Um casal, ele engenheiro informático e ela consultora ambiental, trocou a cidade pelo campo, à procura de uma vida em proximidade com a natureza. Juntos criaram o projeto Biogoods, dedicado à agricultura de proximidade. Todas as semanas colhem o que a terra dá, em Cinfães do Douro, distrito de Viseu, para distribuir cabazes de alimentos biológicos, na cidade do Porto.
A colheita começa de manhã bem cedo, perto das 8 horas da manhã. Na terra húmida e fria há couve kale, couve tronchuda e lombarda para apanhar. Segue-se a acelga, rúcula e as ervas aromáticas que também vão, ao final do dia, fazer parte do cabaz de frutas e legumes biológicos. Tudo é feito na altura certa, com respeito pela natureza e no tempo determinado pelas estações. Enquanto caminhamos pela quinta, Jorge Santos, sócio-gerente da Biogoods, conta como tudo começou. Da ligação familiar à apicultura, à vontade de viver da e na ruralidade do interior do país. “Quando fiz o doutoramento na Alemanha, o meu orientador perguntou-me se queria seguir a via do ensino ou da indústria. Respondi-lhe que nem uma coisa, nem outra, o que queria mesmo era viver da agricultura”, recorda.
Do sonho à realidade foram três passos de conversa. Hoje, Jorge e a família – a mulher e dois filhos – vivem numa aldeia em Cinfães do Douro, no distrito de Viseu, a cuidar das frutas e hortícolas que produzem de forma biológica. Começaram com uma pequena produção de mirtilo e mel que foi crescendo, até chegar a mais de 30 produtos diferentes. Só de frutas, têm mais de 25 variedades. “Sou engenheiro informático, continuo a dar aulas no Instituto Superior de Engenharia do Porto, mas há 14 anos tivemos a oportunidade de comprar esta quinta e iniciar o projeto de agricultura biológica regenerativa. É aqui que pomos no campo muitas das nossas convicções, onde produzimos de forma sustentável. Não quereria fazer agricultura se não fosse em biológico”, diz Jorge Santos.

Jorge Santos, engenheiro informático, sempre teve o sonho de se dedicar à agricultura
Foi em resposta às convicções pessoais que, de forma natural, criaram a Biogoods, um projeto de sustentabilidade agroambiental, que promove as cadeias curtas de consumo, ao mesmo tempo que estabelece um preço justo para o agricultor e para o consumidor. Em 2020, integraram a Associação pela Manutenção da Agricultura de Proximidade (AMAP) do Porto e começaram a distribuir cabazes, quinzenalmente, na UPTEC Baixa. “Quando começámos a trabalhar com a AMAP percebemos que encaixamos imediatamente porque os princípios que medeiam a ação deles são exatamente aqueles que estiveram na base da criação do nosso projeto. Percebemos que os nossos produtos são muitíssimo bem aceites e temos criado um conjunto alargado de clientes que valorizam, não apenas os produtos biológicos, mas a forma como produzimos”, explica Jorge Santos. A elevada procura pelos produtos frescos e da época levou à criação de um segundo ponto de distribuição no Porto, no infantário Carolina Michaelis.
Para além da proximidade que vão mantendo com os consumidores, através do contacto pessoal nas entregas dos cabazes, a Biogoods promove visitas à quinta, num dia aberto que tem como objetivo mostrar aos consumidores as práticas de cultivo da Biogoods. O casal está agora a trabalhar num projeto de agroturismo, de forma a aumentar a rentabilidade económica da atividade que desenvolvem.
Este artigo foi originalmente publicado na edição n.º 46 da Smart Cities – janeiro/fevereiro/março 2025