O conceito de mobilidade nas cidades está a mudar, mas, em Lisboa, este setor ainda representa 39% das emissões de gases com efeito de estufa, daí ser decisivo para a meta da neutralidade carbónica. A agência Lisboa E-Nova tem um papel fundamental em toda a estratégia, que passa por uma mobilidade mais integrada, suave e limpa. Conheça os projetos e as iniciativas que colocam esta ambição em movimento.
Não há volta a dar. Para Lisboa atingir a neutralidade carbónica e se manter em linha com a Missão Cidades Climaticamente Neutras e Inteligentes até 2030, a capital terá necessariamente de reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa (GEE). No Plano de Ação Climática 2030 (PAC Lisboa 2030), o município traçou como meta uma redução de 70% até esse ano (face a 2002). A fasquia aumenta ainda mais, para 80%, se tivermos em consideração a meta da Missão Cidades. Mas como lá chegar? A solução é uma estratégia integrada, dizem os especialistas, que resulte de um compromisso alargado entre autoridades, municípios, cidadãos e empresas. Neste imperativo, o sector da mobilidade torna-se determinante, ou não fosse ele responsável por mais de um terço das emissões na capital – os dados de 2019 apontam para 39% -, a que não são alheias as mais de 300 mil viaturas que todos os dias entram na cidade.
Como diz Bernardo Campos Pereira, especialista em mobilidade da Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, “enquanto não se resolver o problema das emissões, provocado sobretudo pelo transporte rodoviário, haverá sempre um elefante na sala”. Para ele, o caminho deverá passar, desde logo, por “priorizar os sistemas mais limpos, que menos externalidades geram e mais benefícios promovem na vida de todos, bem como os modos mais sustentáveis, nomeadamente os transportes públicos, andar a pé e a bicicleta”. A este desafio juntam-se outros como “a integração modal dos modos ativos com os transportes públicos e a redução do tráfego nos centros urbanos, nas áreas residenciais e nas escolas”, mas também uma melhor adaptação da logística ao meio urbano, nomeadamente “através da criação de centros logísticos e de soluções locais de micrologística”. Face a estas necessidades, há vários anos que a Lisboa E-Nova participa ativamente na estratégia da cidade, com a missão de melhorar o desempenho energético, ambiental e climático dos sistemas de mobilidade. Entre projetos e iniciativas, estudos e trabalhos, candidaturas e campanhas de sensibilização, também nesta área a agência assume a liderança do processo de transição energética para a descarbonização.
PLANEAR, OBSERVAR E EDUCAR
O PAC Lisboa 2030 é, precisamente, um dos trabalhos conjuntos da Lisboa E-Nova e da Câmara Municipal de Lisboa com maior influência na estratégia da cidade. Este roteiro para a neutralidade carbónica da capital define uma abordagem em três dimensões e a primeira – Mitigação – é especialmente impactante no setor da mobilidade, por dizer respeito à redução das emissões. Entre as orientações estratégicas que estabelece para a década está, por exemplo, uma redução significativa do uso do automóvel na cidade, de forma a que este represente 34% das deslocações, enquanto as restantes 66% sejam realizadas em modos mais sustentáveis. Este documento serve também de base ao futuro Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) de Lisboa, que irá estabelecer com maior pormenor as ações e medidas do município para a implementação e promoção de um modelo de mobilidade mais integrado e sustentável. Além da Mitigação, o PAC Lisboa 2030 aborda outros dois vetores essenciais: a Adaptação, que prepara a cidade para as alterações climáticas, por exemplo através de corredores verdes que reduzem as ilhas de calor e aumentam as áreas permeáveis, e a Transição Justa, dedicada à componente social, com destaque para o problema da pobreza energética, que resultou, por exemplo, no lançamento da tarifa social solar.
