O município de Cascais começou a pensar a recolha seletiva de biorresíduos em 2018, com a implementação de um projeto-piloto que hoje evoluiu e é considerado “um dos bons exemplos” do país. Seis anos depois, a recolha abrange a totalidade do concelho e regista uma adesão de 82% dos residentes em Cascais.
O projeto destaca-se pelo “pragmatismo, custo benefício” e pela facilidade do processo de seleção e recolha. Enquanto as estatísticas revelam que o país está a registar uma fraca implementação da recolha de biorresíduos, o município de Cascais consegue fugir à regra, que coloca as cidades em incumprimento da normativa europeia.
O projeto-piloto arrancou em 2018, com cinco mil famílias residentes na União de Freguesias de Carcavelos e Parede, que aceitaram o desafio e começaram a usar um balde castanho e sacos verdes, disponibilizados gratuitamente, para a separação de restos de comida. Depois de depositados no contentor indiferenciado e recolhidos pela Cascais Ambiente, os sacos são triados através de um separador ótico instalado na unidade de tratamento de resíduos da empresa Tratolixo. “Quisemos fazer algo que fosse simples para toda a gente, porque separar restos de comida dá trabalho. O sistema foi importado de alguns países do norte da Europa e achamos que é o único sistema que consegue adaptar ao conforto que temos dado aos cascalenses”, começa por explicar Luís Almeida Capão, Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente.


Sacos verdes são colocados no contentor convencional
O sistema pioneiro, que se revelou um sucesso na implementação da recolha seletiva de biorresíduos, obrigatória desde 1 de janeiro de 2024, foi alargado aos concelhos vizinhos. Com o apoio da Tratolixo, o sistema chegou a Mafra, Cascais, Sintra e Oeiras. “Conseguimos ter uma estratégia única, concertada, que é um grande exemplo. Não se trata de uma ideologia, é uma forma de resolver um problema com pragmatismo, com custo benefício e facilitando a vida de quem tem que reciclar em casa”, explica Luís Almeida Capão.
Em 2023 a recolha de biorresíduos abrangia já todo o território de Cascais, depois de um trabalho de sensibilização efetuado no terreno, com “várias equipas de monitores” a sensibilizar as pessoas porta-a-porta. O resultado foi a adesão de 82% dos residentes em Cascais, ou seja, mais de 60 mil famílias aderiram à recolha e separação de restos de comida.
A Cascais Ambiente já recolheu, desde 2018, mais de 5500 toneladas de biorresíduos. Depois de separados e recolhidos, os restos de comida são transformados em composto orgânico de alta qualidade ou em energia elétrica.
País com fraca implementação da medida
Embora seja obrigatória desde dia 1 de janeiro, a recolha seletiva de biorresíduos está a ter uma “fraca implementação” por parte dos municípios. Segundo dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, das 185 entidades que responderam ao inquérito, apenas 79 (cerca de 43%) avançaram para a implementação da medida. A cobertura total da recolha seletiva de biorresíduos abrange apenas 15% do território nacional.
Os resultados do inquérito não surpreendem o Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, uma vez que acredita serem “o espelho da realidade do país”. “Cascais tem sido sempre desejado nos centros de debate e discussão porque é um dos bons exemplos, mas acabamos por perceber que estamos sempre a falar das mesmas cidades”, refere Luís Almeida Capão.
A recolha seletiva de biorresíduos passou a ser obrigatória em Portugal a 1 de janeiro de 2024, em linha com a orientação da União Europeia.
Fotografia de destaque: Cascais Ambiente