Por:  Andreia Vilas Boas, Sector Specialist da Deloitte, e Bruno Marques, Associate Partner da Deloitte

A humanidade enfrenta uma das mais importantes cruzadas, podendo a atual geração ser a primeira a compreender plenamente os desafios que as alterações climáticas colocam e, ao mesmo tempo, a última a poder inverter o rumo. A Circularidade surge como uma resposta necessária aos antigos modelos de crescimento, para enfrentar esta luta e assim alcançarmos a sustentabilidade esperada.

A utilização dos recursos quase que triplicou nos últimos 40 anos, tal como se tivéssemos ao nosso dispor 1,75 planetas Terra, e só restruturando os atuais modelos socioeconómicos, juntamente com novas soluções e mudanças de comportamento, poderemos enfrentar estes desafios em equilíbrio e construir um futuro sustentável. No entanto, combater estes desafios não se resume apenas a reduzir as emissões de carbono, pois há que considerar outros aspetos tais como a pegada ecológica e material ou o exagerado consumo de recursos, como a água azul (recursos hídricos superficiais e subterrâneos), entre outros.

A incorreta gestão da biocapacidade do planeta está no centro da discussão, já que existe um grande desperdício de recursos e de energia ao longo do processo, que, reaproveitados, permitiam reduzir a nossa pegada ambiental.

As cidades estão na linha da frente para a transição “verde”, sendo fundamentais no combate às alterações climáticas, ainda que sejam grandes consumidoras de recursos e emissoras de gases com efeitos de estufa, sendo responsáveis por mais de 60% das emissões e dos resíduos, segundo as Nações Unidas.

As cidades têm acesso a mais investimento e conhecimento e têm o potencial de criar economias de escala propícias a projetos pilotos e a escalar novas ideias e conceitos. Uma boa notícia é que 90% das emissões nas cidades podem ser cortadas até 2050 através do recurso a tecnologias e práticas já existentes, conforme constatou a Coalition for Urban Transitions. Temos também um leque enorme de oportunidades de financiamento e investimento num futuro próximo (e.g. a transição climática e a sustentabilidade dos recursos é um dos eixos definidos por Portugal com cerca de 100.000M€, previstos no quadro financeiro plurianual).

De facto, apenas 8,6% do planeta é circular, segundo a Circle Economy, havendo uma enorme lacuna e, por conseguinte, bastantes oportunidades no domínio da circularidade dos recursos.

Nesse sentido, a Deloitte tem como prioridade o desenvolvimento de projetos diferenciadores e de ativos tecnológicos que suportem as organizações nesta transição, desde a definição dos objetivos e caminho a seguir até à implementação das ações necessárias à sua concretização.

Em linha com o nosso estudo “Urban Future With a Purpose: 12 Trends Shaping the Future of Cities”; a economia circular e a produção local, o planeamento verde dos espaços públicos, os edifícios e infraestruturas sustentáveis e inteligentes, a mobilidade inteligente, sustentável e as-a-service, e a gestão inteligente de operações urbanas podem ter um impacto mais direto ou transformador nas emissões, no melhor aproveitamento e gestão dos recursos e no desenvolvimento sustentável, promovendo o contributo das cidades no combate às alterações climáticas.

Ao nível da economia circular, podemos adotar medidas para reduzir o consumo, reaproveitando os resíduos (e.g. novos usos, novos produtos ou produção de energia), e, juntamente com outras tendências, alavancar soluções para combater o desperdício e o uso desmedido dos recursos, contribuindo, assim, para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. De facto, apenas 8,6% do planeta é circular, segundo a Circle Economy, havendo uma enorme lacuna e, por conseguinte, bastantes oportunidades no domínio da circularidade dos recursos.

Sendo certo de que precisamos de uma eminente mudança de paradigma e de uma nova mentalidade, mas que não há uma fórmula única, é importante agir de forma integrada e holística, com o objetivo de tornar a gestão das cidades, dos seus recursos e infraestruturas, o mais inteligente, eficiente e resiliente possível, satisfazendo as necessidades de todos dentro dos limites do planeta e tendo soluções, políticas, incentivos e o compromisso cívico alavancados na tecnologia ao serviço do progresso.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.

ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA DELOITTE