Lisboa, a menina e moça de outros tempos, já não é a mesma e tornou-se uma das capitais mais envelhecidas da Europa. Enquanto a cidade procura mudar esta realidade, a agência Lisboa E-Nova contribui com vários projetos e iniciativas que intervêm em diferentes áreas, como bairros resilientes e sustentáveis, água e energia, mas também a inovação e a saúde.
Combater o isolamento social e o envelhecimento na zona da Colina do Castelo, em Lisboa, é uma das missões do HUB-IN, um projeto europeu coordenado pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, que tem como objetivo principal a regeneração de áreas urbanas históricas europeias, através da inovação e do empreendedorismo. Nesta tarefa, a preservação da identidade dos bairros e o respeito pelos valores culturais e sociais são condições essenciais, por isso o envolvimento das comunidades e, em particular, o papel dos mais velhos, não pode deixar de assumir um protagonismo especial.
“Este projeto vai gerar soluções para combater uma série de problemas das áreas históricas urbanas onde questões como o envelhecimento da população e a gentrificação são centrais. Por exemplo, no programa de aceleração que estamos a desenvolver para os bairros do HUB-IN Colina do Castelo, estão a ser apoiadas ideias de empreendedorismo que irão ter um impacto social muito positivo nesta franja mais idosa da população. Uma das nossas preocupações é o isolamento social dos idosos e por isso estamos a fomentar intervenções em espaços públicos que permitam promover a sua utilização por parte dessas comunidades e aumentar a sua interação social e cultural”, diz Vera Gregório, coordenadora do HUB-IN. Outra das ideias passa por fomentar atividades intergeracionais que “juntem a população mais velha aos jovens que se pretende atrair para estas áreas históricas através dos HUBs de inovação – os nossos centros de experimentação e criatividade”, de forma a que esta iniciativa também se torne num espaço privilegiado de partilha e convergência, que cruze inovação e tradição. Não é por acaso que um dos clusters de inovação do projeto HUB-IN, é precisamente, os “lugares conectados e resilientes”, como sublinha a técnica da Lisboa E-Nova.
Esta necessidade é partilhada por Eduardo Silva, diretor da agência de energia e ambiente, para quem os “problemas do envelhecimento também se combatem criando condições para que haja empreendedorismo, inovação e atração da população mais jovem e de novas formas de vida”. Para ele, “esta bola de neve que se gera” poderá acabar por ajudar a população mais velha em diferentes níveis “seja na redução do isolamento social ou mesmo evitando que algumas lojas do comércio tradicional, muitas delas com proprietários idosos, acabem por fechar as portas”.
Menos pobreza energética, mais idosos saudáveis e ativos
Combater a pobreza energética é também uma forma de enfrentar os desafios do envelhecimento e a Lisboa E-Nova tem estado particularmente ativa nesta área. Para melhor compreender a realidade da cidade, a agência tem realizado um conjunto de inquéritos que pretendem avaliar as diferentes componentes deste complexo problema ao longo dos últimos três anos. No campo do conforto térmico, por exemplo, os resultados mostram que 40% dos inquiridos afirma ter dificuldade em manter a sua casa confortável durante o inverno, com maior incidência na população do Beato, Alcântara, São Vicente e Ajuda. Já sobre os edifícios, 59% refere que existe alguma ineficiência construtiva nas suas habitações, sobretudo no Beato, São Vicente, Santa Clara, Santa Maria Maior, Estrela e Marvila. E o que têm em comum estes dois resultados? Desde logo é possível constatar que em ambos os casos se tratam de freguesias bastante envelhecidas.
Sara Freitas, gestora de projeto da Lisboa E-Nova, realça outra temática do inquérito particularmente relevante para a população mais idosa, a saúde: “Mais de metade [54%] dos inquiridos considera que o desconforto térmico que sentem em casa tem impacto no seu estado de saúde”. Aprofundado mais o estudo (realizado em conjunto com a AdEPorto, o ISAMB – Instituto de Saúde Ambiental e o ICS – Instituto de Ciências Sociais) constatou-se “outro dado surpreendente que identifica a asma como a doença mais associada ao desconforto térmico, sobretudo no verão”.
Para combater a pobreza energética, a Lisboa E-Nova tem desenvolvido várias ações destinadas a aumentar a eficiência energética nos edifícios. Como diz Nuno Clímaco, especialista em eficiência energética, “existe a preocupação de envolver os grupos etários mais envelhecidos neste grande esforço que é a descarbonização dos consumos de energia”. Entre elas está a criação de um grupo de facilitadores técnicos que, em parceria com RNAE e juntas de freguesia, irá ajudar os habitantes da cidade a aproveitar as vantagens do programa Vale Eficiência, nomeadamente ao nível da seleção das melhores tecnologias. “Com isto queremos envolver faixas etárias que, eventualmente, estão menos predispostas à mudança, explicando-lhes por exemplo as vantagens de mudar um esquentador para uma bomba de calor, soluções que exigem sempre alguma habituação”, explica.
Eduardo Silva sublinha ainda que está em curso um projeto para a criação de uma loja de energia (one-stop-shop) em Lisboa. O objetivo, além da loja física, é dar origem a uma rede que permita ajudar os habitantes da cidade a escolherem medidas de eficiência energética, com especial atenção para as pessoas vulneráveis ou com menor literacia energética.
Outros temas poderão ser indutores de futuros projetos desenvolvidos pela agência, com impacto nesta temática, como a qualidade do espaço público, o efeito de ilha de calor, as acessibilidades, a mobilidade pedonal e de transportes públicos, a cidade dos 15 minutos ou a gentrificação. Múltiplos desafios que pedem abordagens transversais, com a Lisboa E-Nova a dizer presente neste desígnio da capital em promover um envelhecimento ativo e saudável.
Alfama, lugar de experimentação
O bairro histórico de Alfama, em Lisboa, serviu de palco a outros dois projetos com intervenção da Lisboa E-Nova, entretanto já concluídos, que tiveram vários pontos de contacto com a temática do envelhecimento urbano. Um deles chamou-se Alfama Smart Sustainable District (alfa-AMA SSD) e teve como missão ajudar a “criar um bairro mais sustentável e saudável para todos”, partindo de um conjunto de desafios iniciais: “o envelhecimento da população local em contraste com um crescente afluxo de jovens profissionais, os edifícios degradados que coabitam com outros luxuosamente reabilitados e os novos negócios que competem com o comércio local há muito estabelecido”. Como resposta, um grupo de especialistas externos da rede europeia SSD apoiou os técnicos locais na identificação de soluções e oportunidades que serviram de base de trabalho a projetos posteriores.
Outro trabalho desenvolvido em Alfama foi o SUSHI – SUStainable HIstoric city districts, em que a Lisboa E-Nova criou um piloto de Laboratório Urbano Vivo e deu origem à iniciativa São Vicente Cá Fora, dedicada a novas formas de utilização do espaço público. Neste âmbito, foi ainda lançada a ferramenta webSig – ALFAMA TOOLKIT, que permite aceder, por exemplo, a mapas com os espaços verdes e pontos de interesse locais, além de listar diferentes projetos realizados no bairro, atividades de urbanismo tático e histórias de sucesso em Alfama.
Fotografia de destaque: ©Shutterstock
ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA LISBOA E-NOVA, AGÊNCIA DE ENERGIA E AMBIENTE DE LISBOA E FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO DE JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO DE 2024 DA SMART CITIES.