A praia de Matosinhos e a praia estuarina de Zebreiros, em Gondomar, têm instalado um novo sistema de sensores que poderá vir a revolucionar a forma de avaliar a qualidade das águas balneares. A experiência faz parte de um projeto internacional que, além de fazer a medição, também recorre à inteligência artificial (IA) para prever, quase em tempo real, potenciais riscos de poluição microbiológica.
Esta tecnologia já foi utilizada durante os Jogos Olímpicos de Paris para monitorizar os afluentes do Rio Sena (águas doces), enquanto em Portugal está a ser aplicada numa zona costeira (águas marinhas) e noutra do Douro (águas estuarinas). Na prática, utiliza a medição automática de diversos parâmetros ambientais e do indicador oficial de contaminação pela bactéria E.coli para antecipar a evolução da qualidade da água, tal como acontece com as previsões meteorológicas. Entre esses parâmetros estão, por exemplo, a temperatura e turvação da água, o vento ou a pluviosidade.

Colocação da sonda multiparamétrica frente à Praia de Matosinhos para avaliar a qualidade da água. © Lúcia Gomes
A grande vantagem da ferramenta é a rapidez com que permite obter informação, encurtando em muito o tempo necessário até à tomada de decisão das autoridades, como uma eventual interdição dos banhos. “Entre fazer a colheita da amostra, enviar para o laboratório, depois esperar pelo menos 24 horas para obter resultados, tudo com entidades diferentes, no total podem passar pelo menos 30 horas. Mas, neste caso, é possível ter, potencialmente, uma previsão no espaço de 15 minutos”, explica Adriano Bordalo e Sá, professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, que está a coordenar o projeto em Portugal. “É isso que o torna, efetivamente inovador, até porque ainda não foi feito [nada semelhante] em nenhuma parte do mundo”, acrescenta.
Para o responsável, o papel da inteligência artificial (IA) é essencial para este sistema inovador, uma vez que “permite que o próprio software vá aprendendo, ou seja, vai recebendo dados, como o vento, a temperatura ou a concentração de indicadores de contaminação fecal e, em vez de fazer médias e desvios padrões, permite integrar tudo para prever”. Na prática, significa que se uma determinada circunstância for alterada, como a turvação da água, é efetuada uma relação imediata entre ela e a concentração de bactérias, ajudando a prever se a água estará em condições dentro de um curto espaço de tempo.
O projecto Forbath – Forecasting the microbial water quality in urban inland and coastal bathing waters (“previsão da qualidade microbiana das águas balneares costeiras e águas balneares interiores em zonas urbanas”) é financiado pelo programa Eureka-Eurostars da União Europeia. Além do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, o consórcio internacional integra ainda a empresa francesa NKE – Marine Electronics, responsável pelo desenvolvimento do sistema de sensores; a empresa alemã Hydro & Meteo, que desenvolveu o software meteorológico para a previsão; a Universidade de Paris-Este Créteil; e a Escola Nacional de Pontes e Estradas do Instituto Politécnico de Paris.
Depois de ter revelado bons resultados em França, o projeto passa agora por uma fase de validação em Portugal que implica a realização de vários testes ao longo do dia, de modo a confirmar se os dados obtidos pelos sensores se revelaram verdadeiros. Estes vão continuar até ao final desta época balnear e serão retomados na próxima, em 2025. Se tudo correr como esperado, a tecnologia ficará disponível para uma eventual comercialização no mercado, tornando-se um precioso instrumento de saúde pública. Assim “haja vontade política de instalar estes sistemas na água”, conclui Adriano Bordalo e Sá.
Fotografia de destaque (Praia de Matosinhos): © Shutterstock