O Plano de Ação Climática 2030 também define como prioridade “a gestão inteligente da informação”. Por isso, a Lisboa E-Nova e a Câmara Municipal de Lisboa criaram os Observatórios de Lisboa sob o lema “Conhecer para Reduzir”. Este trabalho fornece um retrato fiel dos diversos sistemas urbanos da cidade, entre eles a mobilidade. Nesta área específica, constata-se, por exemplo, que o transporte mais utilizado em Lisboa é o automóvel – 43,8% –, seguido do autocarro e do elétrico, com 19,8%, enquanto as deslocações a pé representam 15,6%. O Observatório da Mobilidade mostra, igualmente, que 34,1% das pessoas nunca andam de transportes públicos e apenas 15,7% usam este modo diariamente nas suas viagens (dados de 2020). A educação e a sensibilização, nomeadamente junto de crianças e jovens, é outra das missões da Lisboa E-Nova.
Nesse sentido, a Agência de Energia e Ambiente de Lisboa organizou a iniciativa Rua Escolar Ativa, que envolveu toda a comunidade escolar do Agrupamento de Escolas Professor Lindley Cintra (Lumiar), incluindo os seus 1 800 alunos, as associações de pais, as direções e os professores dos quatro estabelecimentos de ensino, bem como a Junta de Freguesia do Lumiar, e ainda contou com a visita de reputados especialistas em mobilidade dos Países Baixos. Tratou-se de uma “ação de urbanismo tático”, dedicada à promoção da mobilidade sustentável e à melhoria das ruas escolares, que acabou por dar frutos imediatos. “Um deles foi a ativação de duas linhas protótipo de comboios de bicicletas para os alunos e pais interessados se deslocarem para a escola. Destas, resultou uma nova linha de comboios de bicicleta, a 22.ª da cidade, que segundo consta é das mais participadas em Lisboa”, revelou Bernardo Campos Pereira.
UMA CIDADE COM PEDALADA
Lisboa é um dos municípios portugueses onde a mobilidade ciclável tem mais expressão e isso também já se reflete a nível internacional. Entre 275 cidades de 66 países de todo o mundo, a capital portuguesa foi uma das 10 selecionadas para o BICI – Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure, programa que ajuda a melhorar e a tornar mais abrangentes e inclusivas as redes cicláveis urbanas, através de ideias inovadoras. A proposta apresentada, preparada com o apoio da Lisboa E-Nova, pretende ajudar a melhorar as ligações escolares, a conetividade da rede ciclável da cidade e a consequente promoção do modo bicicleta. O principal objetivo deste projeto para três anos, apoiado tecnicamente pela Lisboa E-Nova e pela Global Designing Cities Initiative, é ligar escolas através de ciclovias seguras, servindo assim as populações escolares e as áreas envolventes. Desta forma, “procura-se promover o envolvimento social e a mobilidade ativa saudável e em segurança, em especial da comunidade escolar”, explica Bernardo Campos Pereira. “Simultaneamente, a proposta também se integra nas metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa para a descarbonização do sistema de mobilidade de Lisboa e encaixa com as metas da Missão Cidades Climaticamente Neutras e Inteligentes até 2030”, acrescenta.
Em 2022, a Lisboa E-Nova retomou a iniciativa Um Dia a Pedalar, Porque Não?, que desafia empresas, escolas e instituições de Lisboa e da Amadora (os dois municípios associados da agência) a incentivarem os seus funcionários a irem de bicicleta para o trabalho. No ano passado, esta iniciativa mobilizou 66 entidades e cerca de 300 pessoas no arranque da Semana Europeia da Mobilidade e, neste ano, espera juntar ainda mais ciclistas no dia 22 de setembro, Dia Europeu Sem Carros. Mais uma vez, o objetivo passa por sensibilizar a população para a importância dos modos ativos de transporte e, simultaneamente, tentar captar novos utilizadores depois de experimentarem a mudança. Por cada bicicleta a circular, por cada trajeto que se faz a pé, ou por cada vez que se opta pelos transportes públicos, é mais um passo que a cidade dá rumo à neutralidade carbónica.
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ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA LISBOA E-NOVA, AGÊNCIA DE ENERGIA E AMBIENTE DE LISBOA E FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO DE JULHO/AGOSTO/SETEMBRO DE 2023 DA SMART CITIES.