Os tempos não estão fáceis. Se faz parte da grande fatia da população que está confinada em casa, os tempos não estarão a ser fáceis. Se faz parte da pequena fatia da população que está a trabalhar, os tempos também não estarão a ser fáceis.

Neste momento, passámos as primeiras grandes barreiras psicológicas ligadas ao fenómeno da COVID-19. Ao primeiro caso confirmado em Portugal, seguiu-se o primeiro óbito registado no país e, a partir daí, os valores começaram a aumentar, os casos tornam-se cada vez mais numerosos e menos controláveis.

O momento seguinte será a dúvida de quando (e não se) ficará infectada a primeira pessoa da nossa rede de contactos. De forma consciente e nada alarmista, reforço que é uma questão de quando irá acontecer e não de se irá acontecer. O ideal, claro está, seria que tal acontecesse o mais tarde possível, de forma a não só não sobrecarregar os serviços de saúde, mas também (e sobretudo) pela importância de todo o tempo possível para aumentar o conhecimento sobre as terapêuticas mais eficazes para debelarem a infecção. Mas, para isto acontecer, claro, será necessário sobrevivermos as estas profundas alterações nas nossas rotinas.

“Estar confinado por opção é uma coisa; estar confinado por necessidade e decreto, sem voto na matéria, é outra bem distinta.”

Caso esteja em casa, seja em teletrabalho, seja em apoio à família, a probabilidade de estar a pôr em dúvida o estado actual da sua saúde mental é – arriscaria a dizer – bastante elevada. Estar confinado por opção é uma coisa; estar confinado por necessidade e decreto, sem voto na matéria, é outra bem distinta.

Face a isto, seguem algumas sugestões práticas, simples e que podem fazer a diferença:

  • Reformule a situação. As palavras contam. Deixe de lado a noção de isolamento social utilizada até à exaustão pelos media e compreenda que o distanciamento físico não tem necessariamente de se traduzir em isolamento. Na verdade, este cria até espaço para a criatividade e novas formas de relacionamento social;
  • Proteja-se das notícias (sim, leu bem!). Claro que é importante mantermo-nos informados. Para isso, basta um contacto breve matinal e outro vespertino, de não mais de meia hora cada. E, claro, seja selectivo nas suas fontes e cuide de distinguir o essencial do acessório;
  • Regule as suas rotinas. Estar em casa não implica esmorecer no autocuidado, muito pelo contrário. Vista-se, tome banho, e, na loucura, arranje-se! Faca refeições como habitualmente, se possível até mais saudáveis;
  • Aproveite para revisitar antigos hobbies que deixou de praticar por falta de tempo ou para iniciar aquela tarefa que tem vindo a adiar pela mesma razão. Começar algo torna tudo mais fácil;
  • Ligue-se ao mundo. A tecnologia existe e não é um bicho papão e muito menos serve apenas para efeitos laborais. Faça videochamadas para as pessoas que lhe são importantes, recorra a redes sociais para se conectar. E, para combater o aborrecimento e a rotina, tem até uma variada programação cultural disponível online, da música à dança ou ao teatro e até visitas virtuais a museus.

Se faz parte da fatia pequena e continua a trabalhar no seu local habitual de trabalho, poderá sentir alguma estranheza adicional em toda a situação, percepção de injustiça, desvalorização e frustração pelo facto de a sua rede de contactos não estar disponível. As sugestões acima apresentadas podem ser adaptadas, mas gostaria de voltar a esta fatia num próximo momento.

Para terminar, reforçar a ideia de que, nesta altura, é natural que haja momentos mais complicados e mais vulneráveis. Procure ajuda, se for caso disso. Conecte-se com a sua rede de contactos ou, em situações mais complexas, recorra a apoio profissional.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.