É na urgência de uma resposta rápida para travar a pandemia de Covid-19 que um grupo de fundadores de start-ups tecnológicas portuguesas se juntou para dar forma à iniciativa Tech4COVID19. Num movimento criado no último fim-de-semana, em apenas 48 horas, 120 empresas tecnológicas uniram-se para o desenvolvimento de soluções que permitam ajudar a população a enfrentar e ultrapassar os efeitos do novo coronavírus. O primeiro projecto que resulta desta união de forças é lançado hoje e trata-se de um crowdfunding para a aquisição de equipamento hospitalar.
O movimento surgiu de uma conversa informal entre start-ups e, em 48 horas, “numa onda avassaladora”, alargou-se a outras empresas e entidades de diversas áreas, juntando já mais de 800 pessoas e cerca de 120 entidades tecnológicas, incluindo nomes como os da AMBISIG, Bright Pixel, Farfetch, Deloitte ou NOVA IMS. No âmbito da iniciativa, estão a ser desenvolvidos 12 projectos, com propósitos diversos, mas que pretendem criar soluções tecnológicas para ajudar a população a responder aos desafios colocados por esta pandemia. O primeiro resultado desta iniciativa é apresentado já hoje e visa a criação de uma campanha de crowdfunding para a compra de equipamento hospitalar.
Muito em breve, deverão ser anunciados outros projectos, conta Liliana Pinho, da coordenação de marketing do Tech4COVID19. Uma ferramenta que “coloca em comunicação médicos e enfermeiros deslocados que estão a ser mobilizados para hospitais de primeira linha e que não moram nessa zona e precisam de sítio para ficar com hotéis e estabelecimentos de alojamento locais” ou “uma plataforma que vai ser desenvolvida para facilitar o acesso a videoconsultas, de modo a que o resto da população continue a ter algum apoio médico” são algumas das novidades em preparação. Mas não só, o Tech4COVID19 propõe-se ainda a criar formas de melhorar o rastreamento de redes de contágio, redes de suporte a quem precise de ajuda para ir às compras ou à farmácia ou um chatbot que tire dúvidas sobre os apoios concedidos pelo Estado a empresas ou particulares.

Nesta missão, a comunidade do Tech4COVID19 faz mais do que apenas criar a solução tecnológica. “Estamos a desenvolver tudo, isto é, desde o brainstorming até à disseminação dos projectos e temos pessoas de todas as áreas e que ajudam nos processos do princípio ao fim”, explica Liliana Pinho. Segundo garante a responsável, os projectos estão também a ser “acompanhados de perto” por pessoas que já trabalhavam em saúde e que conseguem fazer a ponte às entidades mais adequadas. “Estamos a trabalhar com a Direcção Geral de Saúde para saber se os nossos projectos têm realmente valor e estamos a trabalhar com médicos e enfermeiros que nos ajudam a perceber qual a melhor forma de abordar as questões”, esclarece.
Assim que estiverem prontos a funcionar, os projectos vão ser anunciados no portal e redes sociais do Tech4COVID19 e vão estar acessíveis a todos. Para a responsável, a tecnologia pode “sem dúvida” fazer a diferença numa situação como esta, mas, acima de tudo, há que destacar a espontaneidade e a vontade de ajudar que levaram à criação deste movimento. “É fantástico que estas pessoas, que não se conheciam, nem trabalhavam juntas, se tenham juntado em 48 horas e estejam a fazer coisas que, de certeza, nos vão trazer imenso valor e nos vão ajudar de alguma maneira. É absolutamente espectacular”, exclama.
“Há tanto talento, potencial e uma capacidade de fazer coisas tão grande dentro das start-ups portuguesas que a nossa motivação foi direccionar esse potencial para iniciativas que ajudassem toda a gente nesta fase difícil”, afirma, por sua vez, em comunicado, Felipe Ávila da Costa, porta-voz do grupo.
Sem certezas sobre o que poderá acontecer depois da Covid-19, a continuidade destes projectos dependerá de estes fazerem ou não sentido no novo contexto, diz Liliana Pinho. “Acredito que todos tenham continuação enquanto fizerem sentido e forem úteis para o propósito para o qual nasceram. Depois disso, logo veremos, [no entanto] isto só mostra que o talento que temos e a vontade de colaboração pode funcionar muito bem quando há um objectivo comum. Agora, estamos a concentrar-nos em pôr esforços em desenvolver rápido, para apresentar soluções rápidas e começar rapidamente a ajudar quem precisa e, depois, logo veremos”, conclui.