Innovation District é o novo projecto de “urbanidade” que vai nascer em Almada e que terá como epicentro o campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT NOVA). Apresentado ontem, numa sessão on-line que contou com a presença da autarca local Inês de Medeiros, este bairro de inovação vai abranger o Monte da Caparica e Porto Brandão, propondo-se a criar uma nova centralidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML) capaz de atrair talento e investimento estrangeiro e de competir com o modo de vida “californiano”.

Partindo do conceito “live-work-play”, o projecto quer criar uma “nova cidade”, assente na inovação, sustentabilidade e qualidade de vida e sendo “ecologicamente irrepreensível”, afirmou a presidente da câmara municipal de Almada (CMA). Tendo na Universidade Nova de Lisboa (UNL), em particular na FCT NOVA, o seu ponto de partida e motor, o projecto engloba uma área de 399 hectares, na qual se incluem o campus desta faculdade, o Monte da Caparica e o Porto Brandão.

Os planos para o Innovation District incluem uma mistura entre o sector residencial, empresas de base tecnológica, turismo e geração de conhecimento, através da universidade e da criação de um hub de inovação, alicerçada na ideia de qualidade de vida, sustentabilidade e harmonia com a natureza. Para isso, o novo bairro pretende tirar partido não só da sua localização geográfica, na sua proximidade estratégica a Lisboa, mas também do património existente e das condições naturais e paisagísticas singulares de Almada, com destaque para a proximidade às praias da Costa de Caparica.

 

 

Colocando isto em plano, está prevista a intervenção com a criação de 250 mil metros quadrados de actividades económicas, que deverão resultar em 17 mil postos de trabalho, e ainda a construção de 1000 novos fogos habitacionais para receber os 4500 novos habitantes que o projecto estima atrair. O turismo não foi esquecido, estando destinados 86 mil metros quadrados ao sector, assim como as áreas verdes, que deverão ocupar 110 hectares, incluindo parques urbanos e a recuperação das vinhas de Almada.

Uma lógica de proximidade, materializada no conceito de cidade dos 15 minutos desenvolvido por Carlos Moreno, serviu também de inspiração à ideia. Isto porque se pretende que “os diversos pontos de atracção estejam a uma curta de distância de 15 minutos”, sublinhando, desta forma, a aposta na mobilidade sustentável e “a estruturação do desenvolvimento urbano em torno dos espaços verdes”. A par disso, há ainda ambição de criar uma comunidade de energia, com produção própria, e de integrar métodos e soluções construtivas ecológicas e sustentáveis. “[O Innovation District] Não será um dormitório ou uma zona onde meramente se vá, nem um novo parque empresarial e tecnológico. Vai ser um local para estar e ser”, referiu José Ferreira Machado, vice-reitor da UNL durante a apresentação.

Enquanto se posiciona para atrair novas pessoas e empresas para o território, o Innovation District terá também uma componente integradora face ao tecido social existente, procurando “criar comunidade dentro de uma coerência”, garantiu a autarca almadense. Factores como a criação de empregos “de qualidade e com boas remunerações”, a requalificação do património existente ou a disponibilização de equipamentos à população vão, segundo a governante, criar “uma dinâmica de toda a comunidade” que permitirá “garantir” a igualdade. “O projecto é fundamental no combate à desigualdade e estigmatização”, salientou.

“O principal activo para triunfar na economia do conhecimento são as pessoas: o seu talento e as redes que estabelecem entre si. É esta a génese do Innovation District”, disse José Ferreira Machado. “Mas as pessoas precisam de sítios para viver e para interagir: lugares onde possam residir, trabalhar, conversar e usufruir dos seus tempos livres, ou seja, precisam de cidades como aquela que irá nascer em Almada e que irá reforçar a internacionalização da região da grande Lisboa”, acrescentou.

Parceria entre privados, alavancado pela UNL

Embora liderado pela UNL e com o apoio estratégico da câmara municipal de Almada, a iniciativa “não é um projecto da Universidade, nem público”, mas representa uma “concertação de esforços de múltiplos investidores privados”, cujo investimento rondará os 800 milhões de euros, explicou José Ferreira Machado. Neste montante, que o responsável atribuiu à primeira fase do projecto, não se incluem investimentos que serão feitos em acessibilidade e infraestruturas públicas, tais como a reabilitação pública de Porto Brandão e a extensão do Metro Sul do Tejo até à Costa de Caparica.

Para além da UNL, há mais nove proprietários e investidores envolvidos no projecto: Cordialequation Unipessoal, Lda. Rustik Puzzle, Lda., SOSTATE, SA, Maia e Pereira, AS, Egas Moniz Cooperativa de Ensino Superior, CRL, Emerging Ocean Unipessoal, Lda., RIO CAPITAL, Lda., Orbisribalta – Investimentos Imobiliários e Turísticos, SA, Fundação Serra Henriques.

“Estes investidores aceitaram adaptar projectos individuais em prol de um projecto colectivo”, adiantou Inês de Medeiros, garantindo que “este é o grande projecto de Almada”. “[Tivemos anteriormente outros projectos que] Eram muito grandes, mas teóricos. Muitos destes projectos [incluídos no Innovation District] já entraram na CMA para licenciamento. À semelhança de outros municípios, estamos a rever o Plano Director Municipal e, dentro do que é possível arrancar, há seis ou sete projectos que já estão prontos para isso, e também nós, na parte que nos cabe de requalificação de espaço público, estamos a avançar. No terreno, este projecto já está a existir”, assegura.

“Melhor do que Barcelona”

A concepção do Innovation District começou em 2019, mas a sua materialização no território vai acontecer “gradualmente” e os impactos “deverão ser visíveis num horizonte de dez anos”. Para já, o primeiro passo é “mudar o look and feel” do campus da FCT NOVA, avançou o vice-reitor. Segundo o responsável, em marcha estão iniciativas com vista à melhoria da eficiência energética e requalificação do que está já construído no campus, às quais se junta o hub de inovação, e cuja “parte dos financiamentos são comunitários, ainda do Portugal2020”.

Além das fronteiras do campus universitário, o Innovation District apresenta-se como um argumento para a competitividade do território almadense e a ambição é que seja um factor de atracção de talentos e de investimento estrangeiro, assim como uma alavanca para a internacionalização não só de Almada, mas de toda a AML. “Os elementos de qualificação de território estão muito presentes neste projecto e isso é determinante para atrair investimento estrangeiro”, declarou Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, também presente na sessão.

Um dos investidores internacionais envolvidos no projecto é Marcelinno Graf von Hoensbroech, que deu o seu testemunho sobre a iniciativa, admitindo que “este é um projecto complexo”. No entanto, para este empresário, que vive actualmente em Porto Brandão, o potencial do território em concreto torna a decisão “muito lógica” – “Pensar em competir com a Califórnia não é pensar em grande, mas é o tom certo (…) Este é um local muito melhor do que Barcelona e [os portugueses] devem começar a dizê-lo”, disse. Recorde-se que Barcelona tem, também ela, um distrito de inovação, o 22@, em Poblenou, uma antiga área industrial da cidade que, através de um projecto de regeneração urbana, na viragem do século, se tornou num espaço de eleição para empresas tecnológicas e palco de inúmeras acções piloto na área das smart cities.

Para além da promoção internacional, “consenso” é, para o reitor da UNL, João Sàágua, algo que será determinante para a concretização desta nova cidade em Almada. Numa nota final à apresentação da iniciativa, o reitor da UNL lembrou que este é um projecto que, pelo seu horizonte temporal, “transcende reitores, gestores autárquicos e até governos”.