Foi publicado, no site da Associação Zero, o texto “Guimarães, Seixal e São João da Madeira no TOP3 nacional na recolha seletiva de biorresíduos”, no qual a Associação Zero se refere ao sistema de recolha de biorresíduos em sacos verdes como um “descalabro”. Este texto foi já replicado por alguns meios de comunicação social, sem questionamento, pelo que vimos informar o seguinte:
- O artigo cita o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal 2024, produzido pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) com dados de 2023 e não de 2024, conforme o texto refere.
- Se os dados referidos pela ZERO se reportam 2023, estão errados. Ao ler-se “Cascais, com uma população de 190.000 pessoas, recolheu 3.500 toneladas, o que se traduz em 18kg por habitante”, percebemos a falta de rigor na recolha de informação. Cascais tinha, em 2023, 219 mil habitantes (Portadata/INE). Entre o início e o final do ano de 2023, a população abrangida pela recolha de biorresíduos de Cascais, aumentou progressivamente. No final desse ano, toda a população tinha acesso a este sistema de separação de biorresíduos.
- A ZERO é omissa em relação à recolha de cortes de jardins em Cascais, na tabela que se propõe comparar alguns municípios, ignorando a parcela significativa dos Biorresíduos totais (alimentares + jardins), apesar dessa informação estar clara no RASARP. Em 2023, Cascais recolheu 33.466 toneladas de biorresíduos dos quais se incluem 29.296,32 de jardins. Se considerarmos o valor, a capitação anual é de 155,6 kg/habitante, o mais alto entre todos os municípios referidos na tabela. Estranhamente, esse valor não está referido no artigo da ZERO, apesar de estar disponível no RASARP.
A ZERO chega a conclusões com pouca aderência à realidade quando sustenta que a recolha em co-coleção é um “descalabro”, referindo que “o modelo da co-coleção, com utilização de sacos óticos (…) baseia-se apenas na sensibilização da população que, embora tenha recebido um balde para a separação na cozinha e sacos específicos de cor verde, entrega de forma voluntária estes resíduos nos contentores do indiferenciado. Este sistema não implica nenhum tipo de controlo sobre a deposição correta e, na ausência de falta de instrumentos financeiros ou penalizações, quase não produz alterações ao comportamento do cidadão.”
Os nossos dados comprovam que o modelo adotado, baseado na sensibilização porta-a-porta e no conforto para os munícipes, que não precisam de horários específicos, nem de mudar de hábitos de deposição, para cumprirem voluntariamente a separação de restos de comida em casa, dá frutos. Em 2023, ainda sem cobertura total do território, conseguimos com este sistema – complementado recolha dedicada a produtores significativos, como restaurantes – mais de 4 mil toneladas. Em 2024 esse valor ascende às 6 mil toneladas e, para 2025, mantendo a taxa de crescimento do último semestre de 2024, estimamos chegar às 6,7 mil toneladas.
A transparência é outra característica da recolha de resíduos em Cascais e, especificamente, dos biorresíduos. As entregas à Tratolixo são pesadas e divulgadas todos os meses, no Residómetro, um mostrador online consultável por todos, disponível no site Ambiente Cascais. À data de hoje, qualquer pessoa pode verificar que, nos primeiros 2 meses de 2025, entregámos à Tratolixo 1.033 toneladas de biorresíduos alimentares e 4.722,52 toneladas de cortes de jardins.
Os custos para Cascais em 2024 foram:
- Investimento real (depois de retoma da TGR e da taxa da Tratolixo): €424.134,45
- €1,97/habitante (215 mil habitantes)
- €125/ton
Cascais espera atingir um custo por tonelada de €13 quando a recolha atingir 80% do potencial de biorresíduos que se encontra hoje em RSU.
Dúvidas quanto ao sistema?
Cascais, Oeiras, Sintra e Mafra optaram por um sistema que adota a triagem em alta, na Tratolixo, com um investimento conjunto e co-financiado e que poupa milhares de euros aos municípios, uma vez que usa os mesmos contentores de rua, os mesmos camiões de recolha, as mesmas equipas.
No cômputo global, os Municípios do Sistema TRATOLIXO recolheram, seletivamente, 43% do objetivo definido para 2030 de biorresíduos (alimentares e resíduos verdes) tendo atingido uma capitação média de 76 kg/hab/ano, contribuindo, portanto, ao contrário do que sustenta o texto da ZERO, para o efetivo cumprimento das taxas de reciclagem deste material em 2030.
Importa referir as mais-valias económicas desta recolha que, de acordo com dados da Tratolixo, representa, para os quatro municípios, uma poupança de 5 milhões de euros por ano, 55% a 74% menos oneroso do que outros sistemas estudados como a recolha dedicada e porta-a-porta, com uma poupança de 850 mil litros de combustível /ano.
As poupanças para o ambiente também são de valorizar. Os estudos levados a cabo para a implementação do sistema demonstram que, quando comparado com os modelos de contentorização específica e recolha dedicada, o sistema de sacos óticos poupa: 2.250.000 kg CO2/ano, ao usar as mesmas viaturas de recolha e lavagem em circulação nos quatro municípios, e 300.000 m3 de água em lavagens de contentores “porta-a-porta” e contentores na via pública.
O texto acima é da responsabilidade da entidade em questão, com as devidas adaptações.