Alcançar uma redução de 80% nas emissões de gases com efeito de estufa é a meta traçada pela União Europeia para 2050, mas, ainda que a data pareça longínqua, este é um caminho que é preciso começar a percorrer o quanto antes. É, pois, com o objectivo de promover uma economia de baixo carbono que a Climate-KIC, lançada em 2010 pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) da Comissão Europeia, chega agora a Portugal para estimular empreendedores e a comunidade científica e acelerar start-ups portuguesas. As condições para que isso aconteça parecem estar instaladas, com a submissão de propostas a decorrer até 15 de Fevereiro.
“O objectivo é gerar novas ideias de negócio que permitam construir uma economia que não emita gases com efeito de estufa, por forma a podermos alinhar com o Acordo de Paris”, sublinha a líder do projecto europeu em território nacional, Júlia Seixas. A responsável pretende tirar partido do ambiente favorável que se vive em Portugal, fazendo referência ao “movimento imparável de start-ups” do país, e traça o rumo a seguir: “as políticas públicas, com o objectivo de acelerar a transição para uma economia neutra em carbono, deverão apontar para benefícios nas actividades de produção de bens e serviços de baixo carbono e/ou penalizações no sentido oposto”.
Em declarações à Smart Cities, a também docente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL) faz notar que a “transição urbana é uma das áreas prioritárias adoptadas em 2017”. São várias as iniciativas previstas neste âmbito, das quais se destaca a demonstração das soluções apresentadas, e se espera que a comunidade portuguesa de inovadores dê a conhecer “soluções de mercado para a descarbonização na vida urbana” que “serão massivamente divulgadas”.
As empresas seleccionadas pela parceria público-privada europeia usufruem do “triângulo do conhecimento”, formado por entidades ligadas à educação, investigação e mercado, assim como de “uma série de recursos, incluindo financeiros, para impulsionar novas ideias de negócio, apoiar a criação de novas empresas e produtos inovadores”. E não serão apoiados só os inovadores portugueses dentro de fronteiras, mas todos os que se encontrem integrados numa rede europeia. Júlia Seixas garante que há “os recursos e a energia para isso”, acrescentando que “uma boa ideia, para ser válida, não o pode ser só no mercado nacional, mas no mercado internacional” e “as boas ideias, uma vez filtradas e seleccionadas, têm acesso a outros programas mais ambiciosos a nível europeu”.
No que toca à oportunidade para a descarbonização da vida urbana, a líder do Climate-KIC Portugal salienta a Climathon, iniciativa no âmbito do Climate-KIC que promove 24 horas de partilha de experiências e de procura de soluções para os desafios urbanos de várias cidades espalhadas pelo mundo, do planeamento urbano à gestão de resíduos. No final, é escolhida a melhor solução para cada uma das cidades participantes e a expectativa é a de ter, em 2017, três a cinco cidades portuguesas na iniciativa.
Quando questionada sobre se a inovação e a descarbonização são já tendências no mundo das start-ups nacionais, Júlia Seixas revela que “começam a ser, mas ainda pequena escala” e aponta o dedo à falta de um “trabalho de educação sobre o âmbito e objectivos da sustentabilidade e descarbonização em todas as áreas de engenharia”. Mas mostra-se confiante no futuro: “a médio prazo, a inovação para a descarbonização será o mainstream das engenharias”.
Em Portugal, são já oito as empresas seleccionadas e estão, neste momento e até 15 de Fevereiro, abertas as candidaturas para as oito Journeys que terão lugar em 2017.