Por: Filipe Piteira Ganhão, DCE Health & Human Services | Life Sciences & Healthcare Technology Leader, da Deloitte.

Imagine-se numa fase da sua vida em que, com mais idade, mais lento e menor mobilidade pretende continuar a usufruir da cidade onde vive e a sentir-se bem integrado. Não é assim tão difícil de imaginar e é, de facto, um desafio enorme em muitas cidades por todo o mundo.
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À medida que nos aproximamos de 2050, há uma realidade inegável que se avizinha: o envelhecimento acelerado da população em áreas urbanas e a preparação das cidades. Em Portugal, por exemplo, a tendência é de um aumento constante no número de cidadãos seniores, uma realidade que é espelhada em muitos países europeus. Estima-se que em 2050 mais de um terço da população portuguesa tenha 65 anos ou mais. Este cenário impõe a necessidade de uma transformação urbana que alie a inovação tecnológica à inclusão social, visando criar cidades não apenas inteligentes, mas também mais humanas e, principalmente, amigas da longevidade (age-friendly). 

A OMS estuda de perto este tema há muitos anos e tem definido um conjunto de áreas de atuação nas quais as cidades se devem focar para garantir o devido apoio aos cidadãos seniores. Estas áreas englobam transportes, habitação, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, apoio comunitário e serviços de saúde, assim como espaços exteriores e edifícios. 

Neste contexto, é crucial o papel da transformação digital das cidades para endereçar temas como: saúde (monitorização remota da atividade e saúde de pessoas seniores), navegação em ambientes urbanos complexos, mobilidade através de transportes devidamente preparados, aproximação e inclusão em comunidades sociais, entre muitos outros exemplos. 

Alguns países europeus têm sido inovadores na implementação de tecnologias e soluções neste contexto. Na Holanda, sistemas de iluminação urbana adaptáveis não só melhoram a visibilidade, como também são ajustados para serem menos intrusivos e mais confortáveis para os idosos. Na Alemanha, a digitalização dos serviços de saúde tem permitido um acesso mais fácil e seguro aos cuidados médicos para a população idosa, uma iniciativa que se alinha com o conceito de cidades inteligentes e inclusivas. Na Finlândia, a utilização de veículos autónomos está a promover a mobilidade de pessoas seniores, garantindo não apenas segurança, mas também independência e dignidade.  

O desafio do envelhecimento da população nas cidades é uma oportunidade para redefinir o futuro urbano e a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas também um facilitador. As cidades estão a transformar-se em espaços que promovem a inclusão e a acessibilidade, onde a tecnologia avançada e a preocupação social se entrelaçam para criar ambientes verdadeiramente amigos da longevidade, seja para os cidadãos seniores atuais ou futuros.   

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.

ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA DELOITTE E FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO DE JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO DE 2024 DA SMART CITIES.