espaços e com os outros que se dá a verdadeira aprendizagem, e que acontece na maioria das vezes nos espaços públicos das cidades.

Nestes espaços, os mais pequenos (e os crescidos também) aprendem a conhecer os seus vizinhos, a dizer “bom dia”, a questionar o mundo com inundações de perguntas e reflexões, a explorar cada detalhe do seu percurso, tão mais detalhado quanto maior for o seu contacto com essa realidade. Desenvolvem o sentido crítico, a capacidade e vontade de acção sobre o que vão conhecendo à sua volta e sentindo-o como seu.

Através deste conjunto de vivências diárias, constrói-se um sentido de pertença pelo espaço de todos. Aumentando a exposição das nossas crianças a este grande espaço que é a cidade, alicerçamos os verdadeiros pilares do conhecimento para que elas aprendam a conhecer, a fazer, a viver juntos e a SEREM verdadeiros cidadãos.

Para isso, precisamos de verdadeiras cidades para pessoas, como nos diz Jan Gehl, o conceituado urbanista e arquitecto dinamarquês, autor de vários projectos desenhados dando prioridade às pessoas. Precisamos de estreitar ruas para estreitar relações, diminuir a utilização do carro para desacelerar a vida, sentir o ar fresco sem ter de ligar o botão do ar condicionado, conhecer um estranho que, afinal, não é tão estranho assim porque o conhecemos “de vista” da rua, ir às compras sem ser obrigatório usar dois carros (um carro e um carrinho).

Uma cidade de pessoas para pessoas, onde as pessoas ocupem mais espaço do que os seus automóveis, as crianças possam brincar na rua de forma segura, ir para a escola a pé ou de bicicleta com os amigos e conheçam muito bem os espaços e as ruas da sua cidade, porque a cidade é a escola e, por isso, é suposto ser segura.

A construção deste grande espaço de relações e de aquisição de conhecimento compromete-nos a todos como comunidade e requer um esforço colectivo, atribuindo uma grande responsabilidade às cidades no papel que têm na educação das futuras gerações. Requer mobilização dos cidadãos e um forte compromisso de políticas públicas alinhadas.

Possivelmente é esta a maior responsabilidade que temos enquanto comunidade educadora que somos todos nós, cidadãos, na forma como nos relacionamos e educamos para viver e partilhar um espaço comum, e na forma como participamos colectivamente para a construção de uma cidade escola.

#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.