Os conceitos de cidade inteligente, cidade dos 15 minutos e circularidade cruzam-se no Data 4 Oeiras Valley, uma plataforma única a nível nacional desenvolvida pelo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab para o município de Oeiras. Com esta ferramenta, a gestão das acessibilidades e a equidade de serviços ganham novas dimensões, graças a uma analítica urbana que liga porta a porta todos os edifícios e equipamentos do concelho.
Qual é a zona de Oeiras mais bem servida de restaurantes, escolas ou farmácias? Quanto tempo se demora a percorrer, a pé, de bicicleta ou de carro, desde um determinado local até à estação ferroviária mais próxima? Qual é a percentagem do concelho que tem um espaço desportivo à distância de 15 minutos? Estas e muitas outras perguntas com impacto nas áreas da mobilidade, economia, ambiente, governança e cidadania vão passar a ter uma resposta imediata e acessível a todos através do Data 4 Oeiras Valley.
Trata-se de uma nova ferramenta de inteligência urbana criada em parceria pelo município de Oeiras e pelo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, da NOVA IMS, que faz uma análise da acessibilidade aos mais variados serviços do concelho. Na prática, permite saber onde estão, por exemplo, bares e restaurantes, escolas, transportes, repartições públicas ou espaços de saúde e bem-estar, calculando depois o tempo que se demora a chegar até eles a partir de qualquer ponto do concelho. Isto aplicado a um percurso pedonal, ciclável ou de automóvel e tendo em consideração diversas variáveis, como o período do dia ou da semana que se faz a deslocação.
Segundo Miguel de Castro Neto, coordenador do NOVA Cidade, “Oeiras ganha um instrumento de planeamento e de desenho de políticas públicas único à escala nacional e, eventualmente, internacional, que lhe oferece a capacidade de avaliar, casa a casa, o nível de acesso a determinados serviços que o município deve proporcionar às pessoas”. Mas mais do que medir a distância entre pontos, esta é também uma solução que favorece a equidade, sublinha o responsável, porque ajuda a planear investimentos e garantir que todos têm a mesma facilidade de acesso aos diversos serviços e equipamentos do município, independentemente do local onde estão. “Por exemplo, se olharmos para os dados e percebermos que há instalações desportivas por todo o lado, mas que algumas zonas não têm teatros ou espaços culturais, isso vai ajudar o município a decidir em que territórios e setores deve fazer um investimento, ou seja, investir onde há mais escassez. Daí ser uma ferramenta útil”, explica Miguel de Castro Neto.
Também o vice-presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Francisco Rocha Gonçalves, reitera a importância desta plataforma. Para ele, “consiste numa ferramenta estratégica de planeamento para apoiar a gestão territorial do município, ao mesmo tempo que permite ao cidadão consultar toda e qualquer informação de comércio ou serviços de modo fácil, através de um simples smartphone”.
Em conjunto, o NOVA Cidade e a autarquia de Oeiras identificaram cinco eixos prioritários para esta plataforma, a começar pela mobilidade, uma vez que ajuda a definir novos modelos de mobilidade e gestão de tráfego, além de favorecer a mudança de comportamentos da população. A esta temática juntam-se a economia, ao nível do conhecimento do território económico geográfico; o ambiente, por promover a eficiência energética; a governança, uma vez que facilita a resolução imediata de ocorrências; e a cidadania ativa dos munícipes.
DA CIDADE DOS 15 MINUTOS À CIRCULARIDADE
Esta plataforma acaba por permitir explorar vários princípios do conceito de cidade dos 15 minutos, desenvolvido por Carlos Moreno, segundo o qual todos os moradores de uma cidade devem ter acesso a equipamentos, comércio e serviços essenciais até uma distância de 15 minutos a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. O objetivo do modelo passa por aumentar as interações humanas, evitar a fragmentação dos centros urbanos e reconstruir o sentido de comunidade e, olhando para a Data 4 Oeiras Valley, também é precisamente isso que a ferramenta procura ajudar a fomentar.
“Esta é uma ferramenta com capacidades descritivas, preditivas e prescritivas que ajuda a consubstanciar a tomada de decisão em evidências analíticas”.
Miguel de Castro Neto, Diretor da NOVA IMS e Coordenador do NOVA Cidade – Urban Analytics Lab.
Para o vice-presidente deste município, “Oeiras está a implementar novas formas de mobilidade, mais sustentáveis, potenciando deslocações através de transporte público e, ainda, deslocações pedonais ou cicláveis”. Analisando a plataforma numa perspetiva de cidade dos 15 minutos, é possível obter inúmeros indicadores relevantes, como o nível de acessibilidade pedonal neste período de tempo em cada tipo de serviço. Por exemplo, mostra-nos que 92% do concelho de Oeiras tem restaurantes e bares a uma distância até 15 minutos a pé e que mais de metade leva o mesmo tempo, no máximo, a chegar aos serviços de outras três categorias: Saúde, bem-estar e beleza; Educação, formação e emprego; e Comércio especializado.
Também permite saber, nomeadamente, quais são as freguesias e locais mais ou menos acessíveis, seja numa abordagem global ou por categoria. “Depois, é possível fazer uma análise tão fina quanto queiramos”, diz o data scientist do NOVA Cidade Nuno Alpalhão, porque, “afinal de contas, com o modelo desenvolvido é possível trabalhar com milhares de moradas, tanto no caso dos edifícios, como nos serviços. Podemos dizer, sem dúvida, que é mesmo uma avaliação porta a porta”. “Por exemplo, se quisermos compreender que serviços estão disponíveis em qualquer bairro, constata-se que em variadas ocasiões não se justifica o uso de carro, não só por uma questão de economia, mas também de tempo”.

O Smart City Expo World Congress, realizado em Barcelona entre 7 e 9 de novembro, foi o palco escolhido para a apresentação do Data 4 Oeiras Valley. Na imagem, o data scientist Nuno Alpalhão.
O especialista lembra que este trabalho vai além da ideia de cidade dos 15 minutos, não só porque permite uma análise de outros intervalos de tempo (meia hora, por exemplo), mas também por incluir mais formas de deslocação. Isto porque, além do percurso a pé ou de bicicleta (como preconiza Carlos Moreno), também faz a contabilidade do tempo de viagem num automóvel. “E aqui, olhando para o mapa de Oeiras, é curioso observar que, muitas vezes, chega-se mais rapidamente de carro a um determinado serviço, mas noutras é preferível optar pela rede pedonal ou ciclável”, comenta.
Paralelamente ao conceito de cidade dos 15 minutos, a solução criada pelo NOVA Cidade também entronca nos pressupostos da transição para a economia circular. Desde logo, porque ao ajudar a otimizar a rede de serviços do concelho, permite que os munícipes façam deslocações mais curtas, muitas delas a pé ou de bicicleta. Desta forma, promove-se o comércio local, uma rede de serviços circulares e um sistema alimentar que privilegie os produtos locais, nacionais e de época, com a consequente redução das emissões carbónicas. Oeiras, cidade inteligente, mas também circular e de proximidade faz, assim, da tecnologia e do conhecimento os principais pilares de um território mais sustentável.
Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 41 da Smart Cities – Outubro/Novembro/Dezembro 2023, aqui com as devidas adaptações.