Pegar no evento desportivo mais antigo de Portugal, actualizá-lo e fazer dele “o grande evento de mobilidade activa neste país”. Foi assim que Ana Santos, professora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, expressou a sua ambição, no final da sessão de apresentação do projecto Dar a Volta, que ontem teve lugar no salão nobre da faculdade em que lecciona.
O que, em 1927, fora uma verdadeira epopeia, hoje qualquer pessoa pode fazer, cada um ao seu ritmo, uns a competir com os tempos da primeira edição da Volta a Portugal em bicicleta, outros em ritmo de passeio, a descobrir cada aldeia e cada paisagem. Os coordenadores do projecto, Ana Santos, David Vale e Fernando Marques, querem promover a mobilidade activa entre localidades e desbloquear o potencial turístico e económico que o cicloturismo já representa por essa Europa fora. A professora da Faculdade de Motricidade Humana falou, em exclusivo, à Smart Cities e desvendou o objectivo: “dotar todo aquele percurso de uma infra-estrutura segura”, fomentando a “competição entre autarquias para tornar estes percursos seguros para percorrer de bicicleta”. A inclusão é, aliás, central e será também por isso que os responsáveis pelo projecto vão percorrer as várias etapas com a ajuda de bicicletas eléctricas.
A primeira etapa do Dar a Volta vai ter lugar no próximo dia 26 de Abril e será a única a realizar-se durante a semana, já que a data marca uma efeméride: a Volta a Portugal completa 90 anos de existência. E “estão todos convidados a participar”, numa espécie de massa crítica, “uma coincidência por estarmos todos ali”, já que não se quer “nenhum evento com uma mota à frente e outra atrás”, conta-nos Ana Santos, que até convidou a polícia a participar, na esperança de que o faça de bicicleta.

Ana Santos pretende realizar uma análise etnográfica e das condições do terreno e da infra-estrutura de todos os locais por onde passam, comparando as condições de antes com a realidade de hoje. “Naquela altura, os caminhos [eram] em pó, neste momento nem caminhos em pó temos para bicicletas”. E, completa, se agora é verdade que “temos estradas a mais”, também é verdade que “temos estradas a menos para andar de forma segura”.
Faz também parte das ambições dos criadores do projecto o lançamento de uma caderneta que possa vir a ser preenchida com “selos verdadeiros sobre cada etapa e com figuras alusivas”, produzidos pelos CTT, com quem os mentores do Dar a Volta esperam vir a firmar uma parceria.
Para dar início à volta, a organização conta já com apoios de peso, entre os quais está a Comissão Nacional da UNESCO, que dá, “do ponto de vista cultural, muita importância ao projecto”, que passa em geo-parques e áreas “como a vinha do Douro e a parte ligada ali a Paiva”. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) está interessada “em que a sinaléctica do percurso da Volta a Portugal aponte para sítios de importância”. Associados ao projecto estão também o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), a secretaria de estado da Juventude e do Desporto, a CP (Comboios de Portugal), a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) e a MUBi (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta).
Durante a volta, cuja última etapa terá lugar a 15 de Maio de 2018 e percorrerá os quilómetros finais entre Caldas da Rainha e Lisboa, todos os municípios abrangidos pelo percurso serão sensibilizados para a importância de criar “a primeira rota segura de mobilidade activa de ligação inter-cidades”, assim como para o potencial que esta representa para a economia local e o desenvolvimento regional. Será, igualmente, lançado o apelo aos operadores de transporte ferroviário e rodoviário para que integrem a bicicleta nas suas opções de mobilidade, numa clara tentativa de promoção da inter-modalidade.