Com a candidatura ao EEA Grants aprovada em Fevereiro, o projecto Cascais Smart Pole by Nova SBE pretende acelerar a caminhada do município rumo à neutralidade carbónica, através da dinamização de um laboratório vivo. A iniciativa, que vai receber um financiamento de 950 mil euros, dá continuidade a projectos pilotos que estavam já a acontecer no concelho e propõe novas “experimentações” não só tecnológicas, mas também sociais.
Promovido pela Fundação Alfredo de Sousa e desenvolvido pela Nova SBE, o projecto, com a duração de três anos, conta também com a camâra municipal de Cascais, a Cascais Ambiente, o CEiiA, o GET 2C, a Prio Bio, a Veolia e a ATM (Avfallsteknisk Montasje AS) como parceiros. Para fazer acontecer este laboratório vivo (living lab), que ganha forma em Carcavelos, no triângulo formado pelo Bairro de São Gonçalo, o campus da Nova SBE e a Praia do Moinho, estão previstas iniciativas em várias áreas, como energia, mobilidade, eficiência energética dos edifícios e respectiva qualidade do ar interior, economia circular na componente hídrica, resíduos e florestas e espaços verdes urbanos.
Experimentar é o conceito subjacente a qualquer laboratório vivo, mas o derradeiro objectivo é criar soluções possíveis de ser replicadas. O Cascais Smart Pole by Nova SBE não é excepção nessa matéria, até porque surge integrado no Roteiro para a Neutralidade Carbónica do município cascalense. “Depois de desenhado e experimentado nas diferentes áreas, podemos replicar”, diz Luís Veiga Martins, director executivo de Sustentabilidade da NOVA SBE. A explicação vem na forma de iniciativas previstas pelo projecto, começando pela implementação de uma comunidade de energia renovável que servirá como piloto “para replicar em todo o concelho”.
Outra proposta consiste na criação de um sistema de recolha de óleos alimentares usados que serão, depois, transformados em biocombustível (biodiesel B100), que, por sua vez, será incorporado na frota municipal, através, por exemplo, da primeira carreira de autocarros a biodiesel do município.
Já no âmbito de uma iniciativa para a redução do impacto ambiental associado ao consumo de água engarrafada, está pensado o lançamento da app H2Onde, que, através da georreferenciação, vai ajudar o utilizador a encontrar pontos de reabastecimento “oficiais” do projecto, sejam estes bebedouros públicos, sejam estabelecimentos comerciais que aderam à acção e disponibilizam “água da torneira free of charge”. Segundo o responsável da Nova SBE, “o projecto deve escalar para todo o município, criando condições para a criação de uma rede de refill, que incluirá equipamentos urbanos e pontos aderentes e uma comunicação direccionada para a sensibilização da redução do plástico em Cascais”.
Para além destas acções, o projecto vai também incorporar algumas das iniciativas pré-existentes no município, que serão “adaptadas, integradas e melhoradas para tornar o laboratório mais completo”, avança Luís Veiga Martins. Segundo o responsável, é o que irá acontecer com projectos como o TOMRA, o sistema de depósito de embalagens de bebidas instalado na Nova SBE, o BIOS, que inclui a produção de biomassa através do aproveitamento de CO2 de edifício, ou o Waste 4 Think, que implementou um sistema PAYT (Pay-as-You-Throw) piloto nesta mesma localidade.
Co-criação: cidadão como parceiro do living lab
Localizado numa zona diversificada, onde o residencial se mistura com o comércio local, a praia e o campus universitário, o projecto vai poder tirar partido tanto da proximidade a um centro de conhecimento, como das características de “bairro” que ali existem. “Esta área contempla vários espaços verdes abertos ao público, parques de estacionamento e ligações directas entre o campus e a praia, onde se cruzam residentes, visitantes, moradores, clientes dos diversos estabelecimentos comerciais, alunos e turistas e todos, de alguma forma, poderão fazer parte da criação de um novo conceito de desenvolvimento sustentável e, em particular, usufruir e vivenciar novas soluções tecnológicas, mas também experimentações sociais com vista a alinhar a comunidade com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável”, explica Luís Veiga Martins.
Desta forma, e para além das diversas entidades envolvidas, pretende-se que o cidadão actue também como parceiro neste laboratório vivo. De que forma? “O cidadão, na forma de associações de moradores, clubes de surf, escolas (comunidade escolar), será envolvido através da comunicação regular, podendo vir a participar com métodos de co-criação para ajudar no design do projecto no living lab”, responde Luís Veiga Martins. Numa iniciativa semelhante à que existe já no concelho com o City Points Cascais, o responsável ilustra: “Por exemplo, será desenvolvido um mecanismo de geração e troca de créditos de carbono que pretende responsabilizar os stakeholders pelas suas emissões de CO2 ou emissões evitadas resultantes de comportamentos sustentáveis. Ou seja, pretendemos criar um ecossistema digital sustentável no living lab, onde as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) evitadas podem ser valorizadas em créditos (tokens) e trocados por bens e serviços verdes”.
Depois de, em Fevereiro passado, receber a luz verde para a candidatura ao concurso EEA Grants “Implementação de projectos piloto de laboratórios vivos de descarbonização e mitigação às alterações climáticas”, no âmbito do programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”, o projecto vai agora decorrer durante três anos. No entanto, refere Luís Veiga Martins, este “será apenas o início daquilo que se pretende desenvolver em matéria de acção climática através deste e de outros projectos” em Cascais.
Fotografia de destaque: Instagram © NovaSBE (@nova_sbe)