#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.

As cidades são como os seres humanos: têm um corpo e têm uma alma. (…) O corpo das cidades são as ruas, as praças, carros, lojas, bancos, escritórios, fábricas, coisas materiais. A alma, ao contrário, são os pensamentos e sentimentos dos que nela moram.”

Na última rubrica, A cidade como forma de contacto, refletimos sobre a forma de interação entre o espaço físico da cidade e a comunidade – ou, utilizando as palavras do autor Rubem Alves na citação acima, entre “o corpo” e “a alma” da cidade -, o que nos permitiu perceber que, no espaço público, encontramos as ferramentas necessárias à construção e ao fortalecimento do sentido de pertença e comunidade.

Mas para que estes espaços públicos se tornem atrativos e numa “forma de contacto”, é importante a presença de capital humano que crie atividade, que dinamize e revitalize esses mesmos espaços.

É, neste sentido, que hoje vos convido a refletir sobre os atores da cidade, as personagens que moldam a nossa perceção do que é viver em comunidade. “E quem são eles?”

“Afinal de contas, quando os pisos térreos se encontram abertos, é possível trazer nova vida à cidade, atrair novos visitantes, incentivar à reabilitação do edificado e à procura habitacional, fixando a população”.

Torna-se óbvio que todas as pessoas que pisam diariamente solo urbano geram dinâmicas, trocas e vivências que o caracterizam. Contudo, centremos esta reflexão num dos atores mais permanentes, os comerciantes, que trabalham diariamente na cidade construindo a sua história. São eles que ativam todos os dias o sistema urbano, abrindo o seu estabelecimento para receber os utilizadores da cidade. O seu posicionamento, no piso térreo, confere-lhe uma relação privilegiada com o espaço público, que, bem trabalhada, poderá ter um poder metamórfico sobre as suas dinâmicas. Afinal de contas, quando os pisos térreos se encontram abertos, é possível trazer nova vida à cidade, atrair novos visitantes, incentivar à reabilitação do edificado e à procura habitacional, fixando a população.

Esta relação interdependente entre a cidade e o comércio é destacada por vários autores que, por variadíssimas razões, classificam o comércio como “uma função eminentemente urbana”. Pirenne afirma que “as cidades são filhas do comércio”; Max Weber acredita que “a cidade é um lugar de mercado”; e Teresa Barata Salgueiro defende que estas atividades de troca “explicam a localização das urbes em pontos estratégicos das vias de comunicação”, sintetizando a sua importância para a vitalidade e viabilidade da cidade em quatro pontos:

  1. Como elemento importante da economia urbana, participando diretamente na criação de riqueza e de emprego;
  2. Como contributo para a definição de núcleos urbanos, com capacidade para atrair visitantes e fixar moradores;
  3. Como elemento decisivo da paisagem urbana, moldando e transformando as ruas e praças da cidade;
  4. Como meio de intervenção urbanística, tornando-se visível a importância deste sector como forma de regenerar e revitalizar centros urbanos em declínio. Exemplo disso foram os programas municipais implementados à escala nacional (ex. PROCOM, URBCOM) e projetos atuais de reabilitação e regeneração urbana (ex. Porto Vivo, Rés-do-chão) que têm surgido nos últimos anos.

Em síntese, citando novamente Teresa Barata Salgueiro, “O COMÉRCIO FAZ PARTE DA RAZÃO DE SER DA CIDADE. Viabiliza a sua existência, explica a sua organização e justifica muito do movimento e animação que nesta acontece.” Preserva e testemunha a história da cidade, tem uma importância significativa na salvaguarda da identidade material e imaterial de um povo E DESEMPENHA UM PAPEL INDISPENSÁVEL NO INCENTIVO À VIDA EM COMUNIDADE.

Vamos reativar os centros urbanos, porque cidades ocupadas são cidades com VIDA, ou seja, cidades que conVIDAm!