Cidades e territórios diferentes exigem respostas de mobilidade diferentes, por isso, o NOVA Cidade – Urban Analytics Lab tem desenvolvido projetos à medida de cada realidade, seja ela urbana ou regional. Descubra como a inteligência analítica pode melhorar a mobilidade no Porto, em Lisboa e na Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões.

Chegar de trotineta ao maior festival de música no Porto, passear a pé ou de bicicleta em Lisboa e viajar de transportes públicos entre Viseu e Tondela são três exemplos bem diferentes de mobilidade, mas com um ponto em comum: qualquer um deles, como diversas outras formas de deslocação, tem tudo a ganhar com a inteligência urbana e territorial. Os trabalhos desenvolvidos pelo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, da NOVA IMS, demonstram isso mesmo e evidenciam o potencial da gestão de informação e da ciência de dados em matéria de mobilidade, que é o grande desafio da construção de cidades e territórios inteligentes e sustentáveis nos dias de hoje. Não apenas pelo seu impacto nas emissões, mas também nas pessoas, quer pelo tempo gasto nas deslocações, quer pela ocupação do espaço das cidades reservado à circulação e ao estacionamento e pela consequente redução do espaço público disponível. Para Miguel de Castro Neto, coordenador do NOVA Cidade, “a utilização de dados para suportar o planeamento e a gestão da mobilidade de pessoas e bens é crucial, visando cumprir a ambição de construirmos uma mobilidade como serviço, capaz de tirar partido da transformação digital e de combinar modos de transporte, oferecendo conveniência, garantindo o serviço e reduzindo a fricção na sua utilização”.

Sempre que há abordagens locais ou regionais, é essencial encarar cada realidade como única e adaptar as abordagens às características das cidades e dos territórios, diz o investigador e data scientist Nuno Alpalhão, até porque, “mais do que trabalhos meramente académicos, são muitas vezes projetos que respondem às especificidades locais e são desenvolvidos em conjunto com as pessoas que estão no terreno e têm um know-how diferenciador”. Uma vez recolhidos e tratados os dados, ficam reunidas as condições para prosseguir políticas públicas data-driven, devidamente sustentadas na capacidade analítica.

DADOS QUE REFLETEM A DINÂMICA DO PORTO

“Quão viva está a cidade?” é uma das perguntas a que o Indicador Dinâmico Urbano ajuda a responder. Desenvolvido pelo NOVA Cidade em parceria com a Porto Digital no âmbito do projeto City Catalyst, foi desenhado para criar uma visão holística e em tempo real do município do Porto, permitindo medir a dinâmica urbana ao longo do concelho. Para isso, é composto por várias séries temporais de dados que revelam a atividade diária do município através de variáveis de mobilidade urbana e de qualidade do ar, como a localização dos transportes públicos, a utilização de trotinetas ou o atraso no tráfego. Com este indicador, é possível escolher, por exemplo, um determinado evento na cidade e perceber como é que a dinâmica urbana evoluiu face à média da cidade e qual o peso de cada uma destas variáveis. No caso do festival Primavera Sound (2022), constatou-se que a dinâmica urbana e o atraso no tráfego aumentaram consideravelmente na zona do Parque da Cidade, tal como o uso de trotinetas.

“O objetivo é ter esta informação como uma ferramenta operacional e de planeamento que permita às autoridades adotarem os procedimentos mais ajustados à realidade com base em factos, tanto num evento programado (caso do Primavera Sound), como em resposta a um acontecimento espontâneo. Ou seja, se houver um aumento inesperado da dinâmica urbana, é possível agir praticamente em tempo real”, explica Bruno Jardim, investigador do NOVA Cidade. Além de analisar onde estão as pessoas e como se movem, este trabalho também permite saber o que elas dizem num determinado evento, recolhendo os tweets que escreveram e cruzando-os com a geolocalização.

