As cidades são o futuro e, neste, as cidades querem-se inteligentes e a transição digital é incontornável. Foi este o mote para duas das sessões da manhã do primeiro dia do Portugal Smart Cities Summit, uma iniciativa da Associação Industrial Portuguesa (AIP), que arrancou ontem na FIL, no Parque das Nações.

Num painel sobre os desafios das cidades do futuro, onde participaram os presidentes das câmaras municipais (CM) do Seixal, Joaquim Santos, de Coimbra, José Manuel Silva, de Aveiro, José Ribau Esteves, e o vice-presidente da CM de Cascais, Miguel Pinto Luz, ficou claro que uma cidade inteligente é aquela que consegue responder de forma eficaz e sustentável às necessidades da sociedade, envolvendo os cidadãos.

Num contexto actual de desafio climático e de necessidades exigentes a nível económico e social, Joaquim Santos, numa opinião partilhada pelos outros participantes, afirmou que “a tecnologia é uma ferramenta que permite potenciar as respostas aos cidadãos e mitigar o impacto ambiental”. Contudo, se é verdade que a aposta na tecnologia da informação é incontornável e vantajosa a nível ambiental e dos processos de gestão e decisão das autarquias, também é verdade que passar do papel para o digital levanta alguns desafios.

Foi precisamente para falar desses desafios da transição digital e da necessidade da sustentabilidade do processo que o painel seguinte convidou o coordenador do departamento de Inovação, Investimento e Planeamento da câmara municipal do Fundão, Ricardo Gonçalves, a presidente da Agência da Modernização Administrativa, Fátima Madureira, o presidente da junta de freguesia da Estrela, Luís Newton, e o CEO da Global e-Sustainability Initiative (GeSI), Luís Neves.

De acordo com Luís Neves, “estamos muito longe de termos cidades inteligentes”, apesar de se estar a ir pelo “caminho certo”. Para o representante do GeSI, ainda “há muito a fazer em termos de investimento nas tecnologias de informação”, referindo o potencial do 5G como “gamechanger” para o funcionamento das cidades ao permitir ligar os sectores de actividade, gerar inovação e melhorar a vida dos cidadãos. Ressalvou, no entanto, que este caminho deve assegurar o acesso generalizado a estas tecnologias para se evitar um digital divide e deve ser acelerado, uma vez que o “relógio [para o combate às alterações climáticas] está a contar”.

Neste panorama, a questão do investimento na educação e retenção das pessoas é também outro dos temas que as cidades não podem ignorar para se tornarem mais inteligentes, inclusivas e resilientes. Nessa manhã do primeiro dia do Portugal Smart Cities Summit, os vários oradores reiteraram a necessidade de uma matriz produtiva qualificada e criativa, com competências digitais, para estimular a aposta de empresas inovadoras nas autarquias e de se incentivarem políticas activas de emprego para que a formação ocorra também em contexto do mercado de trabalho.

Os autarcas referiram também como desafios a falta de coesão territorial, a excessiva centralização e alguns desequilíbrios de financiamento dos municípios que consideram estar subjacentes ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A este propósito, Miguel Pinto Luz declarou que a visão pouco integrada do PRR limita o ritmo de crescimento de Portugal “sob pena de perder o comboio da transição tecnológica”. Por sua vez, José Manuel Silva é da opinião que os municípios “não devem olhar para o PRR como uma solução” e devem focar-se em desenvolver bons projectos, capazes de captar outras fontes de financiamento.

Depois da prova dos nove para os municípios no âmbito da pandemia de Covid-19 e depois de na COP26 os Governos centrais não terem chegado a acordo, “quando as cidades já estão dez passos à frente”, Miguel Pinto Luz realçou o papel de liderança das cidades, lamentando também aquilo que percepciona como uma “vontade crónica do Estado central de condicionar municípios”, que os impede de se “poderem organizar de forma mais eficiente”. Ribau Esteves chegou mesmo a afirmar que a “descentralização que é mais precisa (…) é a da decisão”.

Homenagem a Almeida Henriques

O primeiro dia da 7.ª edição do Portugal Smart Cities Summit ficou também marcado pela homenagem a António Almeida Henriques, que faleceu este ano devido a complicações decorrentes da Covid-19, e que foi, em vida, um dos principais autarcas dinamizadores do tema da inteligência territorial em Portugal, assumindo, enquanto presidente da CM de Viseu, funções também como presidente da Secção de Cidades Inteligentes da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).

Neste sentido, o presidente da AIP, Jorge Rocha de Matos, anunciou o lançamento do prémio “Portugal Smart Cities Summit António Almeida Henriques” em 2022, que visa reconhecer o município que mais se destaque em cada ano no âmbito das medidas promotoras de cidades inteligentes.

Entre hoje e amanhã, o Portugal Smart Cities Summit irá continuar em formato misto – presencial e on-line –, promovendo oportunidades para diálogo entre empresas, autarquias, unidades de investigação e um programa de conferências sobre as várias dimensões das cidades inteligentes.

 

Fotografia: ©Portugal Smart Cities Summit – AIP