Após um período de investigação decorrido no Japão sobre como as cidades japonesas estão a implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), constatamos que esta potência mundial criou e está atualmente a implementar o conceito de Sociedade 5.0 para tornar as cidades mais amigas do ambiente.
As cidades ganharam, neste milénio, mais relevância, pois é nelas que está atualmente mais de 50% da população mundial. Na União Europeia, as cidades acolhem mais de 70% dos seus habitantes e, no Japão, mais de 80%. As cidades ocupam apenas 2% do território, sendo aqui que se produz mais de 80% do PIB e da poluição. Também é nas cidades que se encontram os maiores desafios sociais, tais como a pobreza, o desemprego e a desigualdade.
Em 2015, as Nações Unidas aprovaram por unanimidade a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Esta agenda global veio reforçar ainda mais o papel das cidades, sendo hoje considerado que o sucesso deste programa depende essencialmente da forma como as cidades se comportarem.
O objetivo dos políticos e dos cientistas sociais é promover a qualidade de vida dos cidadãos e, por isso, o que resulta, após conhecerem o conceito do desenvolvimento sustentável (DS) e os ODS, é uma adesão, praticamente automática, a este roteiro para o desenvolvimento.
Todas estas razões fazem com que os decisores políticos a nível da administração central ou local estejam cada vez mais focados em resolver e melhorar a qualidade de vida das cidades. O impacto será social, económico e ambiental. Estas são as dimensões do DS e, por isso, o desenvolvimento urbano está diretamente relacionado com a sustentabilidade.

Os ODS são a primeira agenda global que aborda os desafios do desenvolvimento de forma holística, pluridisciplinar, integrada. Nesta perspetiva, cabem aqui os processos e os projetos físicos transformacionais, mas também aqueles digitais. Deste conceito, resulta o desenvolvimento “figital” (físico+digital) no qual os desafios da saúde, da educação, da administração pública, da gestão do património, da mobilidade, da justiça acontecem nos planos físicos e digitais simultaneamente. As smart cities (cidades inteligentes) vêm, pois, trazer e adicionar esta dimensão digital ao desenvolvimento. Considerando que todos nós, hoje, com intensidades diferentes, vivemos simultaneamente em mundos físicos e digitais, mas tendo a componente digital cada vez mais peso, é, pois, natural que a componente digital das cidades seja cada vez maior.
A tradução de “smart” seria, em português, mais “esperta” do que “inteligente” e, apesar de isto ser um detalhe, acredito que as cidades inteligentes serão sobretudo aquelas que irão evoluir digitalizando o seu ambiente urbano tendo sempre como objetivo inicial servir as pessoas.
Esta perspetiva “people-centric” (centrada nas pessoas), na qual ninguém fica para trás, foi a base para o governo do Japão criar e promover o conceito de Sociedade 5.0. Considera-se que, na Sociedade 4.0, as pessoas “corriam” atrás da tecnologia, ficando muitas vezes para trás. Já na Sociedade 5.0, a robotização, a inteligência artificial e a tecnologia de forma geral passam a ter como objetivo servir as pessoas e combater a infoexclusão.
Por todos os motivos apresentados em cima, existem há já algum tempo disciplinas como Cidades do Futuro, nas quais os alunos desafiam a atualidade, projetando anualmente as melhores formas de responder aos desafios dos cidadãos.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.