“We have a mountain of evidence to suggest that the way we design our cities, their systems and their spaces and places, has a strong effect on how we regard and treat other people. (…) We can have cities that draws together, rather than pushing us apart. We can have cities that bring out the best in us.” – Charles Montgomery, autor do livro Happy City
Qualquer espaço público é composto por um conjunto de atributos que ativam a nossa memória, o que quer dizer que a sua dimensão, luminosidade, aspeto e organização têm implicações na forma como o utilizamos e, por consequência, na forma como nos sentimos e como interagimos com o outro.
Por exemplo, uma rua que se prolongue em linha reta não cria estímulo para a percorrer, conseguimos perceber o que lá acontece à distância. Já uma rua estreita e sinuosa, esconde e revela a todo o momento novos espaços, incentivando-nos a percorrê-la e a vivê-la. Aqui está presente um dos valores qualitativos do espaço público: o dinamismo. Um espaço para ser vivenciado tem de ser dinâmico, tem de criar motivos que incentivem à sua descoberta.
Mas não é só o desenho da rua que interfere na sua vivência. A tipologia dos edifícios que a delimitam também tem grande impacto nas dinâmicas que se geram. A maioria das pessoas sente-se mais confortável e segura para parar e fazer uma chamada telefónica, ou até mesmo para ajudar um desconhecido, junto a edifícios com fachadas vivas, que interagem com o espaço público, do que em frente a blocos cegos, sem aberturas nem capacidade de gerar dinâmicas.
Vejamos outros exemplos: quando nos encontramos numa praça muito ampla, dificilmente iremos ocupar a sua área central, porque nos sentimos desprotegidos e expostos. Já numa praça com dimensões harmoniosas, mais próximas da escala humana, sentimo-nos aconchegados, protegidos e descontraídos. Ao fazer um determinado percurso do ponto A ao ponto B, a maioria das pessoas escolhe sempre o trajeto mais curto (por vezes, até desrespeitando passeios e passadeiras). Contudo, se, no decorrer desse percurso, existir uma praça com dimensão significativa, dificilmente será escolhido o percurso mais curto que atravessa o seu centro, pela exposição que causaria.
“Cidades vibrantes são mais seguras, levam-nos a comportamentos mais saudáveis e comprometidos civicamente, criam oportunidades económicas, incentivam soluções de mobilidade mais sustentáveis, constroem capital social e ligam as populações. Cidades com espaços públicos vibrantes são mais competitivas, atraindo e retendo talento”.
E como é que tudo isto se gera? Porque é que a qualidade dos espaços onde nos encontramos tem tanto impacto na forma como nos sentimos e interagimos com os outros?
Tal como os animais, o homem desenvolveu a capacidade de analisar o ambiente que o rodeia, associando-lhe, inconscientemente, riscos ou sentimentos de tranquilidade.
Enquanto nos movemos no espaço, o hipocampo, região do cérebro onde temos a nossa memória, é ativado. Ele compara o que estamos a ver com as nossas memórias, criando um mapa mental e enviando mensagens de medo ou tranquilidade para o córtex. Assim, espaços muito vazios ou muito confusos podem ativar a produção de adrenalina e cortisol, hormonas responsáveis pelo medo e ansiedade. Por sua vez, espaços que nos parecem familiares, simples e que despertam boas memórias, ativarão a produção de serotonina e de oxitocina, hormonas responsáveis pela felicidade e que promovem a confiança interpessoal.
Tal como Charles Montgomery afirma: “Todos nós, enquanto indivíduos, respondemos a ambientes em que nos encontramos. Se os sistemas mudarem, nós mudamos os nossos comportamentos”.
Cidades vibrantes são mais seguras, levam-nos a comportamentos mais saudáveis e comprometidos civicamente, criam oportunidades económicas, incentivam soluções de mobilidade mais sustentáveis, constroem capital social e ligam as populações. Cidades com espaços públicos vibrantes são mais competitivas, atraindo e retendo talento.
Por essa razão, precisamos de repensar a cidade em que vivemos. O desenho do espaço público tem um impacto significativo na forma como as pessoas se relacionam e, por sua vez, no seu bem-estar, afinal de contas, citando novamente Charles Montgomery, “o que mais contribui para a felicidade das pessoas nas cidades é a qualidade das relações que têm com os outros”. Espaços bem desenhados, seguros e confortáveis tornam-se atrativos, e é essa atratividade que gera o dinamismo necessário para a socialização e a criação de comunidades resilientes.
#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.