CONTAR BICICLETAS E SUGERIR CAMINHOS A PÉ

Lisboa está cada vez mais ciclável e basta andar pela cidade para perceber que o número de utilizadores e de viagens de bicicleta tem aumentado. Mas saber com maior exatidão quantas pessoas circulam nas ciclovias da capital, em que alturas preferem fazê-lo e quais os locais mais atravessados, entre outras informações, tornou-se possível com o Dashboard dos Contadores de Bicicletas, criado pelo NOVA cidade – Urban Analytics Lab. Trata-se de uma ferramenta de visualização abrangente, com informação extraída do Portal de Dados Abertos da EMEL, que, no essencial, trabalha o número de passagens de bicicletas em 27 pontos estratégicos da cidade. Com ela, é possível observar diferentes variáveis, como as viagens efetuadas consoante o momento do dia, e comparar a evolução semanal, mensal e anual. É de realçar a relevância que o conhecimento dos trajetos realizados teria para melhor compreendermos a mobilidade suave, mas a dificuldade em conciliar a libertação destes dados com o cumprimento do RGPD tem alegadamente impedido a sua partilha.

Mas este é apenas um exemplo do trabalho do NOVA Cidade em matéria de mobilidade na capital. Há vários projetos já finalizados – como um modelo preditivo sobre a ocupação das estações das bicicletas GIRA ou um indicador de walkability na zona oriental da cidade – e outros ainda em fase de investigação e desenvolvimento. É o caso de uma ferramenta, para já chamada DYMOB, pensada para ajudar as pessoas a moverem-se na cidade cruzando a avaliação dos caminhos mais favoráveis à caminhada com as preferências pessoais. “Poderá permitir, por exemplo, que o modelo de machine learning seja treinado a partir das opções de caminhabilidade que uma pessoa vai tomando. Ou seja, se ela anda mais vezes a pé por zonas verdes ou junto ao rio, a aplicação irá dar-lhe não apenas o caminho mais rápido, mas também outro que tenha em conta as preferências habituais”, revela Bruno Jardim. Ainda em fase inicial, este trabalho concorreu ao NOVA impACT! Challenges, um programa dedicado ao desenvolvimento de projetos académicos com impacto ambiental ou social que coloquem o conhecimento e a inovação ao serviço da sociedade.

O NOVA Cidade também criou o Oeste Smart Region, um gémeo digital implementado na CIM do Oeste que venceu recentemente um prémio internacional atribuído pela Esri.

MOBILIDADE À ESCALA REGIONAL

A futura Plataforma de Gestão da Mobilidade da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões – Smart Mobility é outro projeto que o NOVA Cidade está a ajudar a implementar, em conjunto com diversos agentes locais e regionais. Esta plataforma tem como objetivo assegurar a monitorização e o apoio à gestão da mobilidade numa vasta região que junta 14 municípios: Aguiar da Beira, Carregal do Sal, Castro Daire, Mangualde, Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, São Pedro do Sul, Santa Comba Dão, Sátão, Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu e Vouzela. Ao contrário do que acontece com projetos em grandes cidades, como Lisboa ou Porto, este assume uma escala muito própria. “Aqui, trata-se de uma mobilidade completamente diferente da urbana, mais regional, onde a procura é mais reduzida e heterogénea, mas o espaço é maior, o que exige provavelmente uma maior necessidade de otimizar o modo como os meios (autocarros, por exemplo) são oferecidos”, diz o investigador Nuno Alpalhão.

Para já, o projeto está ainda numa fase de recolha de informação junto dos diversos interlocutores e desta irá surgir uma plataforma que assegure a monitorização e gestão inteligente da mobilidade, articulando territórios urbanos e territórios de baixa densidade populacional. Gerir o trânsito em tempo real, facilitar soluções multimodais e tarifas integradas, promover a mobilidade suave, apoiar o estacionamento inteligente e facultar um assistente pessoal de viagens poderão ser algumas das funcionalidades da plataforma Smart Mobility.

O Indicador Dinâmico Urbano, o Dashboard dos Contadores de Bicicletas e a Plataforma de Gestão da Mobilidade da CIM Viseu Dão Lafões – Smart Mobility são três exemplos do trabalho desenvolvido pelo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab.

Este artigo conta com o apoio do Nova Cidade – Urban Analytics Lab e foi originalmente publicado na edição nº 40 da Smart Cities – Julho/Agosto/Setembro 2023, aqui com as devidas adaptações.